Entrou água no chope da BRF (BRFS3)e da Marfrig (MRFG3), que esperavam ver os acionistas votarem sua união na próxima segunda-feira (14).
Em decisão tomada nesta sexta-feira (11), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) decidiu adiar novamente a assembleia da BRF, que estava marcada para segunda, às 9h, após pedido de acionistas minoritários. A assembleia já havia sido adiada anteriormente, de 18 de junho para 14 de julho.
As ações das companhias operam no vermelho nesta sessão. Por volta das 15h, os papéis BRFS3 caíam 3,48%, cotados a R$ 22,20. No mesmo horário, MRFG3 recuava 3,25%, a R$ 23,22.
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A decisão da CVM
Em fato relevante, a BRF disse que a CVM negou o pedido de interrupção da assembleia, mas solicitou informações adicionais utilizadas pelos comitês independentes das companhias antes que a votação possa acontecer.
Os diretores do órgão concordaram com o parecer dos técnicos da CVM de que a BRF ainda não apresentou as informações necessárias para que os acionistas tomem sua decisão sobre a união das companhias.
A autarquia estabeleceu o prazo de 21 dias para a postergação da assembleia, começando a contar a partir da disponibilização dessas informações adicionais pela companhia.
Dessa forma, a AGE foi adiada e o frigorífico deverá divulgar "oportunamente" a nova data da votação.
Quem primeiro interveio na união das gigantes dos alimentos foi um membro da família Fontana, herdeiros do fundador da Sadia, e a gestora Latache. Agora, foi a vez da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.
A transação tem sido alvo de críticas por parte de investidores que contestam o cálculo apresentado pelas empresas. A proposta de união prevê a incorporação das ações da BRF pela Marfrig, numa relação de troca de 0,8521 ação MRFG3 para cada papel BRFS3.
A proposta também oferece o direito de retirada aos acionistas, permitindo que aqueles que não concordarem com a operação solicitem o reembolso de suas ações — mas sem direito aos dividendos polpudos embutidos na fusão.
O Seu Dinheiro entrou em contato com BRF, Marfrig e Previ, mas ainda não teve resposta.
Os responsáveis pelo 'break'
Nesta semana, a Previ, maior fundo de pensão do Brasil e detentora de cerca de 4,93% da BRF, acionou a Justiça com um pedido para suspender a votação.
O recurso foi aberto em conjunto com Alex Fontana, membro da família fundadora da Sadia, que possui em torno de 0,11% das ações BRFS3.
Os acionistas entraram com um pedido de arbitragem para contestar a relação de troca proposta pelas companhias e com um agravo de instrumento na Justiça, solicitando uma liminar que adiantasse os efeitos do julgamento, de acordo com o site da Globo Rural.
Trata-se da segunda tentativa dos minoritários de suspenderem as AGEs de fusão.
A primeira investida aconteceu no mês passado, quando a gestora Latache e o membro da família Fontana criticaram os termos da fusão e a transparência do processo.
Os questionamentos levaram a CVM, a xerife do mercado de capitais brasileiro, a determinar pelo adiamento das assembleias.
A autarquia também requereu o envio de informações adicionais pelos comitês independentes das empresas para garantir que os minoritários tivessem todos os dados necessários para avaliar a proposta.
Porém, no entendimento da Previ e de Alex Fontana, a BRF não teria cumprido a determinação da CVM, ao entregar documentos com dados suprimidos e com trechos “integralmente tarjados”.
O pedido dos acionistas era pela suspensão da AGE da BRF e da Marfrig até que todas as informações exigidas pela CVM fossem efetivamente divulgadas.
Os acionistas questionam como os comitês independentes chegaram à relação de troca, que favoreceria os interesses da controladora, e ainda lançam dúvidas sobre a independência dos colegiados. Você confere aqui os questionamentos na íntegra.
Minerva (BEEF3) também pisa no calo da fusão
Os minoritários da BRF não são os únicos a questionarem a união com a Marfrig. A rival Minerva (BEEF3) também continua a pisar no calo da fusão, agora, com um recurso no Cade contra a operação.
A empresa pede ao Cade uma revisão da análise feita no início de junho. Na época, o regulador aprovou, sem restrições, a combinação de negócios e avaliou que não haveria riscos de um eventual exercício de poder de mercado com a fusão entre os dois players do mercado de proteínas.
A Minerva, porém, alega que a aprovação do negócio desconsidera impactos relevantes à concorrência e criaria uma concentração excessiva no mercado de produtos processados, além de ampliar o poder de compra da futura MBRF.
A empresa também acendeu o alerta para um possível conflito de interesses envolvendo o fundo soberano da Arábia Saudita, o Salic, que detém 24,5% de participação na própria Minerva. Com a fusão, o fundo passaria a ter também 10,6% da nova MBRF.
O receio da Minerva é que conselheiros indicados pelo fundo poderiam facilitar a troca de informações estratégicas entre as companhias, enfraquecendo a rivalidade no setor.