A economia dos Estados Unidos é tema de preocupação a investidores do mundo inteiro. Afinal, a terra do Tio Sam enfrenta o feroz dragão da inflação, um banco central disposto a colocar o pé no acelerador dos juros e um fantasma da recessão que não parece disposto a ir embora. Mas, ao que parece, esse conjunto de incertezas não preocupa Warren Buffett.
Apesar de ter desacelerado o ritmo de compras durante o segundo trimestre de 2022, comprando US$ 6,2 bilhões em ações no período — contra US$ 51,1 bilhões em aquisições no trimestre anterior —, o Oráculo de Omaha deu novos votos de fé na economia norte-americana.
A Berkshire Hathaway elevou seus investimentos em empresas dos EUA, como Apple e Activision Blizzard, entre abril e junho, de acordo com documento enviado à SEC (a CVM norte-americana) na segunda-feira (15).
O conglomerado ainda vendeu US$ 2,3 bilhões em ações no último trimestre, reduzindo as fatias na General Motors, US Bancorp e Kroger e desfazendo totalmente as posições na Verizon e Royalty Pharma.
Warren Buffett e a Apple
A Apple pode até ter enfrentado certas dificuldades no segundo trimestre de 2022, vendo seu lucro líquido encolher mais de 10% entre abril e junho, a US$ 19,4 bilhões.
Porém, nada disso impediu que Warren Buffett aproveitasse para dar mais uma mordida na empresa da maçã.
Um dos maiores nomes de tecnologia do mundo e dos Estados Unidos, a Berkshire elevou os investimentos na Apple para US$ 125,1 bilhões.
Até o dia 30 de junho, a holding detinha 3,9 milhões de ações AAPL, negociadas na bolsa de valores norte-americana Nasdaq.
Isso faz com que a companhia torne-se o maior investimento na carteira de ações de US$ 328 bilhões do conglomerado de Buffett.
Investimento em jogos
A Berkshire Hathaway ainda aumentou a participação no setor de jogos.
Segundo o documento arquivado na SEC, a fatia da holding de Warren Buffett na Activision Blizzard subiu para 68,4 milhões de ações, totalizando US$ 5,3 bilhões.
Segundo a Reuters, o investimento de Buffett aposta que os investidores estão pessimistas de que os reguladores aprovarão a proposta de aquisição da empresa pela Microsoft.
O negócio foi anunciado em meados de janeiro, a compra foi fechada por US$ 68,7 bilhões, a maior operação da história do setor de games.
Warren Buffett e o setor financeiro
A Berkshire evitou o setor financeiro durante os momentos mais críticos da pandemia da covid-19. Nos últimos dois anos, a holding desfez posições em grandes bancos como o JP Morgan, o Goldman Sachs e o Wells Fargo.
Porém, desde o primeiro trimestre de 2022, Warren Buffett se mostra interessado em elevar as apostas nas instituições financeiras norte-americanas.
A começar pela Ally Financial. Em questão de três meses, o conglomerado buffettiano triplicou os investimentos no banco para cerca de 30 milhões de ações, no montante de US$ 1,1 bilhão, considerando a cotação atual dos papéis.
A operação fez com que a Berkshire se tornasse um dos maiores acionistas do banco, de acordo com a Refinitiv, com 9,7% de participação.
Vale destacar que o setor financeiro tem forte presença no portfólio da empresa de investimentos de Buffett. Suas alocações no Bank of America e na American Express encontram-se entre as cinco maiores participações da carteira.
Ao fim do segundo trimestre deste ano, a Berkshire acumulou uma participação de US$ 32,2 bilhões no Bank of América, enquanto a fatia na American Express chega a US$ 21 bilhões.
As apostas da Berkshire Hathaway em petróleo
Outro sinal de que Warren Buffett está confiante com a economia dos Estados Unidos é a sua fome pelo setor de petróleo.
Atualmente, a Berkshire Hathaway possui mais de US$ 33 bilhões investidos em duas companhias petrolíferas, a Chevron e a Occidental Petroleum.
Durante o segundo trimestre, a holding comprou 2,3 milhões de ações da Chevron, aumentando o valor de sua participação para US$ 23,7 bilhões.
Na Occidental Petroleum, o conglomerado acumulou 188 milhões de ações, rendendo uma fatia de 20,2% na produtora de petróleo e gás.
Agora que a empresa de Buffett atingiu uma participação maior que 20% na empresa, ela poderá incorporar uma parcela proporcional dos lucros da petrolífera em seus próprios ganhos.
Essa participação nos lucros se dá por meio da equivalência patrimonial, o mesmo método usado pela Berkshire na sua participação na Kraft Heinz, Pilot e Berkadia.
O que dizem os analistas
Para o economista e sócio da BRA, João Beck, a recessão nos Estados Unidos está precificada — e os operadores do mercado financeiro, como Warren Buffett, já aprenderam a lidar com a situação.
“A recessão já está precificada. A queda das bolsas norte-americanas já precifica uma recessão e talvez até algo pior, por conta da aversão ao risco”, disse Beck em entrevista ao Seu Dinheiro.
Desse modo, o economista acredita que Warren Buffett possui uma visão de investimento de longo prazo, que visa retorno entre uma década e 20 anos.
Os investimentos de Warren Buffett
Beck destaca os setores no qual a Berkshire Hathaway investiu durante o segundo trimestre. A começar pela compra de novas ações da Chevron e Occidental Petroleum.
Segundo o especialista, as duas petroleiras estão “em um timing muito favorável, por conta de preços de petróleo muito elevados”.
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Beck explica que o aumento nos preços do petróleo não tem a ver apenas com a guerra na Ucrânia, mas sim com um contexto de problemas de oferta à frente — o que deve impulsionar as cotações por mais alguns anos.
Em segundo lugar, vem a alocação de Buffett no setor financeiro, com destaque para nova aposta na Ally Financial, que deve se beneficiar do cenário de juros mais altos.
Buffett confiante com a Berkshire
Por fim, o economista destaca a recompra de ações da Berkshire Hathaway,
“Ele [Warren Buffett] usou mais dinheiro em caixa para comprar as próprias ações da Berkshire. Ou seja, é como se ele estivesse aumentando a posição em todas as ações que compõem a holding.”
Na visão de João Beck, a operação é um sinal de que, na visão do Oráculo de Omaha, a carteira de ações que compõem a Berkshire “está muito barata em relação à sua previsão de balanços futuros”.
*Com informações de Financial Times e Markets