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Análise técnica funciona? Veja o que diz a ciência

De 32 estudos sobre o tema, 22 tiveram resultados favoráveis. Ou seja, dá para tirar proveito desse método para investir em ações.

21 de outubro de 2018
6:06 - atualizado às 16:57
Neymar comemora gol em partida pela Seleção Brasileira - Imagem: CBF/Fotos Públicas

Imagine que um medicamento em fase de testes é capaz de curar 60% a 70% dos pacientes com determinada doença. Você diria que ele funciona? Ou iria descartar essa solução já que ela não resolveu o problema em 100% das ocasiões?

O mesmo raciocínio se aplica ao futebol. E se o atacante do seu time acertasse 70% dos chutes ao gol? Isso estaria bom para você? Me parece um número bem favorável.

E se uma produtora de filmes emplacasse sete sucessos de bilheteria a cada dez lançamentos, e o lucro obtido com os blockbusters cobrisse com folga as perdas nos outros três. Essa empresa estaria satisfeita com seus resultados?

Agora vamos pensar nos seus investimentos. E se você tivesse um método para prever o movimento de preço  das ações e ele acertasse 70% das vezes? Parece bom, não? E dá para ganhar dinheiro se você souber tirar proveito.

Eu estou falando da análise técnica, ou análise gráfica, como preferir. Ela classifica de forma gráfica o histórico da movimentação dos preços e volumes negociados do ativo. É um dos métodos usados para prever o comportamento futuro de preços de ativos.

Exemplo - Gráfico diário IBOV

Análise gráfica do Ibovespa/ Fonte: Nelogica - Imagem: Shutterstock

É verdade que existem outras técnicas para prever o preço no futuro, tais como análise fundamentalista, utilização de modelos estatísticos e leitura de fluxo de ordens, sendo esse último método aplicado principalmente para operações de curtíssimo prazo.

Análise técnica dá certo?

Há uma frequente (e antiga) discussão acerca da efetividade da análise técnica. Eu mesmo ouço questionamentos desde que comecei a estudar o tema, em 2006. Desconfio até que isso já esteja comemorando um século de opiniões controversas.

Grupos em redes sociais, vídeos no YouTube, ambientes empresariais e acadêmicos concentram discussões, muitas vezes fervorosas, sobre o tema. Mas, afinal, como responder à pergunta que encabeça este artigo: análise técnica funciona?

Primeiro, entendo que seja necessário definir o que é “funcionar” nesse contexto. Se funcionar significa acertar 100% das vezes, ou seja, antever com precisão todos os movimentos (altas ou baixas) que estão por vir, já posso adiantar que as coisas não são bem assim. E os exemplos que eu citei no início do texto mostram que em áreas tão divergentes quanto a medicina e o futebol o conceito de “funcionar” não se traduz em solucionar determinado problema 100% das vezes.

Mas como fazemos para testar a análise técnica? É possível utilizar metodologia científica para validar os resultados?
Sim, há testes que comprovam a sua eficácia. No livro Encyclopedia of Chart Patterns, o autor Thomas N. Bulkowski mostra o resultado de diversos testes de padrões gráficos durante 14 anos em mais de 500 ações americanas. A taxa de acerto (conseguir prever o próximo movimento) atingiu níveis elevados, de 80% a 90% das vezes. A obra tem duas edições, a primeira, publicada em 2000, e a segunda, revista e ampliada, em 2005.

Parece interessante, não?

Queria eu, pobre mortal, ter uma taxa de acertos dessa nas decisões que tomo ao longo da minha vida!
Agora, mudando um pouco de perspectiva, vamos à academia.

O que diz a ciência?

Eu estudei o tema na minha dissertação de mestrado, defendida em 2012. Levantei as diversas pesquisas acadêmicas sobre análise técnica, publicadas no Brasil e no exterior. Em uma amostra de 18 pesquisas acadêmicas nacionais, entre artigos em revistas, dissertações e teses, dez validam a análise técnica como ferramenta de predição de movimentos futuros dos preços.

Em relação às pesquisas no exterior, foram citados 12 trabalhos - dez deles apontam a eficácia da análise técnica.
Depois de 2012, encontrei apenas duas pesquisas científicas sobre o tema no Brasil. E ambas têm conclusões a favor do método.

Isso quer dizer que, de 32 estudos acerca do tema, 22 sinalizaram resultados favoráveis à análise técnica. Ou seja, 68,7% deles.

Seriam esses 68,7% um bom parâmetro?

Lembra dos percentuais de acerto no desenvolvimento de fármacos, dos chutes a gol do atacante do seu time e dos lançamentos de filmes?

Comparando coisas bem diferentes, entendo que existem fenômenos que aceitam uma taxa de acerto nessa ordem. Em alguns outros casos, é necessário buscar os 100% de acerto, por exemplo, na segurança da aviação. Não seria nada agradável voar sabendo que, a cada dez decolagens, três aviões caem.

Dito isso, será que um investidor, ao extrair e utilizar o melhor da análise técnica, conseguiria bons retornos em seus investimentos?

Se me abordassem para responder a essa pergunta, eu diria que sim! A análise técnica é um método que ajuda o investidor a enxergar oportunidades de ganhos no mercado de ações.

Adicionalmente, gostaria de reforçar que é necessário incorporar outros elementos para lucrar na bolsa. Gosto de citar os 3M, criados por Alexander Elder, autor consagrado do tema: mente, manejo de risco e método. A análise técnica se encaixa justamente nesse último item.

Não tenho a menor pretensão aqui de exaurir as discussões a respeito da análise técnica, tampouco de dar uma resposta binária. A minha intenção é de apenas de trazer ao leitor um olhar baseado em diversas pesquisas nacionais e ao redor do mundo com a chancela da academia.

Portanto, a você que se identificou ou já gostava de análise técnica, fica um convite a estudar o mundo dos gráficos.

Vale a pena!

Um abraço do Petrokas

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