A tensão externa dá uma trégua ao mercado financeiro nesta segunda-feira, mas a cautela ainda permeia os negócios, com os investidores divididos entre a preocupação com a economia global e os estímulos adicionais a serem adotados pelos principais bancos centrais. Com isso, os ativos de risco amanheceram sem um rumo definido para o dia.
E essa ausência de direção no exterior desafia o otimismo interno, testando o ânimo dos agentes locais, que apostam alto na agenda de reformas e privatizações, impulsionando o Ibovespa. A nova era de juros baixos no Brasil, com a Selic renovando novas mínimas em breve, também é um dos principais fatores para o avanço da Bolsa brasileira.
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Pisando em ovos
Já no exterior, o mercado financeiro inicia a semana com pouco ímpeto. As principais bolsas asiáticas oscilaram entre altas e baixas, com um feriado na região mantendo várias praças fechadas. O destaque ficou com Xangai, que subiu 1,45%, após o Banco Central chinês (PBoC) fixar a taxa de referência do yuan acima de 7 por dólar pelo terceiro dia seguido, a 7,0211, em um nível mais fraco que o observado na última sexta-feira.
As principais bolsas europeias tentam seguir o sinal positivo vindo da Ásia, apesar da queda do petróleo e do minério de ferro. Em Nova York, os índices futuro também estão no azul. Mas essa sinalização para o dia não parece firme, com os investidores ainda absorvendo o alerta do Goldman Sachs, de que a guerra comercial está elevando o risco de uma recessão nos Estados Unidos.
Para o grupo financeiro, não deve haver um acordo na questão comercial com a China antes das eleições presidenciais norte-americanas em 2020. Assim, o impacto da atual disputa entre as duas maiores economias do mundo na atividade dos EUA deve ser maior que o estimado, com uma contribuição negativa de 0,6%, de -0,2% previsto antes.
O Goldman Sachs também reduziu a previsão de expansão da economia dos EUA no último trimestre deste ano em 0,20 ponto, para 1,8%, na taxa anualizada. Segundo o grupo financeiro, a incerteza causada pela guerra comercial pode levar as empresas a reduzirem seus gastos até que as tensões sejam resolvidas.
Se, por um lado, a nova rodada de tarifas anunciada pelos EUA contra produtos da China, que entra em vigor em setembro, coloca o mundo em uma rota mais profunda de desaceleração. Por outro lado, a fraqueza da economia global deve levar os bancos centrais a cortarem suas taxas de juros, ampliando os estímulos monetários e trazendo alento ao mercado financeiro.
Atividade no radar
Já no Brasil, os dados recentes sobre a atividade doméstica corroboram a avaliação do BC de uma economia ainda em ritmo lento. E essa sinalização igualmente favorece cortes adicionais na Selic. Ainda mais considerando-se o nível confortável da inflação e o andamento da reforma da Previdência no Congresso.
Aliás, o texto aprovado na semana passada na Câmara manteve a estimativa de economia fiscal de cerca de R$ 900 bilhões em dez anos. Agora, a bola está com o Senado, que deve aprovar as novas regras para aposentadoria até outubro. O primeiro passo é o início das discussões na Comissão e Constituição e Justiça (CCJ), provavelmente nesta semana.
Mas a semana começa com as atenções dos investidores voltadas para o estado da economia brasileira. Após os dados fracos do setor de serviços em junho ampliarem o temor de uma recessão técnica no segundo trimestre deste ano, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) pode lançar luz a este cenário.
A previsão é de queda de 0,2% na leitura ante maio e recuo de 1,5% na comparação com um ano antes, o que tende a confirmar a fraqueza da atividade doméstica ao final do semestre passado. Os números oficiais serão conhecidos às 8h30. No mesmo horário, sai a pesquisa Focus do BC junto ao mercado financeiro.
O cenário para este ano e os próximos, porém, tende a permanecer praticamente inalterado. De um modo geral, as estimativas dos economistas preveem um cenário benigno da inflação, cortes adicionais na taxa básica de juros (Selic) e o Produto Interno Bruto (PIB) mostrando dificuldade em retomar o crescimento.
Já a previsão para o dólar, deve seguir em torno de R$ 3,80, apesar do ambiente global mais desfavorável. Aliás, a moeda norte-americana deve ser pressionada hoje pelo desempenho dos ativos na vizinhança. A derrota de Maurício Macri nas prévias presidenciais na Argentina por 15 pontos de vantagem ao candidato opositor, escolhido por Cristina Kirchner, deve disparar uma onda vendedora (sell-off) no país vizinho, impactando o real brasileiro.
De volta à agenda econômica do dia, logo cedo (8h), sai a primeira prévia deste mês do IGP-M. À tarde, é a vez dos dados semanais da balança comercial (15h). No exterior, o calendário está esvaziado, trazendo apenas o Orçamento do Tesouro norte-americano em julho (15h).