Nenhum título público do Tesouro Direto passa ileso pela possibilidade de aumento do imposto de renda. Do Tesouro Selic ao Tesouro RendA+, todos terão seus rendimentos abocanhados em 17,5% pelo “Leão” a partir de 2026 se a medida provisória (MP 1.303/25) que muda as regras de tributação dos investimentos for aprovada pelo Congresso Nacional da forma que está.
Atualmente, os títulos do Tesouro Direto são tributados segundo a tabela regressiva, com alíquotas que variam de 15% a 22,5%, a depender do prazo da aplicação. Quanto mais tempo o dinheiro fica aplicado, menor a alíquota do IR.
Isso significa que, com a mudança nas regras, os investidores com aplicações de longo prazo serão os mais impactados negativamente.
Se hoje investimentos de mais de dois anos são tributados em apenas 15%, a partir de janeiro do ano que vem eles podem ver um aumento de carga tributária, com a entrada em vigor da alíquota única de 17,5%. Por outro lado, quem resgatar antes de dois anos, manterá a alíquota de imposto atual ou até verá uma redução, no caso das aplicações inferiores a um ano.
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“Em termos de rentabilidade, o aumento de 15% para 17,5% pode parecer pouco, mas representa um aumento de carga de 14,28% para os rendimentos de investimentos acima de dois anos”, diz Neimar Rossetto, da Nimbus Tax.
Neste possível novo cenário, produtos de longo prazo, como o Tesouro RendA+, ainda fazem sentido para poupar para a aposentadoria? O Seu Dinheiro foi atrás de entender quanto essa mudança altera os retornos de títulos públicos do Tesouro Direto.
Um caso prático: o Tesouro RendA+
O Tesouro RendA+ é um título do Tesouro Direto criado para ser uma opção complementar à aposentadoria.
O título funciona de modo similar a um fundo de previdência. Existe um período de acumulação de capital, em que o investidor pode comprar mais títulos ou apenas deixar o dinheiro alocado e rendendo. Quando chegar o vencimento, o Tesouro RendA+ devolve a aplicação em 240 parcelas mensais — o equivalente a 20 anos de aposentadoria.
Por se tratar de um título voltado para o longo prazo, pela regra da tabela regressiva, a alíquota de IR certamente seria de 15%. Se aprovada a alíquota única de 17,5%, o imposto aumentará.
De modo geral, o aumento de carga tributária corresponde a uma perda adicional de R$ 25 para cada R$ 1 mil de rendimento. Entretanto, o efeito cumulativo dessa diferença culmina em uma perda mais significativa no longo prazo.
Simulação
Considere uma aplicação de R$ 100 mil no Tesouro RendA+ 2050, em agosto de 2025. O título oferece atualmente uma rentabilidade de IPCA + 7,10% ao ano — o que significa a correção anual da inflação mais um prêmio prefixado de juro real para quem levar o papel ao vencimento.
A simulação considerou uma média anual de inflação de 6%. Somada ao juro real, o rendimento anual médio ficou em 13,53%.
Sem realizar mais aportes, passados 25 anos, o Tesouro RendA+ 2050 acumulou um total (principal + rentabilidade) de R$ 2.384.423,55. É o equivalente a uma parcela mensal bruta de R$ 9.935,09.
A mudança de alíquota, de 15% para 17,5%, incidiria justamente nessas parcelas mensais de pagamento, já que o título não libera o valor todo de uma vez.
- Com uma alíquota de 15%, a parcela mensal líquida seria de R$ 8.444,83.
- Já na alíquota de 17,5%, o valor líquido das parcelas cai para R$ 8.196,45
Uma diferença mensal de quase R$ 250, que quando multiplicada pelas 240 parcelas chega a R$ 59.611,20.
Tesouro Direto ainda vale a pena?
O aumento da alíquota não é irrelevante. Representa uma perda considerável de renda futura.
Entretanto, como a mudança na tributação abarca a maior parte dos ativos — 17,5% para CDBs, ações e fundos, além de tirar a isenção de LCIs, LCAs, debêntures incentivadas e mais — os especialistas não veem a medida como desproporcional.
Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, não acredita que os títulos públicos perderão a atratividade se a mudança se concretizar.
Em entrevista à imprensa durante um evento do Tesouro Nacional na B3, em 1º de setembro, Ceron afirmou que o Tesouro Direto é o investimento mais rentável e seguro do mercado de renda fixa. “A combinação de segurança e rentabilidade é inegável e vai continuar sendo assim”, disse.