A quarta-feira começa com espaço de sobra para uma recuperação dos principais índices de ações pelo mundo depois de um dia ruim para os ativos de risco na véspera. As bolsas de valores europeias operam em alta robusta na esteira de bons resultados corporativos e os índices futuros de Wall Street sinalizam abertura no azul, o que tende a beneficiar os primeiros movimentos do Ibovespa hoje.
Na véspera, bastou a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, admitir durante uma entrevista que “pode ser que as taxas de juro tenham que subir um pouco para assegurar que a economia norte-americana não superaqueça” para muita gente interpretar o “pode ser, contudo, quem sabe” como uma iminente ação do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) nas taxas de juro dos EUA.
Até que ficasse claro se tratar de um comentário sobre uma hipótese, o clima azedou nos mercados financeiros como um todo. Com isso, o principal índice da bolsa brasileira fechou em queda de 1,26%, voltando à faixa dos 117 mil pontos, enquanto o dólar avançou 0,22%, aos R$ 5,4307. A aversão ao risco beneficiou os títulos da dívida norte-americana nos mercados secundários, cujas taxas ontem caíram abaixo do nível psicológico de 1,60%, mas que hoje se recompõem.
Para hoje, com a fala de Yellen fora de cena, há espaço para uma recuperação do Ibovespa – se os riscos locais deixarem, como veremos mais adiante. Lembrando que estão previstas para hoje nos EUA as divulgações do relatório ADP sobre o emprego no setor privado norte-americano e do índice dos gerentes de compra do setor de serviços.
Decisão do Copom sai depois do fechamento
Em relação às taxas de câmbio e de juro, ainda que alguma correção possa entrar no cardápio, esses mercados devem andar de lado à espera da decisão de juro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), prevista para depois do fechamento da sessão de hoje.
Como o mercado já contratou uma alta 75 pontos-base da taxa Selic na reunião desta semana, de 2,75% para 3,50% ao ano, as atenções dos investidores estão voltadas para as sinalizações sobre os passos da autoridade monetária no comunicado sobre a decisão. O fato é que o aperto monetário deverá ser diluído ao longo do ano. Resta conhecer a dosagem do remédio.
Reforma tributária volta à estaca zero
Quanto ao Ibovespa, apesar dos bons ventos vindos de fora, o Brasil vai confirmando dia sim e outro também a fama de não ser lugar para amadores.
O fim da novela sobre o Orçamento, no fim do mês passado, abriu espaço para o andamento de reformas econômicas prometidas desde o início do governo Jair Bolsonaro e exigidas pelos agentes do mercado financeiro. Ontem, a expectativa era de que houvesse algum avanço da reforma tributária. O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator da proposta, até apresentou seu parecer. Logo em seguida, porém, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) declarou extinta a comissão mista que analisava a proposta, invalidando o relatório de Ribeiro.
Ainda que faça parte da estratégia do governo para fatiar a reforma e tentar de algum modo facilitar a aprovação, a ação se encaixa melhor nos objetivos de Centrão, uma vez que, além de relançar a reforma de volta à estaca zero, tende a aumentar o poder de barganha deste singelo grupo de partidos fisiológicos sobre o Palácio do Planalto.
Teich depõe perante CPI da pandemia
Não bastasse isso, a CPI da pandemia seguirá adiante hoje com o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. Ele deveria ter comparecido ontem à CPI, mas o depoimento de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, foi tão longo quanto constrangedor para o governo federal em um dia no qual o número de mortos pela pandemia passou de 410 mil.
Mais constrangedor, porém, foi o pretexto buscado por outro ex-ministro, Eduardo Pazuello, na tentativa de não depor presencialmente: apenas alguns dias depois de ser flagrado passeando sem máscara por um shopping de Manaus, ele alegou ter entrado em contato recente com pessoas que testaram positivo para coronavírus. E segue o show de horror.
Balanços e indicadores
No mundo dos balanços corporativos, o Bradesco voltou a superar o concorrente Itaú e apresentou lucro de R$ 6,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano.
Entre os resultados trimestrais previstos para hoje na B3, destacam-se Braskem, Copel, Engie, Gerdau, Pão de Açúcar, Taese, TIM, Totvs e Ultrapar.
Atenção também para os dados oficiais do IBGE para a produção industrial brasileira em março.