‘Estavam abaladas as premissas de independência e autonomia da Petrobras’, diz diretor da estatal
Executivo diz que a empresa ‘estava sendo reconstruída com muito zelo e técnica’, mas projetos estavam ‘adentrando em um campo de interrogações’; leia a entrevista completa
Marcelo Zenkner já havia decidido deixar em março o cargo de diretor executivo de governança e conformidade da Petrobras antes de o presidente Jair Bolsonaro anunciar, na sexta-feira passada, a substituição do presidente da estatal, Roberto Castello Branco.
Zenkner, que fez carreira no Ministério Público do Espírito Santo, alega razões pessoais para a decisão, mas disse, em entrevista ao Estadão, que constatou que seu "ciclo havia chegado ao final" porque percebeu no fim do ano passado riscos para o sistema de integridade e para "as premissas fundamentais de independência e autonomia da empresa". "Percebi que o ambiente político estava se alterando profundamente. Há muitos sinais negativos, uma mudança na agenda política."
A entrevista foi concedida antes de Bolsonaro comunicar a mudança no comando da estatal. A Diretoria Executiva de Governança e Conformidade é uma das oito da Petrobras e foi criada em 2014 após as revelações da Lava Jato. Zenkner defende a operação e diz que está em curso no País "um flagrante processo de desmoralização" das pessoas que se dedicaram ao combate à corrupção. "Trabalhei na Petrobras e pude presenciar com meus próprios olhos os estragos causados pela corrupção, que a duras penas estão sendo reparados. Não podemos admitir retrocessos."
Por que o sr. decidiu não renovar seu mandato como diretor?
Tinha uma contribuição a oferecer e acho que deixei um legado importante. No início de janeiro deste ano, manifestei ao CEO (Roberto Castello Branco) meu desejo de não renovar meu mandato por questões pessoais, as quais nada têm a ver com a gestão atual da Petrobras, pois o meu relacionamento com a diretoria executiva e com os integrantes do Conselho de Administração sempre foi excepcional, todos sempre apoiando profundamente os projetos da Diretoria de Governança e Conformidade.
A empresa está menos suscetível a casos de corrupção?
O atual sistema de integridade da empresa, tanto nos aspectos de governança como de conformidade, é robusto e está consolidado. Jamais chegou ao meu conhecimento qualquer caso de fraude ou corrupção, seja brando, médio ou grave. A alta administração da empresa é técnica e independente e, além disso, eu tenho uma equipe entrosada, leal e competente.
A Petrobras tem sido alvo de interferência política? Pesou em sua decisão o atual ambiente político? A empresa está sendo afetada?
Já no final do ano passado considerei que minha missão estava cumprida, pois percebi que o ambiente político estava se alterando profundamente. Há muitos sinais negativos, uma mudança na agenda política. Se o que estava sendo reconstruído com muito zelo e técnica estava adentrando em um campo de interrogações, minha permanência na empresa, com projetos e ideais bem diferentes, poderia colocar em risco todo o sistema de integridade da Petrobras. Se meu sentimento era no sentido de que estavam abaladas as premissas fundamentais de independência e autonomia da empresa, cheguei à conclusão de que meu ciclo havia chegado ao seu final.
Leia Também
Mega-Sena: Ninguém acerta as seis dezenas e prêmio vai a R$ 20 milhões
Mas de onde vêm os riscos? O sr. pode detalhar?
Governança tem a ver a observância de padrões e procedimentos prévios para que as melhores decisões técnicas sejam tomadas. Isso é vital para qualquer sistema de integridade efetivo, principalmente, em se tratando de uma empresa estatal, que deve ficar imune a interferências políticas. A Petrobras possui ações em bolsas de valores no Brasil e no exterior e seu comando máximo deve estar nas mãos da assembleia geral que representa os acionistas. Se é uma sociedade anônima de capital aberto controlada pelo Estado, o principal elemento de um sistema de integridade, o tone at the top (o tom vem do topo), sempre estará associado à vontade política.
A Petrobras programou concluir neste ano a venda de oito refinarias. Que alerta o sr. faz sobre esse grande plano de desinvestimentos?
Sou absoluto defensor da teoria do Estado mínimo. O Brasil, segundo o ranking da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), é um dos países com maior número de estatais do mundo: 418 no total. EUA tem 16. Reino Unido tem 16, Japão tem oito estatais e a Suíça só quatro. Aqui, a União tem o controle direto de 46 estatais e conforme dados do Ministério da Economia 19 dessas 46 estatais operam sucessivamente no vermelho. Imagina esse dinheiro sendo aplicado na saúde, na educação... As empresas estatais, se não forem bem geridas e não tiverem uma governança consistente, podem funcionar como cabide de emprego para políticos, para apadrinhados e para atender a interesses partidários e pessoais. Hoje o sistema de governança da Petrobras é sólido o suficiente para ficar imune a esse tipo de ingerência política.
Mas é possível haver retrocesso daqui para frente...
Os profissionais de carreira da Petrobras estão muito bem preparados e capacitados para enfrentar os enormes desafios que terão pela frente, principalmente na defesa do sistema de integridade que foi implementado. No plano pessoal, meu desejo agora é iniciar uma nova etapa na minha carreira profissional. A integridade hoje é um ativo, um diferencial competitivo e gera valor para qualquer negócio! Como eu acredito na prevenção, e não na repressão, como modelo eficaz de enfrentamento à corrupção, penso em atuar como consultor estratégico, auxiliando as empresas a construir modelos efetivos de integridade, os quais devem funcionar em sintonia com os negócios.
Há resistências nas empresas?
Antigamente uma empresa quebrava por falta de gestão operacional, outras por falta de gestão financeira, hoje o maior risco de default é a falta de boa gestão da integridade, a ausência de uma cultura corporativa ética. E o problema central não reside no fato de uma empresa ter pecado e ter se desviado do caminho correto em algum momento. O diferencial é exatamente a postura que deve ser adotada diante do erro. Sobre essas questões que pretendo trabalhar agora: no tratamento dos erros corporativos do passado e na construção de sistemas preventivos e efetivos para o futuro.
Qual o saldo da Lava Jato para a Petrobras, uma operação que levou para a cadeia ex-diretores da estatal?
Quando eu cheguei na Petrobras em 2019 nenhuma das pessoas envolvidas com os crimes estava mais na empresa. Já haviam sido demitidos ou eles próprios haviam pedido desligamento. A Lava Jato, inegavelmente, contribuiu para que a gente pudesse evoluir e se restabelecer como uma companhia forte, saudável, com controles internos eficientes e com bons padrões de governança e conformidade. Várias outras empresas brasileiras seguiram esse mesmo caminho. Muita gente diz que as empresas tiveram dificuldades financeiras em razão da Lava Jato, mas eu não concordo com essa afirmação. As empresas tiveram dificuldades financeiras porque optaram pelo caminho da ilicitude, da prática de crimes. A Petrobras ultrapassou esse momento e hoje é uma outra empresa, virando completamente a página da Lava Jato.
Há setores do Ministério Público e do Judiciário que apontam um esvaziamento ou mesmo um fim da Lava Jato como um processo orquestrado, envolvendo vários atores, nesses últimos meses. Qual a sua opinião, isso de fato está ocorrendo?
Quando o trabalho de enfrentamento à corrupção é sério, comprometido e eficaz, existem três maneiras de se estancar a atuação dos agentes públicos que estão na linha de frente: por violência e ameaça, pelo oferecimento de vantagens ilícitas, ou pelo fogo amigo e desqualificação pessoal. As duas primeiras vias geram um risco alto e são pouco inteligentes. É por essa razão que está em curso um flagrante processo de desmoralização daqueles que arriscaram suas vidas em nome do interesse público, e o objetivo é fazer parecer que tudo aquilo que foi noticiado, que todas as confissões realizadas, que todos os valores apreendidos ou devolvidos são fruto de mera ficção. Trabalhei na Petrobras e pude presenciar com meus próprios olhos os estragos causados pela corrupção, os quais, a duras penas, estão sendo reparados. Não podemos admitir retrocessos.
Mas a Lava Jato também recebe críticas contundentes. A mais comum é que a operação caminhou por uma linha de ilegalidade...
Sinceramente me impressiona todo esse movimento em torno de supostas conversas que foram hackeadas, as quais configuram provas absolutamente ilícitas e são produto de um crime do qual os seus autores estão presos. Estamos falando de supostos diálogos vinculados a uma fonte que nem sequer pode ser periciada e que, por isso, jamais poderão ser comprovados. Ainda assim as supostas conversas têm circulado normalmente como se fossem verdadeiras e têm sido, inclusive, utilizadas em algumas decisões do Poder Judiciário. Usar o produto de um crime como fonte de informação é, para mim, algo muito mais execrável que o próprio conteúdo dos diálogos, ainda que fossem eles verdadeiros. Integridade não se confunde com perfeição e, numa operação dessa magnitude, certamente falhas devem ter ocorrido, o que é mais do que natural. Se houve algum excesso, ele deve ser coibido pela via disciplinar, mas sempre usando provas lícitas e de acordo com as regras do estado democrático de direito. Entre acertos e erros, o saldo é largamente positivo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Relator de PL sobre fim da escala 6×1 apresenta novo texto, com jornada de no máximo 40 horas semanais
Prates também colocou um dispositivo que dá a possibilidade de regime de trabalho na escala 4×3, com limite máximo de 10 horas diárias
Metrô de SP testa operação 24 horas, mas só aos finais de semana e não em todas as linhas; veja os detalhes
Metrô de SP amplia operação aos fins de semana e avalia se medida tem viabilidade técnica e financeira
Salário mínimo de 2026 será menor do que o projetado; veja valor estimado
Revisão das projeções de inflação reduz o salário mínimo em R$ 3 a estimativa do piso nacional para 2026, que agora deve ficar em R$ 1.627
A nova elite mundial: em 2025, 196 bilionários surgiram sem herdar nada de ninguém — e há uma brasileira entre eles
Relatório da UBS revela que 196 bilionários construíram fortuna sem herança em 2025, incluindo uma brasileira que virou a bilionária self-made mais jovem do mundo
Banco Central desiste de criar regras para o Pix Parcelado; entenda como isso afeta quem usa a ferramenta
O Pix parcelado permite que o consumidor parcele um pagamento instantâneo, recebendo o valor integral no ato, enquanto o cliente arca com juros
FII com dividendos de 9%, gigante de shoppings e uma big tech: onde investir em dezembro para fechar o ano com o portfólio turbinado
Para te ajudar a reforçar a carteira, os analistas da Empiricus Research destrincham os melhores investimentos para este mês; confira
Quina faz um novo milionário; Lotofácil e Dia de Sorte também têm ganhadores
Enquanto a Quina, a Lotofácil e a Dia de Sorte fizeram a festa dos apostadores, a Mega-Sena e a Timemania acumularam nos sorteios da noite de quinta-feira (4).
Mercado aposta em corte da Selic em janeiro, mas sinais do Copom indicam outra direção, diz Marilia Fontes, da Nord
Para a sócia da Nord, o BC deve manter a postura cautelosa e dar sinais mais claros antes de fazer qualquer ajuste
Fundos de pensão que investiram em títulos do Banco Master entram na mira da Justiça em meio a irregularidades nos investimentos
Investigações apontam para aplicações financeiras fora dos protocolos adequados nos casos dos fundos Amazonprev, Rioprevidência e Maceió Previdência
Time sensação do Campeonato Brasileiro, Mirassol arrecada o equivalente a um terço do orçamento municipal
Sensação do Brasileirão, o Mirassol arrecadou cerca de um terço do orçamento municipal e levou a pequena cidade paulista ao cenário internacional com a vaga na Libertadores
Joesley Batista viajou para a Venezuela para pedir renúncia de Maduro: qual o interesse da JBS e da J&F no país?
Joesley Batista tem relações com o presidente Donald Trump e pediu pelo fim das tarifas sobre a carne. A JBS também tem negócios nos Estados Unidos
Lotomania e Super Sete aproveitam bola dividida na Lotofácil e pagam os maiores prêmios da noite nas loterias da Caixa
Lotofácil manteve a fama de loteria “menos difícil” da Caixa, mas cedeu os holofotes a outras modalidades sorteadas na noite de quarta-feira (3).
Alerta Selic: o que pode impedir o BC de cortar os juros, segundo Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual
A projeção do banco é que a Selic encerre 2025 em 15% e que os cortes comecem de forma gradual em janeiro, alcançando 12% ao final de 2026
Ibovespa a 300 mil pontos? ASA vê a bolsa brasileira nas alturas, mas há uma âncora à vista
Em um cenário dúbio para 2026, os executivos da instituição financeira avaliam o melhor investimento para surfar um possível rali e ainda conseguir se proteger em um ambiente negativo
Segundo carro elétrico mais vendido do Brasil atinge marca histórica de vendas no mundo
Hatch elétrico chinês atinge marca histórica em apenas quatro anos e reforça a estratégia global da BYD no mercado de veículos eletrificados
Retrospectiva Spotify 2025: Bad Bunny lidera o mundo e dupla sertaneja domina o Brasil (de novo); veja como acessar o seu Wrapped
Plataforma divulga artistas, álbuns e músicas mais ouvidos do ano e libera função Wrapped para todos os usuários
De bailarina a bilionária mais jovem do mundo: a trajetória da brasileira que construiu uma fortuna aos 29 anos sem ser herdeira
A ascensão de Luana Lopes Lara à frente da Kalshi mostra como a ex-bailarina transformou formação técnica e visão de mercado em uma fortuna bilionária
Daniel Vorcaro — da ostentação imobiliária à prisão: o caso da mansão de R$ 460 milhões em Miami
A mansão de R$ 460 milhões comprada por Daniel Vorcaro em Miami virou símbolo da ascensão e queda do dono do Banco Master, hoje investigado por fraudes
Lotofácil 3552 faz os primeiros milionários de dezembro nas loterias da Caixa; Mega-Sena e Timemania encalham
A Lotofácil não foi a única loteria a ter ganhadores na faixa principal na noite de terça-feira (2). A Dia de Sorte saiu para um bolão na região Sul do Brasil.
Banco Master: Ministério Público quer Daniel Vorcaro de volta à prisão e TRF-1 marca julgamento do empresário
Uma decisão de sábado soltou Vorcaro e outros quatro presos na investigação do Banco Master