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Tensão em Brasília leva Ibovespa de volta aos 110 mil pontos e afunda estatais; dólar vai a R$ 5,60

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O Brasil sem sombra de dúvidas já viu meses de fevereiro melhores.

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Tudo bem que foi há exatamente um ano, em um dia 26 de fevereiro, que o primeiro caso de covid-19 foi oficialmente anunciado no país e que os mercados começaram a rolar ladeira abaixo, então 2020 não serve muito como parâmetro. Mas, pelo menos naquela época o Carnaval ainda estava liberado, e ficaram as histórias para contar. 

Mesmo sem folia em 2021, começamos o mês esperançosos de que a definição das eleições legislativas no Congresso, com a presidência do Senado e da Câmara na mão de candidatos apoiados pelo governo, traria tempos de paz. Fevereiro era para ser o mês das reformas, das vacinas e do auxílio emergencial. Mas não foi bem assim que a história se desenrolou, e o recuo de 4,37% do Ibovespa no período está aí para provar que não foi fácil. 

Ao invés de um templo de harmonia, Brasília está em pé de guerra. Depois de muitas ameaças, o presidente Jair Bolsonaro de fato interferiu no comando de uma estatal, ao indicar um general para o lugar de Roberto Castello Branco na Petrobras, traindo não só a confiança do mercado como também a do seu ministro Paulo Guedes.

E o presidente pode estar em vias de perder também o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, que anda na corda bamba para se manter no cargo já há algum tempo. 

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A notícia de que Brandão já informou pessoas próximas de sua saída e deixou o cargo à disposição do governo, conforme divulgado pela imprensa, veio para coroar uma semana extremamente negativa para o Ibovespa e que marca um novo capítulo do relacionamento do governo federal com o mercado financeiro. No fim do dia, após o fechamento do mercado, o Banco do Brasil divulgou uma nota afirmando que o presidente André Brandão não renunciou, mas o estrago já tinha sido feito. 

É bem verdade que a disparada do rendimento dos títulos do Tesouro americano provocaram uma “fuga” de capital dos ativos de risco, o que pressionou as moedas e bolsas emergentes, mas, ainda assim, os nossos problemas domésticos falaram mais alto. 

Nesta sexta-feira (26) o principal índice da bolsa de valores recuou 1,98%, aos 110.035 pontos. Na semana, marcada pela tensão envolvendo as estatais, a queda foi de 7,09%. O dólar também teve dias de estresse e voltou a marcar R$ 5,60, após avançar 1,66% na tarde de hoje, a R$ 5,6055. O avanço na semana foi de 4,09%, enquanto a alta em fevereiro foi de 2,39%. 

A disparada do dólar ocorreu mesmo com uma atuação frequente do Banco Central, com quatro atuações nos últimos dois dias.

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Vale lembrar que um tema que causa grande frustração no mercado e que não foi definido nesta semana é a forma de financiamento do auxílio emergencial. O texto da PEC Emergencial, que havia sido prometido para a última quinta-feira (25), causou polêmica no Congresso ao incluir a retirada do piso mínimo de despesas com saúde e educação. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, prometeu a votação para a próxima quarta-feira (03), enquanto isso, a questão segue pairando sobre a cabeça dos investidores. 

Com tantos fatores no radar, não foi só a curva de juros americana que acelerou a alta. Por aqui, os contratos futuros tiveram um novo dia de avanço. Confira as taxas de fechamento:

Dança das cadeiras

O mercado ainda nem se recuperou da interferência feita pelo governo no comando da Petrobras e pode ter que lidar com uma nova substituição. 

Segundo informações do jornal "O Globo", o presidente do banco, André Brandão, sinalizou a pessoas próximas que quer deixar o comando da instituição e já avisou o presidente Jair Bolsonaro de que o cargo está à disposição e que permanece nele até a escolha de um substituto.

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O Banco do Brasil emitiu uma nota no fim do dia afirmando que o presidente não renunciou, mas as ações do BB cederam quase 5% com a possibilidade, em uma semana que não foi nada fácil para as estatais. 

A mudança feita por Bolsonaro no comando da Petrobras, na sexta-feira passada, deixou o mercado em dúvida sobre o compromisso do governo federal com a pauta liberal, o que fez as ações das estatais sangrarem e pesarem no Ibovespa ao longo de toda a semana, mesmo diante de bons números dos balanços trimestrais. 

Nos últimos dias, o Executivo vem tentando sinalizar que a pauta econômica segue viva, firme e forte, com o encaminhamento de uma medida provisória que abre caminho para a privatização da Eletrobras e um projeto de lei para a privatização dos Correios. Até agora são só acenos e ainda não convencem, de fato, o mercado.

A saída de Brandão da chefia do Banco do Brasil já é especulada há algum tempo. No começo do ano, o presidente Jair Bolsonaro chegou a ameaçar publicamente Brandão de demissão, após o BB anunciar uma reestruturação que envolve o fechamento de agências e desligamento de funcionários. 

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Caso a saída se confirme, o episódio pode deixar ainda mais forte a faceta intervencionista do governo Bolsonaro e dificultar as pazes com o mercado. 

Nem o lucro recorde salvou

Não tem como falar da semana sem falar em Petrobras, estatal no meio da crise entre o governo e o mercado. Em meio aos ruídos e idas e vindas em Brasília, a companhia apresentou um resultado positivo no quarto trimestre de 2020. O lucro foi de R$ 7,1 bilhões no ano e de quase R$ 60 bilhões só no último trimestre. Ao longo da semana, o ainda presidente da companhia, Roberto Castello Branco, rebateu algumas críticas do presidente Bolsonaro e disse ter entregado a recuperação prometida. 

As ações da companhia até tentaram ensaiar uma recuperação após o tombo de mais de 20% na segunda-feira, mas não foi possível. Hoje, a tensão em Brasília mais uma vez pesou sobre as estatais. As ações PN da petroleira recuaram 4,10% (queda de 18,62% na semana) e as ON tiveram queda de 3,11% (18,27% na semana). 

A Vale não é mais estatal, mas com grande peso no Ibovespa, a expectativa era de que o seu lucro de US$ 739 milhões (R$ 4,8 bilhões) no quarto trimestre de 2020, revertendo o prejuízo de US$ 1,6 bilhão (R$ 6,4 bilhões) do mesmo período do ano anterior, impulsionasse os negócios. No entanto, as ações da mineradora recuaram 1,24%. 

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O dragão em disparada?

As conversas intermináveis sobre o pacote de estímulos fiscais nos Estados Unidos seguem, mas trazem consigo uma nova preocupação: o superaquecimento da economia americana irá levar a uma escalada inflacionária?

Esse medo faz com que os investidores comecem a precificar uma alta da taxa de juros antes do que era inicialmente esperado. Ao longo da semana, os rendimentos do T-note de 10 anos atingiram as máximas de um ano, mesmo após o presidente do Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) tentar acalmar os ânimos dos investidores.

Powell e diversos outros dirigentes da instituição afirmaram que este é um movimento natural e que não existe risco para a inflação no longo prazo. Além disso, os atuais níveis de estímulos devem ser mantidos até que a economia de fato se recupere.

No entanto, a alta dos títulos americanos ocorre porque a leitura do mercado é de que, para conter a inflação, os bancos centrais terão que voltar a aumentar as taxas de juros antes do previsto. Com a valorização dos títulos, os investidores tendem a tirar seu dinheiro da bolsa para os títulos do Tesouro, considerados investimentos mais seguros.

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A situação não afetou somente as bolsas emergentes. Na Ásia e na Europa a situação também pesou e fez a semana terminar em queda. 

Hoje, somente o Nasdaq terminou o dia em alta nos Estados Unidos, com avanço de 0,56%. O Dow Jones e o S&P 500 recuaram respectivamente 1,50% e 0,47%, ainda que longe das mínimas do dia.

A inflação americana medida pelo índice PCE avançou 0,3% em janeiro. Com isso, o indicador passou a acumular uma alta de 1,5% em 12 meses, ainda abaixo da meta de 2%, mas acima do 1,3% do mês anterior, o que ajudou a acalmar os mercados.

Sobe e desce

Ao comentar o desempenho negativo das empresas do índice na tarde de hoje, o analista da Ativa Investimentos Marcio Lórega explicou que as empresas produtoras de commodities, que vinham sustentando o Ibovespa nos últimos dias, não conseguiram suportar a pressão e acabaram cedendo. 

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A principal queda do dia ficou com a BRF, após a empresa divulgar os seus resultados trimestrais. Na sequência, tivemos Via Varejo, na expectativa pelo balanço que deve ser divulgado na semana que vem e na esteira de um desaquecimento da economia. Confira os principais destaques negativos do pregão desta sexta-feira:

CÓDIGONOME VALORVARIAÇÃO
BRFS3BRF ONR$ 21,64-7,16%
VVAR3Via Varejo ONR$ 11,87-6,02%
CSNA3CSN ONR$ 32,87-5,16%
HGTX3Cia Hering ONR$ 14,90-5,04%
SULA11SulAmérica unitsR$ 33,03-5,03%

Tivemos mais um dia com poucos destaques positivos na sessão. Apenas três empresas terminaram no azul, com destaque para a Minerva Foods, que também divulgou o seu balanço na noite de ontem:

CÓDIGONOME VALORVARIAÇÃO
BEEF3Minerva ONR$ 9,703,30%
ENEV3Eneva ONR$ 68,002,27%
MGLU3Magazine Luiza ONR$ 24,180,50%
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