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Uso de fintechs pelo crime organizado leva Receita a endurecer regras e exigir mesmo tratamento que o de grandes bancos; veja o que muda

Receita Federal anuncia novas regras para fintechs.

Receita Federal anuncia novas regras para fintechs.

O governo não quer mais deixar brechas para que fintechs funcionem como engrenagens invisíveis na máquina de lavagem de dinheiro do crime organizado. A primeira frente de ataque: o aperto da fiscalização sobre as instituições de pagamento.

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Menos de 24 horas após a deflagração de uma operação histórica da Receita Federal contra organizações criminosas, o Fisco retomou, nesta sexta-feira (29), uma polêmica medida de regulação dos bancos digitais. 

A instrução normativa, que entra em vigor hoje, tem como objetivo fechar o cerco contra crimes contra a ordem tributária, lavagem de dinheiro e ocultação de recursos.

“Fintechs têm sido utilizadas para lavagem de dinheiro nas principais operações contra o crime organizado, porque há um vácuo regulamentar, já que elas não têm as mesmas obrigações de transparência e de fornecimento de informações a que se submetem todas as instituições financeiras do Brasil há mais de 20 anos. O crime organizado sabe disso e aproveita essa brecha para movimentar, ocultar e lavar seu dinheiro sujo”, escreveu a Receita. 

Basicamente, as fintechs são instituições de pagamento que usam tecnologia para oferecer serviços financeiros de forma digital, de forma mais simples e rápida que bancos tradicionais.

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A partir de agora, instituições de pagamento e demais participantes de arranjos digitais estarão sujeitos às mesmas normas aplicadas aos grandes bancos — incluindo a apresentação da e-Financeira, o sistema eletrônico do Fisco que integra o SPED (Sistema Público de Escrituração Digital).

Por meio desse mecanismo, a Receita passa a ter uma visão muito mais robusta sobre as operações das fintechs, podendo rastrear declarantes e valores com muito mais precisão.

Os arquivos digitais incluem dados cadastrais, abertura e fechamento de contas, operações financeiras e até previdência privada, criando um mapa detalhado do fluxo de recursos no meio digital.

Nova tentativa do governo de fechar o cerco contra as fintechs

O movimento do governo vem como uma tentativa de corrigir o que aconteceu após a primeira tentativa de regular essas instituições. 

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No início de 2025, uma instrução normativa havia ampliado a fiscalização sobre bancos digitais e monitorado transferências Pix acima de R$ 5 mil, além de melhorar a coleta de dados pela e-Financeira.

Mas a norma durou apenas 15 dias. Uma onda de fake news, incluindo rumores sobre uma suposta “taxação do Pix”, fez com que a Receita voltasse atrás das medidas

O resultado? Dezenas de bilhões de reais circularam fora do radar do Fisco. Segundo a Receita, na operação contra o PCC realizada ontem, cerca de R$ 47 bilhões movimentados pela fintech central do esquema criminoso ficaram completamente invisíveis para o governo.

Agora, o recado é claro: “o que faremos agora não é a republicação daquela norma, pois não queremos dar margem para uma nova onda de mentiras”, explicou a Receita. 

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A intenção é apenas aplicar as definições já existentes na lei, garantindo que as fintechs entreguem o mesmo nível de transparência exigido de bancos tradicionais.

Em outras palavras, nada muda para o cidadão comum: não haverá imposto ou taxação sobre transações via Pix. 

O foco é outro — rastrear, fiscalizar e cortar de vez o fluxo de dinheiro que hoje abastece o crime organizado, tornando o mercado digital mais seguro e transparente.

Fintechs e gestoras de investimento no centro do esquema do PCC

No dia 28 de setembro, o mercado financeiro foi pego de surpresa pela ação da Receita Federal contra o crime organizado e o PCC, nomeada Operação Carbono Oculto.

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A Polícia Federal está investigando R$ 23 bilhões em lavagem de dinheiro, e o Fisco estima que o esquema tenha sonegado R$ 1,4 bilhão em tributos federais, enquanto os impostos estaduais sonegados chegam a R$ 7,6 bilhões. 

O coração dessa operação estava nas fintechs, corretoras e gestoras de investimentos, que se tornaram peças-chave no esquema. Segundo as autoridades, as fintechs se transformaram em uma espécie de “banco paralelo invisível” para o PCC.

A Receita revelou que uma instituição de pagamentos, por si só, movimentou R$ 46 bilhões entre 2020 e 2024. 

Mas por que as fintechs foram escolhidas? A resposta é simples: brechas na regulação. Essas instituições financeiras digitais estavam imunes às exigências de transparência que os bancos tradicionais enfrentam, tornando-as alvos fáceis para o crime organizado.

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O PCC, por sua vez, explorou o uso de contas-bolsão, abertas em nome das fintechs em bancos tradicionais. Essas contas facilitavam o fluxo de dinheiro ilícito sem permitir rastreamento, o que tornava o esquema quase blindado ao controle das autoridades.

Foi assim que os criminosos conseguiram movimentar grandes quantias de dinheiro entre distribuidoras de combustíveis, postos e até fundos de investimento sem levantar suspeitas. 

Com a nova regulamentação, o governo pretende cortar essas brechas, garantindo que as fintechs operem sob o mesmo nível de rigor que os bancos tradicionais.

Ao Seu Dinheiro, a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) disse ver a atualização das normas para fintechs de pagamento e o arranjo PIX com bons olhos. "A atualização vem em um bom momento, mas já era necessária há bastante tempo", escreveu, em nota.

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"As fintechs apoiam integralmente essas medidas, reforçando seu compromisso com a transparência, a segurança e a conformidade regulatória. A ABFintechs continuará atuando de forma proativa", acrescentou. "Nosso compromisso é garantir que o ecossistema de fintechs siga sendo um vetor de inovação e inclusão financeira, atuando como aliado estratégico na integridade do sistema financeiro nacional."

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