O cheque de R$ 1,8 bilhão que a B3 (B3SA3) vai assinar para a compra da Neoway, especializada em big data e inteligência artificial para negócios, não esgotou o apetite da dona da bolsa de valores brasileira por aquisições. Entre as oportunidades na mesa está o efervescente mercado de criptoativos.
A compra da Neoway — fechada hoje pela manhã — faz parte da estratégia da B3 de ampliar a atuação para as “adjacências” do negócio principal.
“Esse é um mercado que ainda está sendo criado no Brasil, então é importante chegar cedo”, me disse Gilson Finkelsztain, CEO da B3, em entrevista concedida logo após o anúncio da aquisição.
A Neoway deve registrar receita de R$ 190 milhões no ano que vem, o que não chega a 10% do que a bolsa faz hoje em um único trimestre. Mas a expectativa é que esse negócio se torne mais relevante ao longo do tempo.
A B3 estima em R$ 4 bilhões o mercado total do negócio de inteligência de uso de dados. “O mercado vai crescer e a Neoway vai crescer junto, a ideia é que esse certamente seja um negócio bilionário."
A aquisição ainda agrega para a companhia uma receita mais recorrente e menos dependente de fluxo de negócios que acontece no ambiente de bolsa, segundo Finkelsztain.
A B3 vai usar o dinheiro em caixa para arcar com a compra da Neoway, o que não representa um grande problema. A dona da bolsa fechou o segundo trimestre com quase R$ 13 bilhões disponíveis e ainda fechou recentemente uma captação no mercado internacional, no valor equivalente a R$ 3,7 bilhões.
O mercado ainda não parece ter se convencido totalmente de que a aquisição da Neoway foi a melhor alternativa para a B3 usar esse dinheiro. As ações B3SA3 fecharam em queda de 2,55%. O desempenho, contudo, foi melhor que o do Ibovespa, o principal índice da bolsa, que recuou hoje 6,33%.
B3 de olho nos criptoativos
Com bala na agulha, a B3 vai continuar de olho em novas oportunidades no mercado com o mesmo objetivo de complementar a atuação da bolsa. A frente de expansão do negócio de dados, aberta com a compra da Neoway, vai continuar a ser explorada, inclusive com aquisições, segundo Finkelsztain.
Outra área que a B3 vem olhando de perto é a de criptoativos, em meio à popularização das moedas digitais como o bitcoin e de outras aplicações da nova tecnologia.
“Vamos acompanhar o que vai acontecer nessa seara. A gente quer ter um papel no mundo dos ativos digitais.”
Gilson Finkelsztain, CEO da B3
Atualmente, ele vê os criptoativos em um “limbo regulatório". Dentro das possibilidades de atuar nesse mercado, a B3 começou em abril deste ano a listagem de fundos de índice (ETF, na sigla em inglês) ligados a criptomoedas, que já contam com mais de 160 mil investidores.