Certa vez, num domingo preguiçoso, eu me peguei assistindo um torneio de golfe na TV — é, eu sei, não parece um programa dos mais emocionantes. Mas, quem diria: quando a competição chega perto do fim e os jogadores disputam, tacada a tacada, quem vai ser o campeão, eu me vi preso à tela. Talvez até um pouco nervoso com aquele esporte estranho.
E por que eu estou contando isso? Bem, nesta quarta-feira (8) eu me vi igualmente fixado a uma disputa que, para os não iniciados, pode parecer... entendiante: a busca do Ibovespa pelos 100 mil pontos. Minuto após minuto, jogada após jogada, o índice parecia cada vez mais perto de levar o troféu para casa.
Confesso: estive até um pouco nervoso com esse esporte estranho.
Mas, hoje, o Ibovespa não teve um dia de Tiger Woods — o título ficou para uma próxima sessão. Digamos que, nesta quarta, o mercado acertou uma tacada quase perfeita, colocando a bolinha a milímetros do alvo: sendo mais preciso, aos 99.769,88 pontos, em forte alta de 2,05%.
Um desempenho notável para quem, há quatro meses, parecia sem chance alguma de voltar a competir em alto nível — o Ibovespa não cruza a linha dos 100 mil pontos desde 5 de março. Somente em julho, o índice já acumula ganhos de quase 5%; na semana, a alta é de 3,11%.
- Eu gravei um vídeo para explicar as razões por trás da animação do mercado em relação aos mais recentes dados da economia doméstica. Veja abaixo:
Outro ponto que chama a atenção na tacada do Ibovespa nesta quarta-feira é a comparação com os outros jogadores do campo: nos EUA, o Dow Jones (+0,68%), o S&P 500 (+0,78%) e o Nasdaq (+1,44%) também subiram, mas num ritmo menor; na Europa, as principais bolsas fecharam em queda.
No mercado de câmbio, também tivemos uma rodada bastante favorável: o dólar à vista caiu 0,63%, a R$ 5,3496, após duas altas consecutivas. A moeda americana têm oscilado entre R$ 5,30 e R$ 5,40 desde o começo do mês.
Dito tudo isso, cabe a pergunta: por que o Ibovespa foi o melhor golfista do torneio hoje?
Ânimo renovado
No Brasil, os investidores comemoraram o avanço de 13,9% nas vendas no varejo em maio, um resultado que surpreendeu positivamente os analistas e que, somado ao crescimento de 7% na produção industrial no mesmo mês, eleva a percepção de recuperação da economia brasileira.
Vale ressaltar que o crescimento mostrado em ambos os indicadores ocorre sobre bases bastante deprimidas, uma vez que os dados de março e abril — período em que as medidas de isolamento estavam mais severas no país — foram bastante negativos.
Ainda assim, os números recentes mostram que, ao menos, a tendência de deterioração econômica foi interrompida, dando lugar a um início de retomada.
Além disso, analistas e agentes financeiros com quem eu conversei nos últimos dias me disseram que, em março e abril, a expectativa era a de que os dados de maio ainda estariam vindo bastante fragilizados. Assim, o simples fato de os números mostrarem uma situação não tão ruim quanto a antecipada serve para renovar os ânimos dos investidores.
Tensão e alívio
O otimismo em relação à agenda doméstica de dados econômicos se sobrepôs à maior percepção de risco vista no exterior. Lá fora, o aumento nos novos casos de coronavírus em território americano aumentou o temor quanto a um retrocesso na reabertura do país — o que, se confirmado, certamente prejudicaria o nível de atividade nos EUA e no mundo.
No entanto, um comunicado divulgado durante a manhã pela empresa farmacêutica Moderna, informando avanços em seus estudos para o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19, foram bem recebidos pelos investidores e amenizaram boa parte das tensões vistas lá fora.
Com isso, as bolsas americanas viraram para alta, os mercados europeus se afastaram das mínimas e o Ibovespa ganhou ainda mais força, se aproximando cada vez mais da marca centenária.
Juros em alta
Os sinais de força emitidos pela economia brasileira acabaram desencadeando um movimento de alta nas curvas de juros futuros. Caso o nível de atividade realmente entre em rota de recuperação, diminui a necessidade de cortes adicionais na Selic — o BC deixou a porta aberta para mais uma redução de 0,25 ponto na taxa básica de juros, caso necessário.
Veja abaixo como ficaram os principais DIs hoje:
- Janeiro/2021: de 2,10% para 2,12%;
- Janeiro/2022: de 2,95% para 3,08%;
- Janeiro/2023: de 4,06% para 4,17%;
- Janeiro/2025: de 5,63% para 5,69%.
Top 5
Confira abaixo os cinco papéis de melhor desempenho do Ibovespa nesta quarta-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
BRKM5 | Braskem PNA | 25,35 | +6,51% |
B3SA3 | B3 ON | 60,65 | +6,09% |
NTCO3 | Natura ON | 42,32 | +6,04% |
CIEL3 | Cielo ON | 5,00 | +5,26% |
MRVE3 | MRV ON | 20,20 | +4,50% |
Confira também as maiores baixas do índice no momento:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CVCB3 | CVC ON | 19,05 | -6,07% |
MRFG3 | Marfrig ON | 13,31 | -2,28% |
IRBR3 | IRB ON | 9,32 | -2,00% |
GOLL4 | Gol PN | 19,84 | -1,54% |
BTOW3 | B2W ON | 115,41 | -1,44% |