O Comitê de Política Monetária (Copom) deve anunciar nesta quarta-feira (5) o segundo aumento seguido da taxa básica de juros, a Selic. A expectativa é majoritária entre agentes do mercado financeiro, sendo que a maioria fala em ajuste de 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano.
A razão para a convicção do mercado em torno do resultado da reunião é simples: o Banco Central antecipou na reunião de março — quando decidiu dar início ao ciclo de aperto monetário com a alta da Selic de 2% para 2,75% ao ano — que faria uma nova elevação na mesma proporção no encontro seguinte.
Na época, a decisão de elevar o juro básico em 0,75 ponto surpreendeu a maior parte do mercado — que falava em ajuste de 0,50 ponto. À frente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto defende que uma alta rápida da Selic pode evitar a necessidade de uma elevação ainda maior da taxa.
O IPCA no acumulado dos últimos 12 meses já está em 6,10%, bem acima da meta neste ano de 3,75% — com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A expectativa é de que o indicador termine este ano a 5,04%, segundo a edição mais recente do Boletim Focus.
Para 2022, a expectativa do mercado sobre o IPCA está em 3,61% — a meta é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto.
Com o resultado da reunião praticamente certo, a grande expectativa do mercado é sobre os próximos passos do Banco Central. Ou seja, se o ritmo de elevação da Selic vai se manter ou acelerar nas reuniões seguintes ou se o Copom entende que, diante do agravamento da pandemia, a dose do remédio amargo dos juros poderá ser menor.
Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o importante é que o BC retome o controle das expectativas de inflação para evitar uma perda de credibilidade da autoridade monetária.
Camargo diz achar possível uma retirada da afirmação do comunicado da decisão anterior de que o processo de normalização da taxa seria parcial — o que daria liberdade para o BC ser mais agressivo na alta da Selic, se necessário.
Para o Goldman Sachs, o Copom deve manter a sinalização de que os juros seguirão em alta. Mas com um comunicado mais amplo a respeito de como vai calibrar a política monetária para manter a trajetória de inflação consistente com as metas.
Mudança de tom
O aperto monetário marca uma postura diferente da de meados do ano passado, quando os preços começaram a subir e o BC dizia que era apenas uma alta pontual. À época, a inflação era puxada por uma alta demanda de produtos da cesta básica, após a concessão do auxílio emergencial.
Hoje, os preços continuam em alta por conta de desajustes na cadeia de suprimentos de alguns setores e por causa da demanda externa, em especial commodities.
A alta do dólar, impulsionada pelo risco fiscal, explica outra parte da alta dos preços. O receio é que a disparada dos IGPs, índices de inflação que são afetados diretamente pela variação cambial, acabem contaminando o IPCA. Mas a queda recente nas cotações da moeda norte-americana pode ajudar o BC a conter a inflação sem precisar subir demais os juros.
Os sinais mais recentes do índice oficial de inflação também trouxeram certo alívio ao mercado. O IPCA-15 de abril registrou alta de 0,60%, uma desaceleração de 0,33 ponto percentual em relação ao mês anterior.
O economista-chefe da Genial vê os agentes financeiros reagindo a decisão do BC sobre Selic com um aumento das taxas de juros curtas e uma "pequena desinclinação da taxa" no pregão do dia seguinte.
Para Lourenço Neto, responsável de operações da empresa de agentes autônomos Miura Investimentos, o mercado olhará para o quanto as notícias mais recentes de inflação tem impactado as decisões do BC.
Ele avalia que a reforma tributária, cujas discussões foram retomadas em Brasília nesta semana, e a vacinação no exterior podem levar a uma diminuição das expectativas sobre a alta de juros.
"Não é o cenário ideal [o da imunização], mas tem andado", diz o executivo da Miura, que prevê uma Selic de até 6,5% no final de 2021.