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Golpe duro: CVC (CVCB3) despenca 7% após o fiasco da Itapemirim (ITA) e da Anac

Fachada de loja da CVC (CVCB3)

Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas a CVC (CVCB3) certamente discorda do ditado. Afinal, após o apuro que a empresa de viagens passou com a falência da Avianca Brasil, ela vê a história se repetir com a suspensão repentina das operações da Itapemirim (ITA) — e, como resultado, suas ações caem forte nesta segunda-feira (20).

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Por volta de 12h30, os papéis CVCB3 recuavam 6,91%, a R$ 14,14, e apresentavam o pior desempenho entre todos os ativos do Ibovespa; no mesmo horário, o índice tinha baixa de 2,13%. Com a forte queda do momento, as ações da companhia agora amargam perdas de 27% no ano.

O fiasco envolvendo a ITA é apenas mais um duro golpe na CVC, que vem lidando com uma série de problemas internos e externos nos últimos anos. Falência da Avianca Brasil, pandemia, disparada no dólar, inconsistências contábeis nos balanços, troca de diretoria, alta no combustível de aviação... Uma espécie de tempestade perfeita — e duradoura — que ganhou mais um componente neste fim de semana.

O xis da questão, agora, é a realocação dos clientes. Suponha que você fechou um pacote de viagens com a companhia que incluía passagens aéreas e hospedagem — e que os bilhetes eram justamente da ITA. Para a CVC, há duas alternativas: cancelar os contratos e lidar com as compensações ou recolocar os passageiros em outros voos.

Como a primeira opção seria péssima, tanto em termos financeiros quanto de reputação, resta o segundo caminho. E é justamente isso que a CVC tem tentado fazer, ainda que aos trancos e barrancos.

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"Por suas unidades de negócio, a CVC Corp tem buscado atender seus clientes de forma ativa e emergencial desde o início do incidente", disse a companhia, em nota, afirmando que disponibilizou voos fretados adicionais e entrou em contato com outras companhias aéreas para reacomodar os passageiros afetados.

Itapemirim (ITA) e Anac: de quem é a culpa?

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorizou o início das operações da ITA em maio deste ano — o primeiro voo foi realizado no dia 29 de junho — a companhia aérea, portanto, não durou nem seis meses. O aval foi dado pelo órgão regulador mesmo com o longo histórico de problemas financeiros do grupo.

Um dos mais tradicionais operadores do transporte rodoviário brasileiro, a Itapemirim está em recuperação judicial desde 2016 — um status que, a priori, não impede a Anac de conceder o registro aéreo a uma empresa. Dito isso, chama a atenção uma declaração dada pela própria agência ao Broadcast, ainda em fevereiro de 2020.

Na ocasião, o presidente do grupo Itapemirim, Sidnei Piva, começava a revelar seus planos para a abertura de uma companhia aérea. Questionada pela Broadcast, a Anac disse, em nota, que empresas em recuperação judicial "podem apresentar dificuldades em obter as certidões que comprovem sua regularidade fiscal, previdenciária e trabalhista, exigidas para aprovação".

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E o que mudou de lá para cá? A resposta é complexa. Há, sem dúvida, um componente de preocupação com a malha aérea do país, dada a falência da Avianca Brasil, a recuperação judicial da Latam e as dificuldades financeiras de Gol e Azul em meio à pandemia — a entrada de mais um player no setor, assim, seria providencial.

Tanto é que a concessão do aval da Anac à ITA foi comemorado pelo governo: em outubro de 2020, os planos de expansão do grupo Itapemirim para o modal aéreo foram comemorados pelo presidente Bolsonaro, numa live transmitida pelo YouTube; o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, participou da transmissão.

Seja como for, fato é que a ITA tinha mais de 500 vos programados entre o último dia 17 — data em que a empresa informou a suspensão das operações — e o dia 31 de dezembro. Ou seja, falamos de cerca de 80 mil passageiros que tiveram seus planos de fim de ano alterados, dos quais uma parte têm ligação com a CVC.

Da esquerda para a direita: Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas; Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes; e presidente Jair Bolsonaro, em live realizada em outubro de 2020. A miniatura do ônibus da Itapemirim foi usada para revelar os planos de concessão de aval ao grupo para operação de uma companhia aérea

Caos aéreo

Ao longo do fim de semana, sites e canais de TV mostraram uma situação caótica no aeroporto internacional de Guarulhos, com passageiros da ITA reivindicando esclarecimentos por parte da companhia e das autoridades.

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A questão é que o procedimento adotado pela Itapemirim, com um apagão completo das operações sem qualquer aviso prévio, pegou todos o sistema aéreo de surpresa — e empresas de turismo, como a CVC, se viram no centro de um enorme problema. Em comunicado emitido na noite de sexta (17), a empresa disse apenas que a decisão foi tomada "por necessidade de ajustes operacionais".

Em notas enviadas ao longo do fim de semana, a empresa disse estar prestando assistência aos passageiros afetados e orientando-os a não irem aos aeroportos — depoimentos colhidos pela imprensa, no entanto, deram a entender que a empresa era muito pouco útil em termos de ajuda aos clientes.

A Anac, por sua vez, lavou as mãos e limitou-se a dizer que a ITA foi "intimada a cumprir medidas para assistência aos passageiros que adquiriram bilhetes aéreos da companhia e a prestar à Agência informações atualizadas sobre as ações previstas para honrar os bilhetes vendidos e reacomodação dos seus clientes".

Vale lembrar que o setor aéreo é particularmente difícil, dada a grande quantidade de fatores externos que podem afetar as finanças das companhias. A variação do dólar e do preço do petróleo mexem diretamente com os gastos com combustível de aviação (QAV); grande parte dos custos relacionados às aeronaves também é orçado em dólares.

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Além disso, um mês após o início das operações da ITA, surgiram as primeiras notícias de dificuldade financeira da recém-criada companhia aérea, com atrasos no pagamento de funcionários — um sinal de que algo não ia bem.

O problema, infelizmente, estourou às vésperas do natal, causando um enorme estrago ao setor aéreo do país e ao planejamento de milhares de brasileiros no fim do ano.

Avião da Itapemirim Linhas Aéreas (ITA) no Aeroporto de Guarulhos. Fonte: Instagram

CVC (CVCB3): problemas e mais problemas

Mas voltemos à CVC (CVCB3): para piorar a situação, 25 voos da Latam foram cancelados ao longo do fim de semana após uma falha no sistema de iluminação no aeroporto de Guarulhos, aumentando ainda mais a escassez aérea e a dificuldade para remanejar os passageiros afetados pela Itapemirim.

Por fim, há ainda uma preocupação maior com a pandemia: a variante Ômicron tem gerado uma nova onda de restrições na Europa, e há o temor de que essa dinâmica seja replicada no restante do mundo ao longo dos próximos meses. O que, se concretizar, provocaria uma nova turbulência no setor de turismo, justamente na época de maior demanda por viagens.

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Tanto é que as ações ON da CVC (CVCB3) já se aproximam das mínimas do ano, recuando quase 50% em relação aos patamares vistos em julho. Veja o gráfico abaixo:

Segundo dados do TradeMap, os papéis CVCB3 têm uma recomendação de compra, três de manutenção e uma de venda. O preço-alvo médio é de R$ 23,75, o que representa um potencial de alta de 67% em relação aos patamares atuais — a estimativa mínima, no entanto, é de R$ 8,00.

Em termos de valuation, o EV/Ebitda estimado para CVCB3 ao fim de 2022 é de 4,7 vezes, acima da média de três anos para as ações, de 3,1 vezes.

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