O pânico generalizado que toma conta das bolsas nesta segunda-feira (16) também é visto no mercado de câmbio: o dólar à vista abriu em forte alta e, no meio da tarde, superou a barreira psicológica dos R$ 5,00.
Por volta das 16h00, a moeda americana era negociada a R$ 5,0215, em alta de 4,24% — muito perto da máxima intradiária nominal da moeda, de R$ 5,0280, registrada na última quinta-feira (12).
As negociações de divisas encontram-se fortemente estressadas com o avanço do coronavírus pelo mundo. Na Europa, países como Itália e Espanha já estão em quarentena total, enquanto França e Alemanha analisam opções semelhantes; nos Estados Unidos, o número de casos está aumentando numa velocidade bastante elevada.
Nesse cenário, o mercado já não tem mais esperanças quanto a uma eventual resistência da economia global aos impactos da doença. O setor aéreo sofre pesadas restrições e o comércio internacional encontra-se comprimido, dada a queda no consumo e, consequentemente, da demanda.
A tensão aumentou no domingo (15), a partir de mais um corte extraordinário nos juros dos EUA. E, desta vez, o Federal Reserve (Fed) foi ainda mais radical, zerando as taxas do país — vale ressaltar que a reunião de política monetária ocorrerá nesta quarta-feira (18).
A medida, em tese, serve para blindar a economia dos EUA, fornecendo estímulo extra à atividade. Mas, dada a dramaticidade do movimento, o mercado interpreta que a situação no país é bem pior do que a oficialmente comunicada pelo governo, o que apenas gerou pânico.
Em resumo: o mercado, hoje, duvida da eficácia do Fed para trazer alívio à economia, em meio à condução confusa do governo americano em relação ao surto do coronavírus.
Estresse doméstico
Por aqui, a escalada nos atritos entre governo e Congresso também contribui para trazer pessimismo aos investidores. No domingo, apesar da preocupação com o coronavírus, foram vistas diversas manifestações populares em defesa da administração Bolsonaro — protestos que contaram com o apoio e presença do presidente.
Tanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quanto do Senado, Davi Alcolumbre, manifestaram-se publicamente contra esses protestos e mostraram que o ambiente em Brasília está cada vez mais deteriorado.
E, nesse cenário, o mercado mostra-se cada vez mais pessimista quanto aos prognósticos para a economia doméstica e para a continuidade da agenda de reformas — além, é claro, da preocupação crescente quanto à saúde pública no país.