A saída de importantes membros do Ministério da Economia não chegou a pegar o mercado aberto na última quinta-feira (21), mas o EWZ, principal fundo negociado em Nova York que investe em ações brasileiras, recuou 4,81% no pós mercado lá fora, o que é um mau sinal para a bolsa brasileira hoje.
O dólar mirou a divisa dos R$ 5,70 mais um dia e chegou a ser negociado a R$ 5,69 durante algum tempo, mas a notícia da PEC dos precatórios ajudou a reduzir as quedas da bolsa e da moeda norte-americana, que encerrou o dia em alta de 2,16%, a R$ 5,6676. Por sua vez, o Ibovespa fechou o dia em uma queda de 2,75%, aos 107.735 pontos.
O caráter populista das medidas do presidente Jair Bolsonaro, em detrimento do teto de gastos, não chegou a ser surpresa para os investidores. Mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dado aval para furar a regra que limita os gastos do governo foi uma espécie de “gota d’água” para o mercado.
Os negócios devem seguir pressionados pelo risco fiscal, e o investidor deve ficar de olho novamente na curva de juros e na alta do dólar. No exterior, Evergrande é a bola da vez, com o pagamento de alguns milhões da dívida, o que deve aliviar, por hora, o medo de calote.
Debandada
Após o fechamento do mercado no Brasil, foi comunicada a saída de membros importantes do Ministério da Economia. O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, e seus respectivos adjuntos, Gildenora Dantas e Rafael Araujo, pediram exoneração dos cargos na última quinta-feira (21).
A tensão envolvendo o Auxílio Brasil e a flexibilização do teto de gastos colocou a ala política do governo e a equipe econômica de lados opostos do balcão de negociação. A apresentação de um outro auxílio para caminhoneiros, que ameaçam greve no dia 1º de novembro, foi decisiva para a saída dos membros.
A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) criticou o anúncio de ajuda do governo federal para compensar o preço do diesel. “Os caminhoneiros autônomos brasileiros não querem esmolas. Auxílio no valor de R$ 400 não supre em nada as necessidades e demandas da categoria”, destaca a nota assinada pelo presidente do órgão, Wallace Landim “Chorão”, segundo o Broadcast.
Em nota do ministério, foram alegados “motivos pessoais” para a saída de Bruno Funchal e Jeferson Bittencourt, mas a insatisfação de ambos já era conhecida dos mercados.
Analistas afirmam que o pregão desta sexta-feira (22) deve ser muito parecido com o de ontem: a curva de juros deve permanecer sob pressão e os ativos de risco voltam a ser rejeitados, o que deve colocar a bolsa em queda por mais um dia.
Precatórios
A comissão especial que analisa a PEC dos precatórios concluiu a votação do texto no Senado sem alterações, como era esperado, e alterou a regra de correção para o teto de gastos. A proposta agora segue para o plenário da Câmara.
No total, as mudanças devem abrir um espaço de R$ 83,6 bilhões nas contas públicas. Mesmo assim, o caráter eleitoreiro das propostas ficou escancarado com as falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre extrapolar o teto de gastos.
A reforma do Imposto de Renda deve abrir ainda mais espaço no orçamento para financiar esses programas, mas a proposta permanece sem acordo no Congresso. Por fim, a sexta-feira (22) marca oficialmente o início da temporada de balanços no Brasil, com a Hypera divulgando seus resultados do terceiro trimestre após o fechamento.
Fora de casa
O exterior amanheceu sem direção definida, pressionada mais um dia pela gigante do setor imobiliário Evergrande. A incorporadora transferiu fundos para uma conta no Citibank no final desta quinta-feira para o pagamento de títulos com vencimento no sábado (23), segundo informações da Reuters.
A notícia foi bem recebida de maneira mista pelos investidores. Mesmo com o pagamento de alguns milhões, a dívida da empresa segue na casa dos bilhões e o mercado imobiliário chinês está estagnado em virtude da pandemia.
Se a Evergrande quebrar ou der um calote da dívida, pode afetar todo o sistema financeiro em uma reação em cadeia. Alguns analistas afirmam que a gigante incorporadora é “muito grande” para desmoronar, enquanto outros acreditam que o cenário da crise do subprime de 2008 pode se repetir.
Os investidores seguem de olho nas falas dos dirigentes do Federal Reserve, em especial do presidente do BC americano, Jerome Powell. Além disso, ainda hoje devem ser divulgados os índices do gerente de compras (PMI, em inglês) dos Estados Unidos, que devem trazer um panorama da atividade econômica do país.
O PMI é um índice que varia de 0 até 100. Quando o dado vem acima de 50, isso significa que há expansão da atividade analisada e, abaixo, retração.
Bolsas pelo mundo
Os principais índices da Ásia fecharam o último pregão da semana sem direção única, com rumores de que Evergrande, a gigante do setor imobiliário, deve conseguir honrar suas dívidas. Do lado negativo, pesou o fato de que, caso a empresa não consiga pagar esse montante, uma crise no sistema financeiro possa afetar a China e o resto do mundo.
Já a Europa ignora as turbulências da Ásia e as bolsas operam em alta pela manhã, após dados de manufatura melhores do que o esperado.
Por fim, os futuros de Nova York também operam sem direção definida, de olho nos balanços do dia.
Agenda do dia
- Banco Central: Conta corrente do setor externo e investimentos diretos no país (IDP) em setembro (9h30)
- CNI: Utilização da capacidade instalada (10h)
- Estados Unidos: PMI composto preliminar, PMI industrial e de serviços em outubro (10h45)
- África do Sul: Presidente do Fed, Jerome Powell, participa de painel em conferência do Banco de Reserva da África do Sul (12h)
- Estados Unidos: Poços e plataformas de petróleo em atividade (14h)
- Europa: Reunião do Conselho Europeu (sem horário)
Balanços
- Estados Unidos: American Express (antes da abertura)
- Brasil: Hypera (após o fechamento)