🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Ricardo Gozzi

É jornalista e escritor. Passou quase 20 anos na editoria internacional da Agência Estado antes de se aventurar por outras paragens. Escreveu junto com Sócrates o livro 'Democracia Corintiana: a utopia em jogo'. Também é coautor da biografia de Kid Vinil.

EU FUI VOCÊ ONTEM

Uma semana antes de Campos Neto decidir sobre Selic, Turquia sobe juros a 45% — e no Brasil um dia foi assim

Há 25 anos, Copom elevava a taxa Selic a 45% ao ano; lembre o que levou os antecessores de Campos Neto e subirem tanto os juros

Ricardo Gozzi
25 de janeiro de 2024
12:11
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em efeito parecido com o do filme Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Por mais brusco que tenha sido o aperto monetário no Brasil, Campos Neto não chegou nem perto de elevar os juros como o BC da Turquia. - Imagem: Marcello Casal Jr-Agência Brasil / Alan Santos-PR / Montagem Brenda Silva

Roberto Campos Neto talvez ainda nem sonhasse em presidir o Banco Central (BC) quando o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Taxa Selic a 45% ao ano.

Aconteceu em março de 1999, quando o Copom — na época sob o comando de Arminio Fraga — subiu os juros de 39% para 45% ao ano.

Vinte e cinco anos depois, a lembrança vem à tona com a notícia de que a Turquia vive um drama semelhante.

Na tentativa de domar a inflação galopante, o BC do país elevou sua taxa básica de juros de 42,5% a 45% ao ano.

A Turquia e a inflação

No que depender do BC da Turquia, os juros no país não vão subir mais.

No comunicado que acompanhou a decisão, a autoridade monetária sinalizou o fim do aperto monetário, apesar da inflação fora de controle.

Leia Também

O índice de preços ao consumidor da Turquia acelerou de 62% em novembro para 64,8% em dezembro no acumulado em 12 meses.

Embora a elevação dos juros fosse esperada, a ação da autoridade monetária levou a lira turca a sua mínima histórica hoje.

Pela primeira vez, a moeda da Turquia ultrapassou a marca de 30 por dólar.

As semelhanças entre o Brasil de 1999 e a Turquia de 2024

A situação parece inimaginável hoje, mas o Brasil já conviveu com juros oficiais nos níveis praticados atualmente pelo Banco Central da Turquia.

O Brasil de 1999 e a Turquia de 2024 são conectados por ações erráticas na condução da política econômica e um cenário externo adverso.

Para contar como a Taxa Selic atingiu 45% ao ano no Brasil, é necessário voltar aos anos 1980, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) promoveu um duro aperto monetário.

A alta dos juros nos Estados Unidos desencadeou uma crise da dívida, em especial entre países da América Latina.

Isso porque a maior parte desses países mantinha um largo estoque de dívida externa vinculada ao dólar.

Efeito dominó

O calote do México, em 1982, desencadeou um efeito dominó no continente americano. E, em meio a moratórias e cartas de intenções, o Brasil acabou resgatado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

As condições impostas pelos credores eram draconianas. Nos anos seguintes, a moeda brasileira trocou de nome como quem troca de roupa.

Cruzeiro, Cruzeiro Novo, Cruzado, Cruzado Novo, Cruzeiro de novo, Cruzeiro Real…

Seis nomes para uma mesma moeda e muitos zeros cortados em um intervalo inferior a uma década.

E se a taxa de inflação de mais de 60% em 12 meses da Turquia é chamada de galopante, imagine uma alta de preços de 82,39% como a registrada pelo IBGE na passagem de fevereiro para março de 1990.

Inflação galopante de verdade

Em 1989, o ano, os preços subiram 1.972,91% em 12 meses no Brasil. E as taxas interanuais mostrariam números ainda maiores nos anos seguintes.

Em março de 1990, Fernando Collor de Mello confiscou a poupança dos brasileiros.

Se as redes sociais existissem na época, a indignação de Lillian Witte Fibe ao entender ao vivo que se tratava de um confisco provavelmente teria virado meme.

A inflação então saiu do espaço sideral para se alojar na estratosfera. Em seu ponto mais baixo naquele início de anos 1990, o IPCA marcou 369,96% no acumulado em 12 meses até julho de 1991. Nunca menos que isso.

Collor então sofreu o impeachment em 1992 (não por causa do confisco). Seu vice, Itamar Franco, assumiu o governo e nomeou uma nova equipe econômica, transferindo o então chanceler Fernando Henrique Cardoso para o cargo de ministro da Fazenda.

Leia também

O Plano Real

Itamar deu carta branca para que FHC promovesse uma reforma capaz de estabilizar a economia — e controlar a inflação, que fechou 1993 à taxa anualizada de 2.693,84%.

De uma equipe composta por economistas liberais como André Lara Resende, Pérsio Arida, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Pedro Malan emergiu o Plano Real.

O Cruzeiro Real primeiro virou URV (unidade real de valor), uma moeda provisoriamente atrelada ao dólar, para depois virar, em julho de 1994, o Real como o conhecemos hoje.

No primeiro ano de vigência do Real, a inflação oficial em 12 meses desabou de 4.005,08% em julho de 1994 para 27,45% em julho de 1995.

E isso enquanto a crise da dívida na América Latina drenava as reservas internacionais dos países da região.

Em meio à implementação do Plano Real, lá estava o México mais uma vez, “tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos”, desencadeando o “efeito Tequila”.

Em grande medida, o Plano Real blindou o Brasil dos piores efeitos daquela crise e FHC elegeu-se presidente em 1994.

  • ONDE INVESTIR EM 2024: Descubra o que esperar do cenário econômico brasileiro e internacional e quais são os melhores investimentos para a sua carteira, em diferentes classes de ativos. Clique aqui.

A bola da vez

A inegável vitória na luta contra o dragão da inflação renderia a Fernando Henrique a reeleição em 1998.

Mas, embora a inflação acumulada em 1998 tenha fechado em 1,65% no Brasil, o cenário seguia adverso.

Em 1997, ocorreu a crise da Ásia, desencadeada por um ataque especulativo ao baht tailandês. Em 1998 ocorreu a crise cambial russa. Em 1999, a bola da vez foi o Brasil.

O programa econômico baseava-se em um regime de âncoras fiscal, cambial e monetária.

Para manter a inflação sob controle e alguma sensação de bem-estar interno apesar de uma elevada taxa de desemprego, o governo mantinha o Real artificialmente sobrevalorizado e a taxa básica de juros chegou a ser qualificada como “escorchante” pelo próprio FHC.

No fim de 1998, logo depois de reeleger-se e em meio a um debate sobre o fim do regime de bandas cambiais, Fernando Henrique admitiu que o Brasil estava quebrado.

Fez então o primeiro dos três pedidos de socorro que faria ao FMI até o fim de seu período como presidente, em 2002.

Juros a 45% ao ano

Contrário à flutuação do câmbio naquele momento, Gustavo Franco deixou a presidência do BC e foi substituído por Arminio Fraga após uma passagem relâmpago e estabanada de Francisco Lopes no comando da autoridade monetária.

No lugar da âncora cambial, o governo instituiu o regime de metas de inflação, que vigora até hoje no país. Logo na primeira reunião presidida por Fraga, em março de 1999, o Copom lançou os juros a 45% ao ano.

Foram apenas 19 dias naquele nível. Ainda em março de 1999, o BC iniciou um rápido ciclo de alívio monetário por meio do qual a Selic chegaria ao fim de julho daquele ano em 19,50%.

Com a liberação do câmbio, o dólar disparou nos meses seguintes antes de se estabilizar, mas a inflação, apesar de saltos esporádicos, nunca mais visitou a estratosfera.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Quando o plano é não ter plano: Ibovespa parte dos 135 mil pontos pela primeira vez em 2025 em dia de novos dados sobre mercado de trabalho dos EUA

29 de abril de 2025 - 8:25

Investidores também se preparam para o relatório de produção e vendas da Petrobras e monitoram entrevista coletiva de Galípolo

Insights Assimétricos

Trump quer brincar de heterodoxia com Powell — e o Fed que se cuide

29 de abril de 2025 - 6:06

Criticar o Fed não vai trazer parceiros à mesa de negociação nem restaurar a credibilidade que Trump, peça por peça, vem corroendo. Se há um plano em andamento, até agora, a execução tem sido tudo, menos coordenada.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: EUA, novo mercado emergente

28 de abril de 2025 - 20:00

Não tenham dúvidas: chegamos todos na beira do abismo neste mês de abril. Por pouco não caímos.

VAI PAUSAR OU AUMENTAR?

Copom busca entender em que nível e por quanto tempo os juros vão continuar restritivos, diz Galípolo, a uma semana do próximo ajuste

28 de abril de 2025 - 14:02

Em evento, o presidente do BC afirmou que a política monetária precisa de mais tempo para fazer efeito e que o cenário internacional é a maior preocupação do momento

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Planos pré-feriado: Ibovespa se prepara para semana mais curta, mas cheia de indicadores e balanços

28 de abril de 2025 - 8:06

Dados sobre o mercado de trabalho no Brasil e nos EUA, balanços e 100 dias de Trump são os destaques da semana

ANOTE NO CALENDÁRIO

Agenda econômica: Balanços, PIB, inflação e emprego estão no radar em semana cheia no Brasil e no exterior

28 de abril de 2025 - 7:03

Semana traz IGP-M, payroll, PIB norte-americano e Zona do Euro, além dos últimos balanços antes das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos de maio

CALENDÁRIO ECONÔMICO

Agenda intensa: semana tem balanços de gigantes, indicadores quentes e feriado

27 de abril de 2025 - 17:12

Agenda da semana tem Gerdau, Santander e outras gigantes abrindo temporada de balanços e dados do IGP-M no Brasil e do PIB nos EUA

FGC EM RISCO?

Normas e tamanho do FGC entram na mira do Banco Central após compra do Banco Master levantar debate sobre fundo ser muleta para CDBs de alto risco

25 de abril de 2025 - 14:30

Atualmente, a maior contribuição ao fundo é feita pelos grandes bancos, enquanto as instituições menores pagam menos e têm chances maiores de precisar acionar o resgate

AGORA TEM FONTE

Se errei, não erro mais: Google volta com o conversor de real para outras moedas e adiciona recursos de segurança para ter mais precisão nas cotações

25 de abril de 2025 - 14:00

A ferramenta do Google ficou quatro meses fora do ar, depois de episódios nos quais o conversor mostrou a cotação do real bastante superior à realidade

DEPOIS DO BALANÇO DO 1T25

Vale (VALE3) sem dividendos extraordinários e de olho na China: o que pode acontecer com a mineradora agora; ações caem 2%

25 de abril de 2025 - 13:14

Executivos da companhia, incluindo o CEO Gustavo Pimenta, explicam o resultado financeiro do primeiro trimestre e alertam sobre os riscos da guerra comercial entre China e EUA nos negócios da empresa

DE OLHO NA VIRADA

Vai dar zebra no Copom? Por que a aposta de uma alta menor da Selic entrou no radar do mercado

25 de abril de 2025 - 10:27

Uma virada no placar da Selic começou a se desenhar a pouco mais de duas semanas da próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 6 e 7 de maio

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Deixa a bolsa me levar: Ibovespa volta a flertar com máxima histórica em dia de IPCA-15 e repercussão de balanço da Vale

25 de abril de 2025 - 8:23

Apesar das incertezas da guerra comercial de Donald Trump, Ibovespa está a cerca de 2% de seu recorde nominal

PENDURADOS NO SAC

Bradesco dispara em ranking do Banco Central de reclamações contra bancos; Inter e PagSeguro fecham o pódio. Veja as principais queixas

24 de abril de 2025 - 18:04

O Bradesco saiu da sétima posição ao fim de 2024 para o primeiro colocado no começo deste ano, ao somar 7.647 reclamações procedentes. Já Inter e PagSeguro figuram no pódio há muitos trimestres

A TECH É BIG

Dona do Google vai pagar mais dividendos e recomprar US$ 70 bilhões em ações após superar projeção de receita e lucro no trimestre

24 de abril de 2025 - 17:59

A reação dos investidores aos números da Alphabet foi imediata: as ações chegaram a subir mais de 4% no after market em Nova York nesta quinta-feira (24)

COMPRAR OU VENDER

Subir é o melhor remédio: ação da Hypera (HYPE3) dispara 12% e lidera o Ibovespa mesmo após prejuízo

24 de abril de 2025 - 16:06

Entenda a razão para o desempenho negativo da companhia entre janeiro e março não ter assustado os investidores e saiba se é o momento de colocar os papéis na carteira ou se desfazer deles

METAL AMARELO

Por que o ouro se tornou o porto seguro preferido dos investidores ante a liquidação dos títulos do Tesouro americano e do dólar?

24 de abril de 2025 - 14:51

Perda de credibilidade dos ativos americanos e proteção contra a inflação levam o ouro a se destacar neste início de ano

LADEIRA ABAIXO

Fim da linha para o dólar? Moeda ainda tem muito a cair, diz economista-chefe do Goldman Sachs

24 de abril de 2025 - 14:17

Desvalorização pode vir da relutância dos investidores em se exporem a investimentos dos EUA diante da guerra comercial com a China e das incertezas tarifárias, segundo Jan Hatzius

NÚMEROS DECEPCIONANTES

A culpa é da Gucci? Grupo Kering entrega queda de resultados após baixa de 25% na receita da principal marca

24 de abril de 2025 - 11:26

Crise generalizada do mercado de luxo afeta conglomerado francês; desaceleração já era esperada pelo CEO, François Pinault

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar

24 de abril de 2025 - 8:11

China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Seu frouxo, eu mando te demitir, mas nunca falei nada disso

23 de abril de 2025 - 20:01

Ameaçar Jerome Powell de demissão e chamá-lo de frouxo (“a major loser”), pressionando pela queda da taxa básica, só tende a corromper o dólar e alimentar os juros de longo prazo

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar