O mercado financeiro inicia a segunda-feira repercutindo o noticiário do fim de semana, que trouxe mais um capítulo da crise na Argentina, com a renúncia do ministro da Fazenda, protesto pacíficos em Hong Kong e um novo tweet do presidente Donald Trump, dizendo que os Estados Unidos “estão indo muito bem com a China e conversando”. Mas os investidores estão mesmo de olho é nos bancos centrais, diante do receio cada vez maior de uma recessão global - negado pela Casa Branca.
O discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira, durante o simpósio anual em Jackson Hole (Wyoming) é o grande destaque da agenda econômica nesta semana. A expectativa é de que Jay confirme uma nova queda na taxa de juros norte-americana em setembro e mostre disposição a fazer o que for preciso para proteger os EUA da desaceleração econômica mundial, em meio aos impactos da guerra comercial.
O BC brasileiro também está nos holofotes nesta semana, após a mudança de atuação no mercado de câmbio, com a oferta de dólares via leilão à vista a partir de quarta-feira, o que não acontecia desde 2009. A nova postura da autoridade monetária não teve uma visão consensual e foi criticada, principalmente, por causa do momento da decisão, anunciada após a eclosão da crise na Argentina.
Aliás, os ativos do país vizinho devem abrir sobre uma renovada pressão hoje, após a decisão de Nicolás Dujóvne, no sábado, de deixar o cargo no Ministério da Fazenda, que ocupava desde janeiro de 2017. O governo Macri já escolheu um substituto. Hermán Lacunza, atual ministro da Economia de Buenos Aires, irá substituir o agora ex-ministro.
Ainda assim, a renúncia aumenta a turbulência política na Argentina, após a derrota do presidente Mauricio Macri nas prévias das eleições para a chapa que tem Cristina Kirchner como vice. A saída de Dujóvne tende a ampliar crise econômica no país, reforçando o mau humor dos investidores na região e impactando os negócios também aqui no Brasil.
Daí, então, que será importante observar o comportamento do dólar, às vésperas do início dos leilões do BC. Na semana passada, a moeda norte-americana encerrou cotada no nível psicológico de R$ 4,00, pela primeira vez em quase três meses. Já a Bolsa brasileira amargou perdas de 4%, seguindo abaixo dos 100 mil pontos.
À flor da pele
Os investidores têm se mostrado mais sensíveis, alternando o humor ao sabor de cada nova notícia em torno das perspectivas para a atividade global. Com isso, o mercado financeiro tende a seguir com os nervos à flor da pele, o que tende a trazer uma intensa volatilidade e uma dose extra de cautela aos preço dos ativos ao redor do mundo.
Hoje, especificamente, um novo comentário de Trump em relação às negociações comerciais com a China combinado com a diminuição da violência em Hong Kong, pela primeira vez após semanas de protesto, guia uma melhora dos negócios lá fora. As principais bolsas asiáticas encerraram a sessão com fortes ganhos.
Tóquio subiu menos, com +0,7%, enquanto Xangai e Hong Kong tiveram altas de mais de 2%, cada, sendo o maior avanço do índice Hang Seng em mais de dois meses. Os investidores continuam avaliando a postura de Trump na guerra comercial, após ele sugerir que não deve haver um fim rápido na disputa com a China, dizendo não estar “preparado para fazer um acordo ainda”. O republicano mantém a estratégia morde-assopra, colocando também na mesa a situação em Hong Kong.
É cedo para dizer que a situação na ex-colônia britânica mudou. A região especial chinesa voltou a ter protestos pacíficos no domingo, após os recentes episódios violentos, com centenas de milhares de manifestantes tomando as ruas. O comparecimento demonstrou que o movimento ainda tem ampla adesão popular e mostra que a situação ainda é séria.
Em Nova York, os índices futuros amanheceram em alta, sinalizando uma sessão positiva em Wall Street, após as bolsas norte-americanas acumularem perdas pela terceira semana consecutiva ao final da última sexta-feira. Na Europa, as principais praças da região também abriram no azul, também após cair por três semanas seguidas.
Nos demais mercados, o petróleo avança mais de 1%, os bônus soberanos também sobem, ao passo que o dólar mede forças em relação às moedas rivais, perdendo terreno para o euro e o iene, mas avançando frente ao xará australiano e a libra esterlina. Aliás, os riscos crescentes de um Brexit desordenado continuam no radar, assim como a crise na Itália.
Ou seja, apesar da sinalização mais positiva neste início de semana, o cenário está longe de refletir uma reversão do humor global. Ao contrário, os ativos parecem estender a tônica da última sexta-feira, respondendo mais a fatores técnicos e de ajuste de fluxo, em um típico movimento de caça por pechinchas do que a dar por encerrada a aversão ao risco.
Agenda começa devagar
Já a agenda econômica começa mais fraca, trazendo apenas a inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro em julho. No Brasil, saem a segunda estimativa do IGP-M em agosto (8h), o relatório de mercado Focus do Banco Central (8h30) e os dados semanais da balança comercial (15h).
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