“As pessoas subestimaram o risco de um bear market”, diz gestor da Rosenberg
Eric Hatisuka, gestor da Rosenberg Asset Management, vê um cenário pessimista adiante, com um bear market prevalecendo no Ibovespa e nas bolsas globais. Para ele, os mercados já estavam ‘esticados’ demais e, com os riscos do coronavírus e do petróleo, a correção é iminente
Desde a noite de domingo (8), já estava claro que o Ibovespa e as bolsas globais teriam uma sessão das mais turbulentas nesta segunda-feira (9): o petróleo estava em colapso, as bolsas da Ásia derretiam e um tom de consternação tomava conta dos grupos de WhatsApp que discutem o mercado financeiro.
E, de fato, as projeções mais pessimistas se tornaram realidade: o Ibovespa desabou 10% pouco depois da abertura, com o circuit breaker sendo acionado pela primeira vez desde 2017; o dólar à vista disparou e ficou a um triz dos R$ 4,80 no momento de maior tensão.
Há quem veja o atual momento como uma "correção pontual", em meio aos riscos ligados ao coronavírus e à queda de braço entre Arábia Saudita e Rússia em relação ao preço do petróleo — para os otimistas, assim que tais pontos de atrito forem superados, os mercados voltariam a buscar as máximas.
Mas também há quem enxergue um futuro mais pálido para as bolsas globais. É o caso de Eric Hatisuka, gestor da Rosenberg Asset Management — ele conversou comigo no início da tarde e revelou que já tinha uma visão pessimista dos mercados desde o ano passado.
Uma das mentes por trás do Rosenberg Macro, um fundo multimercado que acumulava ganhos de 10,79% em 2020 até a sessão da última sexta-feira (6) — no mesmo período, o Ibovespa teve perdas de 15,26% —, Hatisuka aposta que as principais bolsas vão entrar num bear market. Ou seja: para ele, o tom negativo veio para ficar.
"Vejo uma correção de 30% a 50% em relação às máximas de janeiro", me disse Hatisuka, por telefone — uma visão que se aplica tanto ao Ibovespa quanto às bolsas americanas.
Leia Também
Fazendo algumas contas rápidas: a máxima histórica do índice brasileiro foi registrada em 23 de janeiro, aos 119.527 pontos. Assim, 30% de baixa em relação a esse nível jogaria o Ibovespa para a faixa de 83 mil pontos; 50% de queda empurraria-o para perto dos 60 mil pontos.
E, de fato, Hatisuka acredita que o Ibovespa deverá cair aos 70 mil pontos em 12 meses, caso concretizado o cenário do bear market. "Eu vendo bolsa [com o Ibovespa] acima de 95 mil pontos, e compro abaixo dos 80 mil".
Fora da realidade
Essa visão pessimista do gestor da Rosenberg se deve à percepção de que os mercados estavam descolados da realidade e muito "esticados" — ou seja, com níveis de preço elevados demais, considerando o enfraquecimento das principais economias do mundo.
Para Hatisuka, as bolsas globais só se mantiveram em alta no último ano por causa dos estímulos e alívios monetários concedidos pelos bancos centrais, com um forte ciclo de corte de juros no mundo.
Assim, por mais que a guerra comercial e a desaceleração econômica na China inspirassem cautela, a ação coordenada dos BCs "blindou" os mercados acionários, criando um descolamento de preços em relação à realidade.
"Isso fez o mercado ficar artificial, ele deixou de refletir a realidade", disse Hatisuka. "[Nesse cenário], um choque qualquer pode precipitar toda a correção".
Gatilho para o bear market
O especialista da Rosenberg pondera que o surto global de coronavírus, por si só, não é um problema para os mercados. A doença misteriosa, que se alastra cada vez mais pelo mundo, funcionou como um gatilho — a primeira peça que desencadeia um efeito dominó.
Veja o exemplo da Itália, que já conta com mais de nove mil casos confirmados e 463 mortes em função do coronavírus. Em meio ao surto, o governo colocou quase toda a região norte do país em quarentena — incluindo regiões como Veneza e Milão.
Para Hatisuka, o problema da quarentena é a paralisação prolongada que esse estado de isolamento traz à economia, com o comércio e a atividade produtiva sendo forçados a assumir um ritmo quase letárgico. "Empresas pequenas e médias ficam sem caixa, sem faturamento, sem liquidez. Pode virar um problema de solvência".
Ao todo, já são mais de 113 mil pessoas infectadas no mundo, com quase quatro mil óbitos em função da nova doença. Empresas como Apple e Microsoft já admitiram que o coronavírus trará impactos aos resultados do primeiro trimestre.
Mas há outros indicadores mais práticos que dialogam com a visão negativa de Hatisuka. Na Itália, por exemplo, todos os eventos esportivos ocorrerão com portões fechados até abril; em Hollywood, o novo filme do 007, que estrearia ainda em março, foi adiado em oito meses — afinal, em meio ao risco de contaminação, o lazer fica em segundo plano.
Mesmo o choque do petróleo, em última análise, é derivado do risco coronavírus. Afinal, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) só se reuniu para discutir possíveis cortes na produção da commodity porque os preços estavam em baixa — e essa queda se deve à possível diminuição da demanda por causa do surto da doença.
"Não acho que teremos uma crise sistêmica, mas acho que entramos na crise atual com o mercado mais sobrevalorizado do que em 2008." — Eric Hatisuka, gestor da Rosenberg Asset Management
E agora?
O gestor aconselha que, no atual momento de forte turbulência dos mercados, é melhor não mexer nos investimentos em bolsa — para ele, qualquer período de calmaria no futuro próximo deve ser encarado como uma "janela de oportunidade" para ajustar o portfólio.
Por mais que, nessa segunda-feira, o cenário seja quase apocalíptico nos mercados globais, momentos de maior tranquilidade — e eventual alta — também serão vistos daqui para frente.
Afinal, não é razoável pensar que todos os dias serão de queda livre. No entanto, no médio prazo, ele se mostra convencido de que a tendência é de acomodação dos mercados acionários em níveis mais baixos.
Hatisuka ainda pondera que a situação do Brasil é um pouco melhor que a das bolsas americanas — por aqui, as reformas econômicas e a perspectiva de retomada do crescimento, ainda que lento, ajudam a amortecer parte do pessimismo externo. Ele, no entanto, não vê mais o Ibovespa com o vigor dos últimos meses.
Quanto ao dólar à vista, ele aposta que, num cenário de bear market, a moeda americana poderá chegar à marca de R$ 5,20 a R$ 5,40 em 12 meses — o que torna a divisa uma boa opção defensiva no momento, junto de ativos mais seguros, como o ouro.
"As pessoas subestimaram o risco de um bear market", diz o gestor da Rosenberg. "Temos uma crise séria pela frente, e que pode vir para ficar. Vamos nos debater com os efeitos secundários do coronavírus e o estresse financeiro".
Itaú (ITUB4) continua o “relógio suíço” da bolsa: lucro cresce, ROE segue firme e o mercado pergunta: é hora de comprar?
Lucro em alta, rentabilidade de 23% e gestão previsível mantêm o Itaú no topo dos grandes bancos. Veja o que dizem os analistas sobre o balanço do 3T25
Depois de salto de 50% no lucro líquido no 3T25, CFO da Pague Menos (PGMN3) fala como a rede de farmácias pode mais
O Seu Dinheiro conversou com o CFO da Pague Menos, Luiz Novais, sobre os resultados do terceiro trimestre de 2025 e o que a empresa enxerga para o futuro
FII VGHF11 volta a reduzir dividendos e anuncia o menor pagamento em quase 5 anos; cotas apanham na bolsa
Desde a primeira distribuição, em abril de 2021, os dividendos anunciados neste mês estão entre os menores já pagos pelo FII
Itaú (ITUB4) perde a majestade e seis ações ganham destaque em novembro; confira o ranking das recomendações dos analistas
Após voltar ao topo do pódio da série Ação do Mês em outubro, os papéis do banco foram empurrados para o fundo do baú e, por pouco, não ficaram de fora da disputa
Petrobras (PETR4) perde o trono de empresa mais valiosa da B3. Quem é o banco que ‘roubou’ a liderança?
Pela primeira vez desde 2020, essa companhia listada na B3 assumiu a liderança do ranking de empresas com maior valor de mercado da bolsa brasileira; veja qual é
Fundo imobiliário GARE11 vende 10 imóveis, locados ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), por R$ 485 milhões
A venda envolve propriedades locadas ao Grupo Mateus (GMAT3) e ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), que pertenciam ao FII Artemis 2022
Ibovespa atinge marca inédita ao fechar acima dos 150 mil pontos; dólar cai a R$ 5,3574
Na expectativa pela decisão do Copom, o principal índice de ações da B3 segue avançando, com potencial de chegar aos 170 mil pontos, segundo a XP
A última dança de Warren Buffett: ‘Oráculo de Omaha’ vai deixar a Berkshire Hathaway com caixa em nível recorde
Lucro operacional da Berkshire Hathaway saltou 34% em relação ao ano anterior; Warren Buffett se absteve de recomprar ações do conglomerado.
Ibovespa alcança o 5º recorde seguido, fecha na marca histórica de 149 mil pontos e acumula ganho de 2,26% no mês; dólar cai a R$ 5,3803
O combo de juros menores nos EUA e bons desempenhos trimestrais das empresas pavimenta o caminho para o principal índice da bolsa brasileira superar os 150 mil pontos até o final do ano, como apontam as previsões
Maior queda do Ibovespa: o que explica as ações da Marcopolo (POMO4) terem desabado após o balanço do terceiro trimestre?
As ações POMO4 terminaram o dia com a maior queda do Ibovespa depois de um balanço que mostrou linhas abaixo do que os analistas esperavam; veja os destaques
A ‘brecha’ que pode gerar uma onda de dividendos extras aos acionistas destas 20 empresas, segundo o BTG
Com a iminência da aprovação do projeto de lei que taxa os dividendos, o BTG listou 20 empresas que podem antecipar pagamentos extraordinários para ‘fugir’ da nova regra
Faltou brilho? Bradesco (BBDC4) lucra mais no 3T25, mas ações tombam: por que o mercado não se animou com o balanço
Mesmo com alta no lucro e na rentabilidade, o Bradesco viu as ações caírem no exterior após o 3T25. Analistas explicam o que pesou sobre o resultado e o que esperar daqui pra frente.
Montanha-russa da bolsa: a frase de Powell que derrubou Wall Street, freou o Ibovespa após marca histórica e fortaleceu o dólar
O banco central norte-americano cortou os juros pela segunda vez neste ano mesmo diante da ausência de dados econômicos — o problema foi o que Powell disse depois da decisão
Ouro ainda pode voltar para as máximas: como levar parte desse ganho no bolso
Um dos investimentos que mais renderam neste ano é também um dos mais antigos. Mas as formas de investir nele são modernas e vão de contratos futuros a ETFs
Ibovespa aos 155 mil pontos? JP Morgan vê três motores para uma nova arrancada da bolsa brasileira em 2025
De 10 de outubro até agora, o índice já acumula alta de 5%. No ano, o Ibovespa tem valorização de quase 24%
Santander Brasil (SANB11) bate expectativa de lucro e rentabilidade, mas analistas ainda tecem críticas ao balanço do 3T25. O que desagradou o mercado?
Resultado surpreendeu, mas mercado ainda vê preocupações no horizonte. É hora de comprar as ações SANB11?
Ouro tomba depois de máxima, mas ainda não é hora de vender tudo: preço pode voltar a subir
Bancos centrais globais devem continuar comprando ouro para se descolar do dólar, diz estudo; analistas comentam as melhores formas de investir no metal
IA nas bolsas: S&P 500 cruza a marca de 6.900 pontos pela 1ª vez e leva o Ibovespa ao recorde; dólar cai a R$ 5,3597
Os ganhos em Nova York foram liderados pela Nvidia, que subiu 4,98% e atingiu uma nova máxima. Por aqui, MBRF e Vale ajudaram o Ibovespa a sustentar a alta.
‘Pacman dos FIIs’ ataca novamente: GGRC11 abocanha novo imóvel e encerra a maior emissão de cotas da história do fundo
Com a aquisição, o fundo imobiliário ultrapassa R$ 2 bilhões em patrimônio líquido e consolida-se entre os maiores fundos logísticos do país, com mais de 200 mil cotistas
Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34) são os bancos brasileiros favoritos dos investidores europeus, que veem vida ‘para além da eleição’
Risco eleitoral não pesa tanto para os gringos quanto para os investidores locais; estrangeiros mantêm ‘otimismo cauteloso’ em relação a ativos da América Latina
