O Ibovespa teve uma sessão pouco movimentada nesta terça-feira (31), mas algumas ações que compõem o índice reagiram de maneira intensa ao noticiário corporativo específico às empresas. Na ponta negativa do índice, os papéis da CVC, Cogna e Ambev foram os destaques; no lado oposto, os ativos da Suzano chamaram a atenção.
As ações ON da CVC (CVCB3) despencaram 14,29%, a R$ 11,10, aparecendo entre as maiores baixas do Ibovespa. E essa forte queda não ocorreu à toa: mais cedo, a empresa informou que não irá divulgar os resultados de 2019 dentro do prazo regular, que se encerra hoje.
Esse é apenas mais um elemento da 'tempestade perfeita' que atinge a companhia desde o ano passado. A quebra da Avianca Brasil, a crise da Boeing, a disparada no dólar, o surto de coronavírus e a descoberta de um erro contábil — tudo contribui para criar enormes dúvidas quanto ao futuro da CVC, jogando a cotação de seus papéis para baixo.
Somente em 2020, as ações da empresa já acumulam queda de mais de 74% — dentro do Ibovespa, apenas IRB ON (IRBR3) tem um desempenho pior, em meio à crise de governança e confiabilidade que atinge a resseguradora.
Restou à CVC reportar alguns dados financeiros não-auditados: um lucro líquido consolidado de R$ 187,6 milhões em 2019, o que representa uma queda de 2% na base anual; e uma receita líquida de R$ 1,661 bilhão — um aumento de 11,3% em um ano.
Cogna decepciona
O setor de educação também despontou entre as maiores baixas do índice nesta terça-feira, com Cogna ON (COGN3) despencando 20,95%, a R$ 4,00. Ontem, a antiga Kroton reportou seu balanço anual — e ele ficou aquém das expectativas.
A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 168 milhões no quarto trimestre do ano passado, revertendo o lucro de R$ 102,3 milhões registrado no mesmo período de 2018. No consolidado de 2019, a Cogna lucrou R$ 242,6 milhões, uma queda de 82,6% na base anual.
Em relatório, os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim, do BTG Pactual, destacaram a fraqueza dos resultados operacionais da Cogna no período — a companhia, inclusive, não conseguiu cumprir suas próprias projeções financeiras para 2019.
Por outro lado, os analistas do BTG ponderam que a Cogna possui uma boa posição de caixa e de liquidez para atravessar o atual cenário de crise gerado pelo coronavírus, o que ainda torna as ações da empresa atrativas — especialmente nos níveis atuais de preço.
A forte baixa dos papéis da Cogna acabou puxando para baixo as ações ON da Yduqs (YDUQ3), que caíram 17,18% e também apareceram na ponta negativa do Ibovespa.
Suzano se recupera
No lado positivo do Ibovespa, destaque para o setor de papel e celulose: Suzano ON (SUZB3) subiu 5,30%, a R$ 35,79, enquanto as units da Klabin (KLBN11) tiveram ganho de 1,65%, a R$ 15,99.
Também em relatório, o BTG Pactal elevou os preços-alvo dos dois ativos: Suzano ON foi de R$ 44 para R$ 49, enquanto as units da Klabin passaram de R$ 20 para R$ 22 — ambas já tinham recomendação de compra pela instituição.
Além disso, também ajuda a dar força ao setor a recuperação exibida pela economia da China, importante importadora de commodities. O PMI industrial chinês avançou de 35,7 em fevereiro para 52 em março, enquanto o índice do setor de serviços foi de 29,6 para 52,3.
Vale lembrar que, na China, a fase aguda do surto de coronavírus ocorreu entre janeiro e fevereiro. Assim, os dados de março já mostram um cenário pós-crise — e o fortalecimento rápido da economia anima os mercados.
Outras ações ligadas ao segmento de commodities também fecharam em alta firme hoje. É o caso dos papéis da Petrobras, tanto os ONs (PETR3) quanto os PNs (PETR4), com ganhos de 5,21% e 4,56%, respectivamente — o tom positivo do petróleo nesta terça-feira ajudou a estatal.
O setor de mineração e siderurgia também subiu: Vale ON (VALE3) teve ganho de 3,47%; Gerdau PN (GGBR4) valorizou 2,76%; e Usiminas PNA (USIM5) fechou em alta de 2,93%.
Cautela com a Ambev
Voltando ao campo negativo, outro destaque foi Ambev ON (ABEV3), em queda de 5,02%, a R$ 11,92. Mais cedo, o Credit Suisse cortou a recomendação para as ações, de compra para neutra, e reduziu o preço-alvo em 12 meses, de R$ 22 para R$ 14,50.
Essa mudança de postura se deve aos impactos que o surto global de coronavírus trará à empresa. De acordo com a analista Marcella Recchia, o entendimento do banco é de que os impactos da venda de cerveja na China atingirão o pico no primeiro trimestre deste ano, numa baixa de até 80%.
A melhora deve ser vista nos períodos seguintes: queda de até 40% no segundo trimestre e uma possível alta na segunda metade do ano.
"Esperamos que o mercado brasileiro de cerveja tenha uma tendência amplamente alinhada com a da China, com um trimestre de atraso", diz Recchia. "Com 55% das vendas de cerveja da AmBev no Brasil provenientes do comércio, estimamos que volume, venda e Ebitda para 2020 caiam 10,2%, 8,8% e 14,4%, respectivamente".
Top 5
Veja abaixo os cinco papéis de melhor desempenho do Ibovespa nesta terça-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
SUZB3 | Suzano ON | 35,79 | +5,30% |
PETR3 | Petrobras ON | 14,14 | +5,21% |
PETR4 | Petrobras PN | 13,99 | +4,56% |
BRFS3 | BRF ON | 15,09 | +4,00% |
VALE3 | Vale ON | 43,22 | +3,47% |
Confira também as cinco maiores baixas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
COGN3 | Cogna ON | 4,00 | -20,95% |
YDUQ3 | Yduqs ON | 22,17 | -17,18% |
CVCB3 | CVC ON | 11,10 | -14,29% |
IGTA3 | Iguatemi ON | 31,25 | -11,02% |
CYRE3 | Cyrela ON | 14,13 | -10,00% |