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Por que os bancos estão lançando tantos ETFs e oferecendo quase de graça para você

Times Square Tickers Frases

2021 promete ser um ano e tanto na bolsa brasileira — e olha que ainda tem chão pela frente até 2022. Não estou falando só dos recordes que chegaram a levar o Ibovespa acima dos 130 mil pontos. Nessa conta também entra a marca de quase 4 milhões de CPFs na bolsa, os mais de 40 IPOs, as dezenas de ofertas públicas, a popularização de certos ativos — como ETFs e BDRs — e a explosão das plataformas de investimento. 

O resultado é um mercado financeiro que trava grandes batalhas pelo seu dinheiro. Bancos e corretoras correm para consolidar o maior número de escritórios de agentes autônomos sob os seus guarda-chuvas e oferecem taxas de corretagem e administração cada vez mais baixas — e, em muitos casos, até mesmo zeradas. 

É bem verdade que essa briga já vem se desenrolando nos últimos anos, mas um novo confronto ganha as manchetes e as carteiras dos investidores. Com uma versatilidade grande, os fundos de índice (ETF, da sigla em inglês Exchange Traded Funds) são a grande aposta dos bancos e corretoras para conquistar a massa de investidores.

Os ETFs são fundos de investimento que utilizam como referencial a ser seguindo um índice específico e são uma alternativa de baixo custo para quem começa a dar os primeiros passos na renda variável — ou procura estratégias específicas para diversificar a sua carteira. 

Uma das pioneiras do segmento no Brasil foi a Itaú Asset, gestora do Itaú Unibanco, que há mais de 15 anos desenvolve e consolida sua presença no mercado.

“Acreditamos muito nesse tipo de produto. ETF não vai servir para todo mundo, mas ele tem um potencial muito grande quando o investidor começa a discutir o termo investimento de uma forma mais estrutural”, afirma Renato Eid, chefe de estratégia beta e integração ESG da Itaú Asset.

Mas a guerra que vemos nos últimos meses não acontece apenas porque os bancos são bonzinhos. Para o emissor de um ETF, é interessante que o fundo ganhe escala: os custos menores implicam em margens de ganho mais enxutas.

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Agora continuando, por aqui, os fundos de índice estão presentes em apenas 0,6% das carteiras dos investidores, contra 18% em mercados desenvolvidos. Para tentar ganhar a tão desejada escala, é na taxa de administração que os bancos estão sendo mais ousados: a disputa é pelo título de menor taxa do mercado. 

A agilidade operacional, facilidade de compra e venda e o custo eficiente foram as principais razões para que os ETFs crescessem na indústria americana. Mas, para Renato Eid, a indústria de fundos brasileiras tem algumas vantagens que podem transformar ainda mais esse mercado:

Quer pagar menos no ETF?

Para se ter uma ideia, dos 43 ETFs de renda variável listados atualmente na bolsa, 20 foram lançados só em 2021. Além disso, também é possível comprar BDRs de fundos de índices internacionais. No campo mais acirrado da disputa, oito deles utilizam como referência o Ibovespa  — com três tendo sido lançados só neste ano. 

E as coisas não devem parar por aí, já que o modelo de investimento ainda tem opções quase ilimitadas para serem exploradas e representa um percentual muito pequeno do volume transacionado diariamente na B3 — nos Estados Unidos, essa fatia chega a quase 40%.

Em 2020, quando existiam apenas cinco fundos de índice que seguiam o Ibovespa, a média das taxas de administração praticadas pelas casas era de 0,30% e, até então, a menor delas era praticada pelo Banco do Brasil, gestor do BOVB11

A concorrência começou a esquentar com o lançamento do BOVX11 pela XP Investimentos em junho de 2021, com a taxa de 0,15% — a menor até aquele momento. 10 dias depois, a Itaú Asset contra-atacou, cortando a taxa do BOVV11 para 0,10%, mas o reinado como ETF mais barato de Ibovespa não teve vida longa.

O BTG Pactual decidiu entrar na indústria de ETFs com uma estratégia agressiva e levou a taxa de administração a 0,03%. Logo na sequência, a XP Investimentos zerou a taxa do seu fundo de Ibovespa até que ele atinja a marca de R$ 1 bilhão em patrimônio — segundo levantamento da Quantum Finance, o BOVX11 tem um patrimônio líquido de cerca de R$ 116 milhões. Depois disso, a corretora voltará a cobrar 0,15% ao ano.

ETFs: entrando para vencer

Enquanto a Itaú Asset já está no mercado de ETFs desde 2004, quando lançou os seus primeiros fundos de índice de renda fixa, foi só no ano passado que o BTG Pactual começou a se movimentar para entrar na competição. E tudo começou com uma mudança significativa na estratégia do banco e no perfil do mercado financeiro brasileiro.

Já é possível notar um número cada vez maior de investidores em renda variável e um apetite crescente pelo pelo mercado de ações — e essa tendência deve continuar para os próximos anos. Com isso em mente, o BTG decidiu entrar na disputa para brigar com os melhores. 

Não éramos tradicionalmente envolvidos com o mercado de varejo, mas muita coisa mudou nos últimos três anos e agora temos uma rede de distribuição mais robusta

Will Landers, sócio e chefe de renda variável da BTG Pactual Asset Management

Ele ainda ressalta a competição acirrada no varejo e no setor de ETFs: Itaú, XP e BlackRock — esta última, referência mundial no assunto —, chegaram antes que o BTG.

Landers também explica que o banco de investimento buscou no exterior as referências para traçar a estratégia a ser adotada por aqui. Quanto à estratégia de atuação, ele diz que o plano é estar presente tanto em ETFs temáticos quanto no mercado mais amplo.

“Para lançar o IBOB11, decidimos ser competitivos e buscar as taxas mais atrativas oferecidas mundo afora. Vimos que nos Estados Unidos os ETFs com mais liquidez do S&P cobram uma taxa de 0,3% e decidimos colocar a taxa mais baixa possível para tentar oferecer esse produto para todos os nossos clientes e tentar participar dessa torta que só cresce que é o investimento em renda variável”. 

Na mesma ocasião do lançamento do ETF de Ibovespa, a companhia também anunciou um ativo que acompanha um índice de empresas de alto crescimento do S&P e que investe em BDRs listados na B3. 

O fantástico mundo dos investimentos temáticos

Investimentos temáticos não são exatamente uma novidade. Os primeiros movimentos nesse sentido começaram por volta do início da década de 90, mas a estrutura dos ETFs e a demanda latente por diversificação dos portfólios favorece o novo boom e variedade de produtos. 

A primeira etapa foi internacionalizar os investimentos com a criação de fundos de índice que acompanham os mercados asiático, americano e europeu. Com essa lacuna bem servida, a busca passou a ser por investimentos de vanguarda.

Esse interesse em diversificar as estratégias tem um pezinho no futuro e os olhos no longo prazo. Para o Itaú, o foco está em quatro pilares principais — saúde, tecnologia, social e investimento responsável. 

Embora o Itaú tenha concentrado os lançamentos no primeiro semestre de 2021, esse é um trabalho de muito mais tempo, já que a gestão de um ETF vai além de apenas replicar algo que já existe ou adaptar estratégias de um fundo tradicional. É preciso que as estratégias sejam eficientes e que a diversificação faça sentido no portfólio dos investidores.

Até o momento, foram cinco estratégias lançadas pelo banco em 2021:

Estamos olhando para o futuro. São teses de investimentos, megatendências que me posiciono agora buscando a concretização de uma economia que está sendo transformada hoje

Renato Eid, gestor de portfólio da Itaú Asset

E não dá para falar em futuro sem falar em criptomoedas: a consolidação desse mercado também é marcada pelos primeiros ETFs do segmento.

Na bolsa brasileira, o primeiro fundo de índice cripto foi o HASH11, da gestora Hashdex, e que é disparado o ETF novato com o maior patrimônio líquido, com cerca de R$ 1,5 bilhão.

Atualmente, também é possível encontrar outros dois fundos de moedas digitais, lançados pela QR Asset: o QTBC11, de bitcoin, e o QETH11, de ethereum. 

Will Landers, do BTG , relembra que como ganhar escala é um dos pontos mais importantes de um ETF para o emissor, muitas vezes encontrar temas com esse potencial pode ser um problema. “Por isso somos cuidadosos e queremos achar temas que não só sejam interessantes como duradouros”.

Confira na tabela todos os lançamentos de ETFs de 2021:

CÓDIGOGESTÃOINÍCIO TAXA COTISTASPATRIMÔNIO LÍQUIDO
EURP11XP15/01/20210,30%14.188R$ 363.050.712,65
ACWI11XP29/01/20210,30%6.589R$ 149.862.718,08
HASH11Hashdex22/04/20210,30%131.730*R$ 1.498.800.000,00*
TECK11Itaú28/04/20210,25%5.596R$ 68.054.388,94
NASD11XP21/05/20210,30%11.855R$ 60.083.441,18
SAET11Safra04/06/20210,25%142R$ 155.365.713,51
HTEK11Itaú09/06/20210,50%591R$ 10.776.893,09
EMEG11XP14/06/20210,30%366R$ 4.232.388,98
DNAI11Itaú16/06/20210,50%370R$ 10.742.161,22
MILL11Itaú16/06/20210,50%376R$ 10.678.217,66
BOVX11XP18/06/20210,00%2.508R$ 115.899.168,64
SHOT11Itaú22/06/20210,50%1.144R$ 14.103.541,00
QBTC11QR
Asset
22/06/20210,75%16.707R$ 146.937.240,64
ASIA11XP25/06/20210,30%495R$ 5.702.079,04
XMAL11XP16/07/20210,30%620R$ 19.562.127,65
REVE11Itaú20/07/20210,50%140R$ 10.186.613,00
IBOB11BTG23/07/20210,03%55R$ 79.600.384,96
GENB11BTG23/07/20210,25%79R$ 9.709.230,68
USTK11Investo27/07/20210,64%6.036R$ 50.594.602,68

*Levantamento realizado pela Quantum Finance até julho de 2021

O que você ganha com a guerra do ETF?

Com o mercado aquecido, quem tende a ganhar é o investidor. Para Eid, da Itaú Asset, a competição deve estar centrada no cliente, sem deixar que a discussão se resuma a declarar que o melhor será sempre o mais barato. 

Comparando com o volume investido em outros países do mundo, o Brasil ainda tem muito espaço para crescer nesse mercado. Landers aponta que, com 4 milhões de CPFs na bolsa, o leque de investidores potenciais é gigantesco, o que deve continuar sendo combustível para mais lançamentos no futuro.  

"A bolsa está crescendo, oferecendo ETFs de nichos locais e também mostrando alternativas para se expor ao mercado internacional. Com uma oferta mais rica de produtos, o consumidor tem mais escolhas de como investir e montar uma carteira super diversificada, com liquidez e que tenha custos baixos.", diz ele.

E as novidades do setor não devem demorar a aparecer. Segundo Landers, o BTG deve anunciar novos produtos nas próximas semanas, com o objetivo de entrar nos mercados que oferecem grande liquidez, mas também apresentando novos temas e teses inovadoras e interessantes. 

“Nosso objetivo é ajudar o investidor a ter acesso a um mercado super eficiente e com custo relativamente baixo, dando um ativo que tem liquidez imediata e bastante diversificação”. 

A Itaú Asset também não deve desacelerar o ritmo de novos lançamentos e promete pioneirismo e temas de vanguarda no segmento de investimento responsável nas novidades que estão no forno e devem ser anunciadas nas próximas semanas. 

Ao comentar sobre a queda da taxa administrativa do fundo de Ibovespa do banco, Renato Eid vê o movimento apenas como um desenvolvimento natural que beneficia o crescimento do mercado.

“A partir do momento que a gente ganha mais maturidade, conseguimos olhar a estratégia que estamos traçando e trazer eficiência para o investidor. Isso leva a um conjunto de fatores que deixa nossa prateleira de produtos mais competitiva e completa”.

Confira a evolução das taxas administrativas dos ETFs de Ibovespa disponíveis no mercado:

GestãoInício20172018201920202021
BOVA11BlackRocknov/080,540,540,30,30,3
XBOV11Caixa Econômica Federalnov/120,50,50,50,50,5
BOVV11Itaújul/160,30,30,30,30,1
BOVB11Bradescojun/190,20,20,2
BBOV11Banco do Brasilnov/200,180,18
SAET11Safrajun/210,25
BOVX11XPjun/210
IBOB11BTG Pactualjul/210,03
MÉDIA0,450,450,330,30,21

Levantamento realizado pela Quantum Finance

ETFs: mais do que uma taxa barata

Embora a guerra dos ETFs reflita em um ambiente de negócios com taxas cada vez mais competitivas, Renato Eid lembra que um bom fundo de índice é mais do que apenas a taxa cobrada e, algumas vezes, o barato pode acabar saindo caro. É preciso olhar para outros ângulos na hora de escolher onde colocar o seu dinheiro. 

Confira algumas dicas indispensáveis:

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