Diante da enorme crise de liquidez mundial causada pela rápida proliferação do coronavírus, os investidores foram atrás de maior segurança. Uma das opções mais procuradas durante o período foi a alocação de uma parcela da carteira em dólar. Mas teve também quem buscou ativos menos correlacionados a investimentos tradicionais, como as criptomoedas.
Porém, em um momento de extrema incerteza, um tipo especial de criptoativo acabou ganhando maior destaque. Do começo do ano para cá, as stablecoins - ativos que funcionam como representações de moedas fiduciárias tradicionais no mundo das moedas digitais - viram o seu volume de negociações e o valor de mercado aumentar de forma significativa.
Entre as moedas que mais apresentaram alta na demanda durante o período estão o Tether. De janeiro até o começo de maio, o valor de mercado da criptomoeda saltou de US$ 4,1 bilhões para US$ 6,4 bilhões. E o volume de negociações passou de US$ 24,2 bilhões para US$ 57,8 bilhões.
Outra criptomoeda que teve uma evolução considerável neste começo de ano e que ficou em segundo lugar entre os maiores aumentos de demanda foi o USDC criado pela Coinbase.
O criptoativo viu o seu valor de mercado saltar de US$ 518,5 milhões no fim do ano passado para US$ 707,7 milhões no começo deste mês. O volume de negociações também teve forte expansão e passou de US$ 267 milhões para US$ 527,3 milhões até o último sábado (9).
Entre as razões para o crescimento da demanda por esse ativos está a fuga massiva de investidores de todo o mundo para ativos considerados um pouco mais seguros e líquidos.
Em carta divulgada no começo deste mês, a gestora Hashdex, que trabalha com fundos de criptoativos, destacou que as stablecoins atreladas ao dólar chamaram a atenção por oferecer uma combinação de fatores importante para enfrentar a crise de liquidez aguda que passa o mundo.
"Esse ativos proporcionam exposição à moeda norte-americana, combinada com características positivas dos criptoativos em geral, como a resistência à censura ou confisco, ausência de barreiras nacionais, portabilidade e transferibilidade", afirmou a gestora no documento.
Outro ponto destacado na carta é que tais ativos apresentam certa vantagem em relação ao dólar de fato. Segundo a casa, as taxas de juros que são praticadas por esses criptoativos estão em torno de 6% ao ano. Ou seja, a criptomoeda não serve apenas como reserva de valor, mas também oferece rendimentos a quem opta por investir nela.
E o movimento não ficou restrito às stablecoins. A Hashdex afirmou ainda que a expansão delas pode ter impactado a cotação do Ether no ano, que subiu mais de 86% no ano. A razão é que cerca de 80% dos valores transacionados na blockchain do Ethereum são de criptoativos atrelados ao dólar.
"O aquecimento recente do segmento impulsionou a média diária do volume total movimentado na rede, que cresceu mais que 50% desde o início do ano, chegando ao mesmo patamar da rede do bitcoin", afirmou a gestora na carta divulgada aos clientes.