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O excepcionalismo americano não morreu e três gestores dão as razões para investir na bolsa dos EUA agora

bandeira dos estados unidos em wall street

Bandeira dos Estados Unidos em Wall Street.

Pela primeira vez em três anos, o Itaú Unibanco reduziu exposição aos EUA e passou a comprar o resto do mundo. Quem conta sobre a tese é Nicholas McCarthy, estrategista-chefe de investimentos do banco. Mas, ao contrário do que possa parecer, para ele, o excepcionalismo americano não chegou ao fim. 

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Quando Donald Trump começou a anunciar uma série de tarifas sobre parceiros comerciais, sinalizar que não seria mais a polícia do mundo — forçando a Europa a gastar mais em defesa — e a China mostrou com o DeepSeek que é possível desenvolver inteligência artificial (IA) com poucos recursos, a exuberância do mercado norte-americano passou a ser questionada. 

Figurões de Wall Street como o bilionário Ray Dalio e seu fundo de hedge Bridgewater Associates cravaram: não é mais possível confiar nos EUA como um parceiro consistente. Você pode conferir em detalhes essa história aqui

Havia uma razão para isso: além da incerteza, o temor de recessão na maior economia do mundo tomava conta dos mercados, com juros em patamares elevados — entre 4,25% e 4,50% ao ano, onde ainda se encontram atualmente —, dólar perdendo força ante seus pares, déficit norte-americano crescente e inflação dando sinais de aceleração com as tarifas de Trump. 

Mas como diz o ditado no mundo dos investimentos: never bet against America (nunca aposte contra os EUA) e McCarthy explica por que esse mantra atribuído a Warren Buffett segue valendo mesmo em um momento de incerteza como o atual. 

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“Depois de uma performance maravilhosa dos EUA, passamos a comprar o resto do mundo — algo que não ocorreu nos últimos três anos. Isso aconteceu porque Trump lançou incertezas para o mundo”, diz o estrategista do Itaú durante painel desta quinta-feira (17) no International Investment Summit, organizado pela Avenue. 

“Passamos a comprar países emergentes, ações de empresas de tecnologia fora dos EUA e vendemos 3% da nossa carteira global em dólar — esse é nosso olhar para o mundo nos próximos 12 meses”, acrescenta.

Mas McCarthy faz um alerta sobre a movimentação: isso não significa vender EUA. “O que está acontecendo agora é que o investidor está vendendo dólar, mas continua comprado na bolsa e na renda fixa norte-americana”, diz. 

Para ele, a bolsa norte-americana continua atrativa e as chances de recessão por lá são baixas. 

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“Não acredito em recessão nos EUA. A inflação segue relativamente baixa, e o norte-americano está com poupança positiva. Todas as recessões nos EUA aconteceram quando norte-americano estava com poupança negativa, o que não é o caso agora”. 

Meera Pandit, estrategista para mercados globais do JP Morgan Asset Management que também participou do evento da Avenue, reforça a tese de que o excepcionalismo americano não acabou e diz que ainda que o S&P 500 esteja renovando recordes, a hora é de comprar bolsa dos EUA. 

“O que vemos são quatro anos de crescimento excepcional, gastos das empresas acontecendo mesmo com juros altos e o consumo, que é a espinha dorsal do PIB [Produto Interno Bruto] dos EUA, aumentando”, afirma. 

“Isso não se parece em nada com o fim do excepcionalismo americano ainda que haja percalços no meio do caminho”, acrescenta Pandit. 

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Entre as pedras do caminho, ela cita a política de Trump, o enfraquecimento do dólar, os juros altos e o aumento da dívida norte-americana — atualmente na casa dos US$ 36 trilhões.

“Meu conselho é: não venda EUA tão rápido mesmo com todo esse cenário. Embora o Brasil tenha um legado de empresas robustas como Vale, Itaú, Petrobras, Weg e BRF, elas sempre ficaram para trás na comparação com empresas de grande capitalização norte-americanas”, afirma. 

“Além disso, temos as Sete Magníficas, e a indústria apresenta a melhor performance na bolsa neste ano até aqui — o que mostra que o investidor tem opções fora de setores bem avaliados e concentrados e também a visão de futuro do mercado sobre a economia dos EUA”, acrescenta. 

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Pandit vai além e diz que os investidores não devem ter medo de investir em momento de recorde da bolsa norte-americana — esta semana, o S&P 500 superou pela primeira vez a marca dos 6.300 pontos. O Seu Dinheiro contou essa história

“O all time high de hoje não será o all time high do futuro. O mercado já provou que investidores pacientes sempre são recompensados”, diz. 

“Ninguém fica confortável com volatilidade. A gente sabe que vai acontecer, mas não como ou quando, por isso, o melhor é se preparar com uma carteira diversificada, que vai funcionar quando você menos esperar”, acrescenta Pandit. 

Daniel Haddad, chief investment officer (CIO) da Avenue, completa o conselho dado pela estrategista do JP Morgan: 

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“Investir tem que ser chato. Se você está tendo emoção na hora de investir, algo está errado no seu portfólio. Não pode haver emoção; investir é como ver uma tinta secando na parede” 

Ficar nos EUA, vender dólar e comprar Brasil?

Se o consenso é não vender EUA mesmo com toda a incerteza que Trump provoca, também não é o momento de comprar apenas Brasil e de vender dólar. 

“Trump e DeepSeek fizeram com que entrássemos em uma trajetória de queda do dólar este ano — que deve continuar, embora em velocidade menor — e motivaram o gringo a olhar de novo para a bolsa brasileira depois de três ou quatro anos fora daqui. Mas isso não quer dizer que o investidor deve comprar apenas Brasil agora”, diz McCarthy.

Além de reforçar a necessidade de diversificação do portfólio, o estrategista do Itaú demonstra cautela com a bolsa brasileira diante de juros em 15%. 

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“O PIB brasileiro tem vindo forte nos últimos três anos — no ano passado crescemos 3,4%. Mas a realidade é que dificilmente vamos crescer acima de 2% sem gerar inflação. Para mim, o Banco Central só corta os juros com a inflação abaixo de 4%. Nossa previsão é de inflação em 4,8% e 4,5% para 2025 e 2026, respectivamente, por isso o juros só devem cair no segundo semestre do próximo ano”, afirma. 

Sobre o dólar, Haddad, da Avenue, é categórico ao dizer que não há ameaças ao status de moeda de reserva internacional mesmo com toda incerteza ligada à economia norte-americana.

“O dólar é um termômetro de risco, a válvula de escape em qualquer país. Não vejo hoje o dólar no Brasil subindo rapidamente, mas vale lembrar que tudo é possível quando se trata de um país emergente. A percepção de que existe um teto para o dólar é uma percepção falha”, diz. 

Ele faz uma provocação para quem ainda tem dúvidas sobre ter a moeda norte-americana em carteira:

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“Temos duas malas de dinheiro, uma com US$ 1 milhão e outra com R$ 7 milhões, e você só pode abrir uma delas daqui dez anos. Qual mala você escolhe?”, questiona, sinalizando que a resposta para essa pergunta diz muito sobre a força de uma moeda. 

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