O Banco Inter viveu dois momentos bem distintos na bolsa neste ano. Em março, as ações alcançaram um patamar que colocava até mesmo a viabilidade do banco digital em questão. De lá para cá, porém, os papéis entregaram aos investidores uma valorização em dólares de 115%.
Mas depois desse verdadeiro rali, o JP Morgan entendeu que é hora de dar uma pausa e “esperar para ver” se o Inter conseguirá cumprir a estratégia de se tornar mais rentável.
Nesse contexto, os analistas decidiram reduzir a recomendação para as ações de “compra” para “neutro”, mas manteve o preço-alvo em R$ 17 por recibo de ação (BDR).
Lembrando que o Inter migrou seus papéis no ano passado para a bolsa norte-americana Nasdaq, mas manteve BDRs aqui na B3, com o ticker INBR32.
No pregão desta quinta-feira, o BDRs operavam em queda de 3,39% na B3 por volta das 11h24, cotados a R$ 14,320. Por sua vez, as ações do banco laranja caíam 3,64% na Nasdaq, a US$ 2,91.
O Inter ficou caro?
Com a disparada recente, o Inter atualmente é negociado a um múltiplo de aproximadamente 0,85 vez o preço sobre o valor patrimonial por ação (P/VPA) de 2023, de acordo com o JP Morgan.
Apesar de ainda estar abaixo do pico histórico desde o IPO, o múltiplo limita o potencial de alta do BDR em relação ao valor justo estimado pelos analistas, de 1x.
Vale destacar que o Nubank encontra-se negociado a 6,4 vezes o patrimônio. Ou seja, em tese o banco do cartão laranja tem bastante espaço para recuperar terreno contra o rival roxo.
“O Inter implementou várias medidas ultimamente. É hora de esperar para ver”, escreveram os analistas, em relatório.
A estratégia do Banco Inter
Depois de reavaliar a carteira de crédito em 2022, o foco do banco atualmente está na melhora da rentabilidade e em despesas gerais e administrativas — incluindo reduções intensas no quadro de funcionários.
Dentro da estratégia, os analistas destacam como ventos favoráveis para o banco a redução do ciclo de cobrança do cartão de crédito de 10 dias para 7 dias, o que pode gerar uma melhora nas receitas.
Além disso, a instituição ressalta a cobrança pelos saques em caixas eletrônicos e a redução dos limites de cartão de crédito para clientes selecionados, o que pode ser positivo para a qualidade dos ativos e para o capital do banco.
O JP Morgan também considera positiva a implementação de um novo programa de fidelização de clientes, mas reitera que a iniciativa pode ser um obstáculo quando comparado com a estratégia anterior de cashback.
“Um maior foco em monetização é necessário, em nossa visão, e perder alguns clientes para alcançar uma rentabilidade sustentável parece ser uma estratégia vencedora.”
Segundo os analistas, o Inter é capaz de cumprir com a estratégia, o que poderia levar a novas revisões para os papéis. Porém, o JPM “esperaria a execução da monetização agora”.
Na visão do JP Morgan, ainda que as medidas provavelmente sejam positivas para o lucro por ação do Inter, o impacto no NPS e no engajamento dos clientes ainda não está claro.
Para resumir, o NPS é uma das métricas utilizadas para medir o nível de satisfação dos clientes em relação à empresa e seus serviços.
“Verificamos as redes sociais (Facebook e Instagram) e observamos um número crescente de reclamações.”
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O desafio do banco laranja
Na análise do JP Morgan, os preços dos BDRs e das ações do Inter atualmente estão se aproximando do valor patrimonial do banco.
Com isso, os analistas precificam uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) alinhada ao custo de capital, com projeção de 15%, auxiliada pela normalização da qualidade dos ativos e maior eficiência.
“Nossa atual curva de melhoria do retorno sobre o patrimônio líquido exige um ROE de 2% em 2023, 7,4% em 2024 e 11% em 2025”, escreve o JPM.
“Acreditamos que os bancos digitais podem se beneficiar de uma redução estrutural da relação custo-benefício, portanto, boa lucratividade”, afirmam os analistas sobre a visão de longo prazo.
Vale lembrar que, em um plano ousado apresentado aos investidores no início do ano, o Inter prometeu ser mais rentável que os grandes bancos e entregar um ROE de 30% até 2027.
Na época, o próprio JP Morgan avaliou a projeção como ‘um pouco agressiva’ e fixaram a estimativa em 17% até a data sugerida.
Os riscos da tese de Inter
O JP Morgan também prevê riscos para a tese de investimento mais conservadora em Inter — positivos e negativos.
Da ponta positiva, isto é, que implicaram em uma revisão para cima sobre o banco, os riscos incluem:
- Monetização mais rápida do que o esperado;
- Taxas mais baixas impulsionando nomes do crescimento para rali;
- Impacto menor do que o esperado no engajamento do cliente de iniciativas de monetização; e
- Alavancagem operacional gerando rentabilidade acima do esperado.
Por sua vez, os riscos negativos incluem questões como uma deterioração mais rápida que o esperado da qualidade dos ativos, a perda de parceiros do Inter em sua plataforma de investimento aberto ou marketplace e segurança de dados.
O JP Morgan ainda avalia como enxergam a possibilidade de spreads e tarifas bancárias sob pressão devido, ganhos de eficiência demorados e custas judiciais ou provisões para outros processos superiores ao esperado como riscos à tese.
Além disso, os analistas consideram a possibilidade de uma redução do número de clientes ativos devido à menor qualidade de serviço.