Lucro e receita acima do esperado, mas ação em baixa. O que acontece com a Ambev?
Como de costume, mercado toma decisões baseado nas projeções, e segundo analistas, custos de produção e margens ainda preocupam
Quando se olha o balanço da Ambev do segundo trimestre, divulgado na madrugada desta quinta-feira, a primeira ideia que poderia vir à cabeça é: quanto a ação vai subir hoje?
Pois bem, com seus olhares mais apurados e voltados para o futuro, os analistas brecaram o otimismo, e a fabricante de bebidas está em queda.
Por volta das 13h15, a ação da Ambev (ABEV3) caía cerca de 2%, depois de recuar mais de 4,5% na mínima do dia. Mas depois de mais do que dobrar o lucro, receitas subindo 35% na comparação anual e os volumes atingindo níveis recordes, por que esta reação negativa?
A palavra-chave é “margem”. Nos últimos anos, com a crescente competitividade no mercado de bebidas, especialmente de cervejas, a gigante Ambev se vê forçada a baixar os preços de seus produtos, e isso tem aparecido nos balanços.
E no segundo trimestre, como destacam os analistas, isso não foi diferente. O Itaú BBA abre seu relatório sobre os números citando o problema, ressaltando que a margem Ebitda para o mercado de cervejas no Brasil atingiu o menor nível da história, de 22%.
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O banco lembra inclusive que após o resultado do primeiro trimestre, já havia rebaixado a recomendação da Ambev para market perform (desempenho em linha com o mercado), com preço-alvo de R$ 19, ante os R$ 17,33 do fechamento de ontem, 28.
Outro ponto levantado pelo Itaú BBA é o aumento dos custos gerais e administrativos (SG&A), por conta dos investimentos feitos em iniciativas de vendas online, como Zé Delivery e BEES, voltado para comerciantes e restaurantes.
O BTG Pactual é outro banco que deixa bem claras suas dúvidas sobre a continuidade do crescimento dos lucros da Ambev.
De acordo com os analistas, que também citam a margem de lucro como ponto a ser observado, ainda não é possível afirmar que o bom momento atual do resultado final vai se prolongar.
“As dificuldades da concorrência com a pandemia, e uma certa retomada temporária da renda das pessoas levaram a um aumento (também temporário) da demanda por cerveja”, escreve o BTG em relatório.
Assim, o banco afirma que não enxerga uma recuperação estrutural dos lucros, o que tira o espaço para uma revisão das estimativas atuais para cima. O BTG mantém a recomendação Neutra, com preço-alvo de R$ 16.
Mas não são só pedras
Um pouco na contramão de seus concorrentes, o Credit Suisse tem uma visão mais positiva sobre a Ambev.
“Apesar do aumento dos custos e o ambiente de consumo incerto no Brasil, vemos a Ambev bem posicionada para superar as turbulências”, escrevem os analistas do banco suíço.
Por isso, a recomendação para Ambev é outperform (desempenho acima da média do mercado), e o preço-alvo se mantém em R$ 21,50.
Os analistas apontam principalmente o bom desempenho das plataformas de vendas online. Os pedidos pelo Zé Delivery foram 3 vezes maiores, no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.
A BEES já atende 70% dos clientes pessoa jurídica da Ambev, ante 65% ao final do primeiro trimestre. E a fintech Donus já tem 80 mil clientes, lembra o Credit Suisse.
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