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Payroll: o recado do dado de emprego dos EUA aos pequenos e grandes investidores

Ata Fed

A forte criação de empregos é motivo de comemoração, mas não nos EUA de hoje. A maior economia do mundo gerou estonteantes 336 mil postos de trabalho em setembro, superando em muito as projeções de 170 mil vagas para o período. E os mercados globais não celebraram. 

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Bolsas em queda, dólar passando da casa dos R$ 5,20 por aqui e os juros projetados pelos Treasurys, como são conhecidos os títulos de dívida do governo norte-americano, disparando — os yields dos papéis com vencimento em 30 anos bateram na casa dos 5% — esses foram os efeitos imediatos do dado de emprego desta manhã.

Um caos, certo? Mas acredite se quiser: poderia ter sido muito pior. Os investidores foram dormir na quinta-feira (5) sem saber o que esperar do payroll, como é conhecido o principal relatório de emprego dos EUA, desta sexta-feira (6) e a expectativa era a de que um dado forte de abertura de vagas por lá provocasse uma avalanche nos mercados internacionais, mas ela não veio. Confira a cobertura ao vivo dos mercados.

Em jogo estava a saúde da maior economia do mundo, o ritmo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) e, consequentemente, o nível de juros dos Treasurys — esses dois últimos fatores calibram as taxas globais, inclusive no Brasil. 

O que o payroll mostrou

O principal relatório de emprego dos EUA mostrou que a economia norte-americana criou 336 mil vagas em setembro, bem acima da estimativa de consenso de 170 mil, mas o payroll também traz outros dados tão importantes quanto a geração de postos de trabalho no país — e os investidores olharam para eles.

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Um desses dados é a taxa de desemprego, que permaneceu em 3,8% no mês passado, em linha com as projeções. Abaixo os principais dados do payroll de setembro:

“Além da criação de 336 mil vagas em setembro, a abertura de vagas dos dois meses anteriores foram revisadas significativamente para cima, acrescentando 119 mil postos aos números reportados anteriormente”, lembra Thomas Feltmate, diretor e economista sênior da TD Economics. 

Ele chama atenção ainda para o fato de as contratações nos últimos três meses nos EUA terem alcançado uma média de 266 mil por mês, bem acima dos 189 mil de agosto, mas ainda abaixo dos 334 mil relatados em janeiro.

O que está por trás dos dados

Quem olha apenas para a robusta criação de vagas nos EUA em setembro não vê o quadro todo do mercado de trabalho. Os dados destacados neste texto explicam muito do por que a reação dos mercados com o payroll poderia ter sido pior e não foi. 

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“A abertura de vagas foi impressionante em setembro, mas os detalhes do relatório não são tão robustos. O aumento dos salários desacelerou e há fortes razões para ser cético em relação aos problemas de ajuste sazonal deste relatório”, dizem os economistas da Jefferies. 

Os economistas chamam atenção ainda para o fato de as vagas no setor público terem subido em 73 mil — acima da média mensal de 42 mil dos últimos 12 meses — principalmente impulsionadas pelos professores que voltaram das férias de verão. 

“O Bureau of Labor Statistics [responsável pela divulgação do payroll] tem tido problemas significativos com ajustes sazonais desde 2020 e este é o exemplo mais recente. Fundamentalmente, é difícil compreender por que razão a contratação de professores teria sido tão forte para além do regresso normal ao trabalho”, disseram os economistas da Jefferies. 

O que vai acontecer nos EUA agora? 

Se a reação do mercado não foi tão ruim como poderia, se o payroll traz dados subjacentes que não são tão firmes quanto a abertura de vagas e ainda há o ruído sazonal, não há com o que se preocupar? 

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Infelizmente, os investidores continuarão perdendo noites de sono em busca do que o Fed pode fazer nas suas duas últimas reuniões de 2023 — embora já tenham pistas do que vem por aí: mais aumento de juros e taxas mais elevadas por mais tempo. 

“O relatório de hoje impulsionou mais uma disparada dos yields dos Treasurys e acendeu as chamas de mais um aumento dos juros em uma das duas reuniões do Fed que ainda restam neste ano”, disse Sarah House, economista do Wells Fargo. 

James Knightley, economista-chefe internacional do ING, diz que, embora o relatório de emprego tenha desequilíbrios entre os dados, a forte abertura de vagas de setembro por si “mantém viva a possibilidade de mais um aumento de juros, uma narrativa que se ajusta ao atual entendimento do Fed”. 

A inflação vem aí

Há um motivo, no entanto, para os economistas não cravarem que o próximo aperto monetário está contratado: a inflação. 

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Na quinta-feira que vem (12), enquanto os brasileiros estarão aproveitando o feriado, o governo norte-americano divulga o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro. 

Embora não seja o dado preferido do Fed para medir a inflação — o BC dos EUA olha com mais cuidado para o índice de preços para gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) — o número deve dar mais pistas sobre o futuro da política monetária no país. 

“O relatório do CPI da próxima semana e o índice de custos de emprego do terceiro trimestre, a ser divulgado em 31 de outubro, ajudarão o Fed a determinar se o progresso continua na luta contra a inflação, apesar da força surpreendente nos ganhos de emprego nos últimos meses”, disseram os analistas da Jefferies. 

Já Knightley, do ING, acredita que a política monetária já está suficientemente restritiva e os dados de inflação não serão suficientes para forçar o Fed subir os juros agora. “Mas a inflação elevada garantirá que atingiremos 5% no yield dos Treasurys de dez anos”, afirma.

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O Seu Dinheiro contou as implicações da disparada dos juros dos Treasurys para a economia mundial e para o seu bolso em uma matéria especial nesta semana.

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