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Manifestações de domingo: Várias versões para o mesmo fato

protestos bolsonaro 26/5/19

Mais importante que o fato são as versões do fato. O fato é que tivemos massivas manifestações favoráveis ao presidente, à reforma da Previdência e contrárias ao que podemos chamar de “velha política”. Agora, veremos um desfile de versões e possíveis consequências práticas geradas por esse fato.

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Começando pelo mercado, não me parece relevante se a manifestação de ontem foi maior ou menor que os protestos do dia 15. O que está em jogo não é nem mais a aprovação da reforma da Previdência, mas sim qual será a potência da reforma.

Alguma pista pode vir nesta semana, já que acaba o período de emendas ao texto da Comissão Especial e o relator, Samuel Moreira (PSDB-SP) deve ter algum desenho sobre seu relatório a ser apresentado até o dia 15 de junho.

No lado da política, no entanto, o quadro é mais complexo e não dá para “cravar” o que pode acontecer. Temos a demonstração de que parcela significativa da população está disposta a sair de casa para cobrar a classe política.

Quem capitaliza é o próprio presidente Jair Bolsonaro, que apesar de ser político de carreira, foi o candidato que melhor soube captar esse “barulho” das ruas contra a própria política, que foi completamente e corretamente estigmatizada pelo “toma lá, dá cá” e pela busca do poder em benefício próprio, totalmente divorciada do que seriam os anseios populares.

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O risco aqui é esse movimento popular levar a algum novo episódio de tensionamento na relação do Executivo com o Congresso, já que Bolsonaro representa essa “não política” no imaginário popular.

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Já vimos diversos episódios desses ao longo do ano, sendo o mais recente deles há duas semanas. Nesses episódios temos Bolsonaro em posição antagônica à de Rodrigo Maia, que aliás foi alvo da insatisfação popular.

Nesses momentos de tensionamento, assistimos a trocas de caneladas, com repercussão nos mercados. Mas depois o presidente e Maia fazem gestos de aproximação e a temperatura abaixa, embora nas franjas sigamos vendo reclamações de deputados e de membros do governo.

Podemos continuar vendo esses eventos como um natural choque de acomodação até que se chegue a um bom termo entre uma relação construtiva entre Executivo e Legislativo que contemple a lógica da política, que é o poder, sem necessariamente desaguar em negociações espúrias, “toma lá, dá cá” e outros vetores pouco republicanos.

No Congresso

Algum aceno sobre esse risco de tensionamento nas relações pode vir ao longo da semana, já que teremos pautas relevantes em discussão no Congresso.

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No Senado, tem de ser apreciada a medida provisória 870, que faz a reorganização administrativa e tirou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de Sergio Moro. Bolsonaro já pediu para os senadores, notadamente os do seu partido, respeitarem as alterações e aprovar o texto como está.

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Também devemos ter a discussão sobre a MP que trata do saneamento básico e de outra medida que busca coibir fraudes no sistema previdenciário.

Tudo isso pode virar cavalo de batalha política a depender de qual versão do fato vier a ganhar mais força dentro do Congresso.

Os parlamentares podem ficar melindrados por serem alvo de manifestações ou tentar manter ou reafirmar a postura pragmática de ter um Congresso cada vez mais independe do Executivo.

Um amigo com vivência na Câmara, me falou que o Congresso deve "tocar a bola de lado" ao longo da semana, até para não passar a mensagem de que pressão das ruas fazem a Casa "tremer". Por outro lado, se a ideia é mostrar independência e foco em pautas importantes para o país, nada deveria mudar, mas seria esperar demais da política.

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Max Weber afirma que aquele que procura a salvação das almas, sua e do próximo, não deve procurá-la nas avenidas da política. Por aqui, parece não haver alternativa.

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