A linha que separa os negócios da política de Donald Trump ficou ainda mais tênue. Em registros de 33 páginas enviados ao Escritório de Ética Governamental dos Estados Unidos, em 12 de agosto, Trump listou 690 transações, e portais de notícias norte-americanos calculam que, juntas, elas somam pelo menos US$ 100 milhões em aquisições de títulos públicos e debêntures.
Essa onda de compras começou em janeiro, logo após sua posse, com investimentos em dívidas emitidas por autoridades locais, distritos de gás e grandes corporações americanas.
O valor exato, no entanto, permanece desconhecido. Pela lei, o presidente, o vice-presidente e outros funcionários de alto escalão do governo devem declarar periodicamente ao OGE apenas as chamadas “transações reportáveis”. A regra não exige a divulgação do montante detalhado de cada operação.
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Além de papéis de governos locais, conselhos escolares e distritos de gás, entre os destaques das aquisições estão dívidas corporativas emitidas pelas empresas Meta Platforms (controladora do Facebook), Home Depot e T-Mobile.
Segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg,o patrimônio líquido de Donald Trump é estimado em US$ 6,4 bilhões.
Trump e conflito de interesses
Críticos apontam que algumas empresas cujas dívidas agora pertencem a Trump foram diretamente impactadas por suas decisões de governo.
Os documentos revelam que o presidente dos EUA adquiriu, em 10 de fevereiro, lotes de pelo menos US$ 500 mil em dívidas da Qualcomm, Home Depot e T-Mobile. No mesmo mês, comprou ao menos US$ 250 mil em títulos da Meta.
Pela lei federal, presidente e vice são isentos de certas regras que se aplicam a autoridades federais, mas todos os presidentes modernos antes dele abriram mão de seus interesses empresariais antes de assumirem o cargo.
Segundo o grupo de vigilância Citizens for Responsibility and Ethics in Washington (Cidadãos pela Responsabilidade e Ética em Washington, em tradução livre), Trump quebrou essa tradição ao manter seus negócios ativos durante o mandato.
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Uma história já conhecida
Não é a primeira vez que Trump enfrenta acusações de conflito de interesses e provavelmente não será a última, mas para quem acompanha o noticiário de criptomoedas, a mistura entre negócios e política de Trump não é novidade.
Além de manter investimentos no setor, o presidente norte-americano também lançou sua própria moeda digital, o TRUMP, na véspera de assumir o cargo.
A relação próxima entre seus interesses pessoais e o mercado cripto alimentou resistência no Congresso em torno de medidas regulatórias. No caso do Genius Act, que estabelece regras para stablecoins, opositores acusaram o presidente de corrupção.
“Eles permitiram que o presidente vendesse acesso ao governo em troca de lucro pessoal”, disse à época o senador Jeff Merkley, democrata do Oregon.
Em um relatório anterior de divulgação financeira, cobrindo 2024, Trump já havia listado centenas de títulos em contas de investimento pessoais, separadas de seu império empresarial.
Esse conglomerado inclui propriedades como o resort Mar-a-Lago, na Flórida, participação no Trump Media & Technology Group e empreendimentos em criptomoedas que, segundo a Bloomberg, adicionaram ao menos US$ 620 milhões à sua fortuna nos últimos meses.
*Com informações da CNBC e Bloomberg