Os próximos dias prometem ser movimentados para o mercado financeiro. A agenda está cheia, e os investidores devem se manter atentos às divulgações de índices de atividade, PIB e o principal relatório do mercado de trabalho nos Estados Unidos (payroll), mas a semana começou morna para o Ibovespa.
As bolsas americanas voltaram a renovar recordes, e o dólar à vista recuou 0,12%, a R$ 5,1893, ainda ecoando o discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, na última sexta-feira (27). Já a bolsa brasileira voltou a apresentar comportamento contrário ao de Wall Street, com uma queda de 0,78%, aos 119.739 pontos, devolvendo parte dos ganhos da última semana.
Para os analistas, sem nenhum fator relevante que possa impulsionar os ativos, a tendência que permanece é a de queda, já que o cenário doméstico segue complicado. Braulio Langer, analista da Toro Investimentos, diz que enquanto o Ibovespa não romper a resistência técnica dos 121 mil pontos, o viés de queda deve se manter no curto e no médio prazos.
A indefinição em torno do orçamento do próximo ano e a movimentação política do presidente Jair Bolsonaro antes do feriado de 7 de setembro causam desconforto, mas hoje a crise política teve uma outra cara no noticiário.
A informação de que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil poderiam deixar a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), após a entidade assinar um manifesto que traria críticas ao governo e cobraria harmonia entre os Poderes, gerou ainda mais tensão no mercado.
Em nota, a Febraban esclareceu que o texto em questão não continha ataques ao governo ou oposição à atual política econômica. "O manifesto pedia serenidade, harmonia e colaboração entre os Poderes da República e alertava para os efeitos do clima institucional nas expectativas dos agentes econômicos e no ritmo da atividade", diz a nota da entidade.
O racha no setor financeiro deve levar a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), idealizadora do documento, a rever o texto, mas a declaração da Febraban foi suficiente para garantir algum alívio nos juros, que embutem o risco da crise político-fiscal.
A divulgação do déficit de R$ 19,829 bilhões do governo central em julho, bem abaixo da mediana das expectativas, também ajudou os principais contratos de DI a terem um dia de alívio, ainda que a crise hídrica traga uma piora de perspectivas para a inflação. Confira o fechamento das taxas:
- Janeiro/22: de 6,76% para 6,73%
- Janeiro/23: de 8,45% para 8,40%
- Janeiro/25: de 9,35% para 9,37%
- Janeiro/27: de 9,77% para 9,72%
No noticiário corporativo, os destaques principais ficaram com o otimismo dos analistas com as ações da novata Multilaser (MLAS3) e as novas aprovações de processos pendentes feitas pelo Cade.
Salgando o bolso
A crise hídrica que atinge o país segue sendo um dos maiores motivos de preocupação dos investidores locais. Os últimos dados de inflação mostram que a elevação das tarifas de energia elétrica pressionam os índices de preços, e as coisas não devem melhorar em breve.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a manutenção da bandeira vermelha 2 por mais alguns meses, e espera-se que o valor da tarifa de energia volte a crescer. É possível notar a apreensão do mercado no boletim Focus. Os analistas voltaram a revisar para cima as projeções de inflação para 2021 e 2022.
O próximo passo
Na semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, deu sinais concretos de que a instituição não deve se precipitar para alterar a política monetária vigente. Apesar de uma redução no ritmo de compras de ativos ser esperada ainda em 2021, o dirigente do banco central americano deixou claro que a medida não será acompanhada de uma elevação dos juros.
Nos próximos dias, novos dados devem ajudar o mercado a traçar melhor as suas estimativas para os próximos passos do Federal Reserve. A principal divulgação esperada é o relatório de emprego, o payroll, que será apresentado na próxima sexta-feira (03).
Mas, por hoje, as sinalizações de Powell seguiram dando o tom dos mercados, o que levou o S&P 500 e o Nasdaq a renovarem suas máximas. Confira os fechamentos do dia:
- Nasdaq: 0,90% - 15.265 pontos
- S&P 500: 0,43% - 4.528 pontos
- Dow Jones: -0,16% - 35.399 pontos
Sobe e desce do Ibovespa
Com poucos gatilhos específicos, hoje foi um dia de correção para alguns ativos. Depois de recuar fortemente nas últimas semanas, as ações da Americanas S.A. (AMER3) e das Lojas Americanas (LAME4) se destacaram como as maiores altas do Ibovespa. Já a Totvs (TOTS3), que vem tendo um bom desempenho nos últimos tempos, acompanhou a forte alta do Nasdaq para fechar com ganho de mais de 1%. Confira as maiores valorizações do dia:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
AMER3 | Americanas S.A | R$ 43,24 | 2,81% |
LAME4 | Lojas Americanas PN | R$ 6,10 | 2,52% |
CVCB3 | CVC ON | R$ 22,16 | 1,19% |
TOTS3 | Totvs ON | R$ 39,90 | 1,06% |
USIM5 | Usiminas PNA | R$ 18,64 | 0,76% |
Na ponta contrária, o destaque negativo ficou com as ações da Cyrela (CYRE3). Para Braulio Langer, analista da Toro Investimentos, o movimento é uma realização normal após a forte alta recente.
As empresas de companhias aéreas também se destacaram entre as quedas, seguindo um comportamento global do setor. A União Europeia decidiu retirar os Estados Unidos da lista de países seguros para se viajar, refletindo uma preocupação crescente com o avanço da variante delta. Confira também as maiores quedas do Ibovespa:
CÓDIGO | NOME | VALOR | VAR |
CYRE3 | Cyrela ON | R$ 20,47 | -3,94% |
COGN3 | Cogna ON | R$ 3,27 | -3,54% |
YDUQ3 | Yduqs ON | R$ 26,45 | -3,43% |
GOLL4 | Gol PN | R$ 20,08 | -3,37% |
AZUL4 | Azul PN | R$ 37,94 | -3,14% |