Acho que eu já vi este filme
Não quero bancar o mestre Yoda, nem apontar o dedo para os filhos do bull market, mas vejo algumas coisas acontecendo com paralelos evidentes com o passado
“Na minha época…” Essa seria a expressão mais irritante do planeta Terra, não fosse, claro, a insuportável “eu avisei”, que leva o prêmio de maneira inconteste. O vencedor da noite é o engenheiro parasita de obra feita.
Woody Allen retratou a interessante relação psíquica com o passado no lindo “Meia Noite em Paris”.
Queremos voltar para um período supostamente melhor do que o atual, num saudosismo reacionário que coloca no passado glórias nem sempre verdadeiras.
Reconstruímos um tempo pregresso platônico, desviando de seus defeitos, criando uma espécie de Pasárgada que na verdade nunca existiu.
Não quero bancar o mestre Yoda, nem apontar o dedo para os filhos do bull market, mas vejo algumas coisas acontecendo com paralelos evidentes com o passado, cuja experiência e a perspectiva histórica poderiam ajudar a evitar, sob o risco de, em pouco tempo, termos de encarar um “eu avisei!”.
Depois de ver a turma se estapear pelas ações da Mitre, o comportamento dos papéis em sua estreia na Bolsa e a fila de IPOs de incorporadoras, fiquei com a sensação de que estamos fazendo rigorosamente a mesma coisa do passado, quando o setor inteiro quebrou alimentado pela fúria dos banqueiros de investimento e por um discurso sobre a necessidade de entregar um crescimento além de suas capacidades.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: De Flávio Day a Flávio Daily…
De repente, quem tocava três ou quatro canteiros agora se vê obrigado a fazer algumas dezenas de obras ao mesmo tempo, ignorando um dos princípios básicos da incorporação de que isso é um negócio de dono, cujo olhar engorda o gado.
O sujeito que conhecia muito bem as leis de zoneamento de uma determinada região, via todo o deal flow de terrenos e VGVs daquele lugar, tinha fortes parceiros locais, subitamente, está lançando em todo Brasil, dobrando seu landbank além-mar.
Foi rigorosamente isso que aconteceu no último ciclo. Quebrou todo mundo e voltamos à máxima “back to basics”. Agora, está cometendo exatamente o mesmo pecado original. Repetir um procedimento esperando resultado distinto é uma das definições de loucura. Desta vez é diferente? Será que não aprendemos nada?
Breve esclarecimento: nem se trata de um comentário específico sobre Mitre. As referências sobre a empresa, em particular, me parecem bem positivas. Gente séria, competente, com boa experiência em incorporação.
O problema é o salto duplo carpado no número de obras e na escala da operação, num setor que, quase por definição, não tem ganhos de escala, atuando basicamente projeto a projeto.
Com efeito, talvez haja em home builders deseconomias de escala. O maior tamanho obriga à saída do círculo de competências stricto sensu, com consequências nefastas e amplificadas pela grande intensidade de capital.
Outro ponto me preocupa nessa história de cometer erros do passado. Lá por 2017 e 2018, os fundos multimercados brasileiros encontraram tempos difíceis.
Nossos super-heróis começaram a captar volumes anteriormente impensáveis de dinheiro. Muitos deles ficaram grandes demais, gerindo uma grana que impedia montagem de posições de forma rápida e ágil no Brasil. Assim, foram obrigados a ir lá pra fora.
Mas, lá fora, meu caro, é um outro jogo (os superpoderes são outros, em especial dos algoritmos, que vão perceber qualquer de suas fragilidades, “squeezando” sua falta de liquidez ou sempre o deixando em segundo lugar).
A turma deu com a cara no muro e muitos tiveram de rever os planos, o que acabou facilitado pelo bull market de 2019, quando tudo subiu e o sucesso generalizado diante do otimismo desenfreado empurrou para baixo do tapete problemas estruturais.
Agora, talvez problema semelhante esteja acontecendo com fundos de ações. Gente que geria R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões agora saltou para R$ 7/8 bilhões de patrimônio em pouco tempo.
Até aí, diante da grande onda sintetizada no “financial deepening” e do fim do paraíso do CDI, normal. Faz parte. Mas há uma nuance aqui, que, por uma construção lógica, me parece necessariamente já contratar um problema de antemão.
Quando você gere R$ 1 bilhão, pode montar uma posição de 10% do fundo numa small e mid cap qualquer com certa tranquilidade. Passa um tempo e aquela sua malvada favorita multiplica por cinco. Pronto, você fez o resultado do ano.
As pessoas físicas, interessadas pelo retorno histórico e estimuladas pelas plataformas de investimento, passam a aplicar volumes cavalares naqueles fundos do topo do ranking, numa dinâmica parecida às de “winners take all”, com poucos eleitos levando boa parte do bolo.
O fundo multiplica várias vezes de tamanho. Qual o problema? Aquela estratégia que o fez captar tanto é irreplicável agora. Ele não consegue mais ter 10% do fundo numa small cap pequena prodígio.
Necessariamente, ele se obrigou a mudar de estratégia e, também necessariamente, vai frustrar seus cotistas, porque a estratégia que os atraiu para o fundo não vai ser repetida agora.
Não é uma questão de opinião a impossibilidade de repetição da estratégia, é mera aritmética. O especialista em concentração em small e midcaps agora precisará jogar o jogo das blue chips ou diversificar fortemente. É um outro jogo agora.
Um alerta especial sobre os fundos de small caps: embora eu mesmo elogie essa classe de ativos e a tenha como minha favorita no atual ciclo — não à toa, lançamos em parceria com a Vitreo Gestão hoje, atendendo a pedidos, o fundo que replica nossa carteira de Microcaps —, o investidor precisa saber onde está pisando.
Enquanto o ciclo é positivo e o fundo vai captando, isso é uma delícia. Ele mesmo vai comprando as ações da sua carteira e empurrando as coisas para cima. Nem ele mesmo percebe que o desempenho tão positivo da cota é resultado da dinâmica compradora de seu próprio fundo, passando a acreditar na sua enorme competência. O ego é sempre o maior inimigo. O problema é quando o ciclo vira e as captações viram resgates líquidos. Aí o mesmo efeito de amplificação da alta vira para baixo.
Os heróis do ciclo das small caps entre 2003 e 2008 hoje rejeitam fortemente qualquer associação com a classe. Depois da destruição dos anos 2010 a 2015, atualmente tocam fundos imobiliários, investigam as melhores práticas de ESG, viraram compositores, dedicam-se a causas do tipo “os benefícios da dieta do sangue em mamíferos domesticados”, frequentam agora as festas do Grand Monde e, desconfio fortemente, têm mesas de pingue-pongue e pebolim em seus escritórios. Os meus próprios heróis morreram de overdose.
Por fim, alguns comentários sobre as ações do IRB. Primeiro ponto: acho ridícula a tentativa de simplesmente defenestrar o short seller. Todo mês, um comprador de uma determinada ação publica sua tese defendendo ferozmente a respectiva tese em suas cartas aos cotistas. Ninguém nunca questionou eventual conflito de interesse, da intenção do comprado em ver as respectivas ações se valorizando a partir de seus próprios comentários. Depois, pra mim, nem se trata necessariamente de agressividade ou criatividade contábil.
Meu ponto de preocupação mais óbvio é a sustentabilidade dos resultados. A empresa tem um legado lá de trás de um provisionamento mais conservador do que o necessário, porque, à época, ninguém queria assumir muito risco. Assim, o management atual vai revertendo essa “folga de provisionamento”, gerando um resultado positivo, o que explica ao menos parte do descasamento entre sinistro e coleta de prêmio.
A ponderação, claro, é que ainda pode demorar um tempo para “zerar” esse estoque. Outro elemento é o resultado financeiro, com a marcação a mercado de alguns ativos não líquidos lá de trás e/ou reclassificando o perfil de cada ativo financeiro.
Os níveis de ROE da companhia devem convergir para um patamar muito menor no tempo, ainda que os resultados de curto prazo possam ainda ser positivos. Em resumo: temos defendido uma tese de ficar de fora das ações do IRB e reiteramos essa posição. As narrativas são muitas por aí; preferimos adotar uma postura de alerta.
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?