Quando parece que a poeira está prestes a baixar para os fundos imobiliários ligados à Gramado Parks, grupo de turismo com empresas em recuperação judicial que deram calote em FIIs, um novo fato surge para movimentar o noticiário.
E, desta vez, a responsável por trazer o tema de volta aos holofotes é a B3, que censurou publicamente a Vórtx, administradora de Devant Recebiveis Imobiliarios (DEVA11), Hectare CE (HCTR11), Serra Verde (SRVD11) e Tordesilhas EI (TORD11), pelo atraso na entrega das demonstrações financeiras de 2022.
Segundo documento publicado pela operadora a bolsa brasileira nesta quarta-feira (26), a Vórtx deveria ter publicado os balanços de sete fundos, incluindo os quatro citados acima, até 31 de março deste ano.
Com o descumprimento do prazo regulamentar, a B3 iniciou o processo de enforcement — ou seja, de cumprimento das normas — e pediu esclarecimentos à empresa.
Ainda segundo o comunicado, a Vórtx deu um retorno para a bolsa em maio, quando três dos fundos administrados por ela haviam publicado as demonstrações atrasadas.
Mas os balanços de DEVA11, HCTR11, SRVD11 e TORD11 permaneceram pendentes. Vale destacar que as cotas desses FIIs acumulam quedas bruscas no mercado secundário neste ano, que chegam a 51%.
"A Diretoria de Emissores decidiu, em vista das circunstâncias do caso, o histórico de infrações dos fundos e a reincidência por alguns deles, pela aplicação da presente censura pública", diz o comunicado.
A B3 destaca ainda que poderá aplicar sanções adicionais aos FIIs, incluindo punições mais graves como o cancelamento de ofício de listagem.
Procurada pelo Seu Dinheiro, a Vórtx não se manifestou até a publicação deste texto. Mas a companhia divulgou um posicionamento oficial mais tarde por meio de comunicados ao mercado, confira aqui.
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A Devant Asset, gestora do DEVA11, enviou uma nota ao Seu Dinheiro na qual informa que o atraso na divulgação das demonstrações financeiras foi ocasionado "por discussões entre o administrador e o auditor do fundo a respeito das informações".
A conversa é justamente sobre as "condições de recuperabilidade" de alguns CRIs que apresentaram inadimplência neste ano.
"O administrador não fez ajustes no preço dos ativos em 31/12/2022, uma vez que o declínio do valor justo aconteceu em momento posterior à data base, fruto de circunstâncias que surgiram e resultaram no aumento do risco de crédito dos devedores".
A gestora destaca que a Vórtx está "empenhando os melhores esforços para que as demonstrações financeiras sejam emitidas no menor prazo possível".
"Reforçamos ainda que eventuais multas e/ou sanções financeiras previstas em regulamentação devido ao atraso na emissão e envio das DFs não serão arcadas pelo fundo", diz a nota.
Fundos imobiliários estão interligados — veja quais elementos que os unem
É importante relembrar que os quatro fundos imobiliários em questão têm outros elementos em comum além da administração da Vórtx e do investimento em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) da Gramado Parks.
Todos eles estão também estão ligados ao grupo RTSC. A holding investe em diversas empresas do mercado financeiro, incluindo as gestoras de três dos FIIs — DEVA11, HCTR11 e TORD11 — e a Forte Securitizadora, emissora dos CRIs da companhia de turismo, hotelaria e multipropriedades.
O SRVD11 também era gerido por uma das assets da RTSC, a RCAP, mas a empresa foi substuída na função no início de maio pela Catalunya. Na ocasião, a troca foi aprovada em assembleia geral extraordinária e a identidade dos investidores que propuseram a mudança não foi divulgada.
Mas a família Caliari, fundadora da Gramado Parks, é uma das acionistas do FII e travou uma batalha com a ForteSec nos tribunais pelo controle da companhia antes da oficialização da recuperação judicial.