O dia era 4 de dezembro de 2017. Criptoativos como bitcoin, ether e muitos outros estavam passando por uma explosão nos preços.
Era comum ouvir as pessoas conversando sobre criptomoedas em todo lugar: nos restaurantes, na academia e, até mesmo, no Uber.
O interesse por criptos estava em alta. Um momento oportuno para o anúncio de uma iniciativa nesse sentido.
E foi justamente nesse dia que meu xará, o controverso presidente venezuelano Nicolás Maduro, anunciou que lançaria o El Petro, uma criptomoeda lastreada em petróleo venezuelano.
A minha primeira reação foi pensar no quão hilária soava aquela proposta. Mas, depois de analisar com mais frieza, percebi que aquilo soava quase como um desesperado grito de socorro.
Com o declínio consistente das receitas provenientes da exportação de commodities — como petróleo e minerais — gerado pelas sanções impostas ao governo de Maduro, a tentativa de criar uma forma alternativa de comercialização por meio de um tipo de ativo que fosse à prova de censura pode parecer uma boa estratégia.
E seria, não fosse esse ativo controlado por um governo que sofre fortemente com uma enorme crise de credibilidade.
Ao longo da evolução do projeto, diversas medidas bastante ineficazes de política monetária foram adotadas como tentativa de tirar a economia venezuelana do buraco. Várias delas envolviam a utilização do criptoativo como mecanismo de reestabelecimento da confiança das pessoas na moeda em circulação, o bolívar.
A sua mais recente derrocada com o criptoativo foi anunciada nessa segunda-feira, 1º de outubro:
“(…) a partir do dia 5 de novembro, o petro estará disponível para venda ao público venezuelano por bolivares soberanos.”
Apesar da tentativa, o El Petro continua sofrendo no quesito confiança. Afinal, a “criptomoeda” não é descentralizada, tampouco livre de controle governamental, e não há qualquer evidência de que o ativo seja efetivamente lastreado por petróleo.
Talvez não seja a hora de investir em petróleo venezuelano…