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Trump joga poker e a mesa é a economia mundial

Montagem do Donald Trump e Jerome Powell jogando Poker

Presidente dos EUA, Donald Trump, e presidente do Fed, Jerome Powell

Durante um tempo jogar poker virou hobby de gentes do mercado e de fora dele. Todos tínhamos uma mesa de amigos para jogar e surgiram cafuas especializadas. Eu já não jogo mais, mas a mesa de poker pareceu-me uma boa forma de encarar as jogadas desta semana envolvendo o presidente americano Donald Trump, o presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, Jerome Powell, e a China. O pote ou a mesa é a economia mundial.

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Se o amigo não gosta de poker, pode pensar no truco ou mesmo no jogo da galinha (play chicken), aquele no qual o perdedor é quem “pisca” primeiro. Também podemos lembrar do refinado xadrez, e cheguei a ver um comentário nas redes de que Trump joga um xadrez em quatro dimensões... Há método na loucura.

Enfim, o ponto é que o Trump vinha falando, criticando o Fed, pedindo estímulo, dando caneladas em Powell, enquanto aguardava a jogada do Fed na quarta-feira. Powell jogou as fichas na mesa e disse algo como: “esse 0,25 ponto de corte é o que tenho para mostrar. Preciso guardar fichas para quando as coisas ficarem realmente feias. Além disso, as caneladas não me intimidam, tenho um mandato e minhas ações independem da política.”

Do outro lado na mesa (ou do Twitter), Trump fez dois movimentos. Primeiro disse um: “ora, ora. Mais uma vez me decepcionado, ok”, e se recolheu. Os demais participantes da mesa pensaram “natural, o Trump ia reclamar mesmo” e voltaram a alimentar o “bull market”, achando uma versão da história que justificasse sua postura.

Mas Trump só esperou todos se distraírem para gritar um “all in” (poker) ou mandar um “seis, meio pau” (truco) na orelha de Powell, ao empurrar mais 10% de tarifas sobre os chineses, que até então vinham observando a picardia dos ocidentais (chineses têm um jogo próprio, bastante interessante, de memória e raciocínio, chama mahjong).

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O grito de Trump fez os demais jogadores correm para tirar as fichas da mesa (bolsas caindo mais de 1% em Nova York, petróleo tombando 7%. Sobe dólar e ouro na busca por proteção). “Poxa Trump! Pra que isso, cara?” e ele responde: “I don’t care” (Trump disse que não se preocupa com a queda do Dow Jones).

Agora, todos estão de olhos bem abertos esperando o próximo jogador. Os chineses já “levantaram os olhos” do outro lado mesa: “vamos adotar contramedidas, não aceitamos pressão”.

Na manhã de hoje, Trump aliviou um pouco a mão, mas não podemos comprar o movimento por valor de face. O presidente disse que algo como: “Ok, ok parem de chorar. Posso repensar as novas tarifas se os chineses se mexerem”. Alívio imediato no cassino global.

Trump tenta colocar o Fed em corner ao chamar os chineses para a mesa. É como se ele falasse para o Powell: “ou você faz o que eu quero ou vou te obrigar a fazer isso, mesmo que tenha de afundar a economia em mais incerteza”.

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Resta saber se o Fed vai cair nesse blefe de Trump. Sabemos que é um blefe, pois ele enfrenta uma eleição agora em 2020 e seu movimentos de tensionamento e distencionamento são feitos visando esse objetivo. Há método no que parece ser loucura.

A questão é que o Fed tem outra visão temporal das coisas. A instituição tem reafirmado sua independência e compromisso com o pleno emprego e inflação na meta.

O corte dessa semana, como bem disse meu amigo gringo, pode ser resumido da seguinte forma: “Não me encham o saco! Estou cortando o juro apenas para suavizar as besteiras feitas pelo presidente de vocês.”

Mas e os chineses? Bem, os chineses têm visão temporal das coisas ainda mais distinta. Trump pensa em 2020, o chinês planeja coisas para dez ou 15 anos (lembre-se, não tem eleição no Império do Meio). Para definir os chineses, uma boa frase é: as consequências vêm sempre depois...

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A dúvida que fica é se teremos vencedores. Meu amigo gringo acha que não.

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