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Acordo do Mercosul com EFTA abre portas para países ricos, mas não resolve impacto do tarifaço dos EUA

Vice-Presidente da República Geraldo Alckmin durante Cerimônia de Assinatura do Acordo de Livre Comércio MERCOSUL-EFTA, no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro-RJ.

O Mercosul deu mais um passo para se inserir no comércio global. Na terça-feira (16), o bloco econômico da América Latina assinou o acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Trata-se de um grupo pequeno de países europeus, mas altamente relevante em termos de renda: esses países têm PIB per capita entre os maiores do mundo.

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Atualmente, no entanto, o intercâmbio com o bloco ainda é modesto. A EFTA responde por menos de 1% das exportações brasileiras e apenas 1,5% das importações. A assinatura do tratado é vista como uma oportunidade de abrir espaço em novos mercados justamente no momento em que o Brasil enfrenta o tarifaço de 50% dos Estados Unidos.

Para especialistas, o acordo tem mais peso político do que econômico. José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), avalia que o impacto direto nas vendas brasileiras deve ser limitado.

"Estamos falando de um mercado que tem custo de vida alto e compra de tudo. Politicamente, é um acordo importante porque mostra que o Mercosul é capaz de fazer acordos com países desenvolvidos. Vale mais por isso do que pelas vendas", disse Castro.

De acordo com estimativas do governo, o tratado pode gerar R$ 3,34 bilhões adicionais em exportações até 2044. O efeito sobre o PIB seria de R$ 2,69 bilhões no mesmo período — números considerados pouco expressivos.

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O peso das barreiras internas

A entrada em mercados ricos não elimina os obstáculos já conhecidos dos exportadores brasileiros: infraestrutura precária, carga tributária elevada, juros altos e custo de mão de obra qualificada. Esses gargalos tornam difícil competir em igualdade de condições com países como China, EUA e União Europeia, que já dominam o espaço nesses mercados.

Além disso, a pauta exportadora do Brasil segue concentrada. Em 2024, 38% das vendas para a EFTA foram apenas de alumina calcinada, o que mostra a dificuldade em diversificar a oferta de produtos.

A EFTA eliminará 100% das tarifas de importação dos setores industrial e pesqueiro no momento da entrada em vigor do acordo. Com relação aos produtos agrícolas, o acordo permitirá acesso preferencial aos principais produtos exportados pelo Mercosul, seja pela concessão de acesso livre de tarifas ou por meio de concessões parciais.

Os dois blocos iniciam agora os trâmites para internalização do acordo, o que inclui a aprovação pelos parlamentos e, depois, a ratificação pelas partes após os trâmites internos. Junto com o acordo com a União Europeia, os países do Mercosul passarão a ter acesso preferencial aos principais mercados do continente europeu.

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Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, destacou que o tratado com a EFTA é praticamente uma cópia do acordo com a União Europeia, que o governo brasileiro espera concluir em breve.

"Politicamente, ele é importante porque mostra para a União Europeia que o Mercosul está avançando com outros blocos e será um argumento para o acordo Mercosul-UE também avançar", diz o consultor, acrescentando que esse acordo envolve países de difícil acesso.

Na mesma linha, o economista Márcio Sette Fortes, ex-diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), avalia que, embora não substitua as exportações perdidas para os EUA, o tratado reforça a mensagem de que o Brasil busca alternativas diante do ambiente protecionista.

Acordo EFTA: indústria de máquinas comemora, mas pede ajustes

Entre os setores mais prejudicados pelo tarifaço americano está o de máquinas e equipamentos. Para a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o acordo com a EFTA deve ter impacto limitado, já que o setor negocia basicamente com Suíça e Noruega. Ainda assim, a entidade considera o tratado um avanço.

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Patrícia Gomes, diretora da Abimaq, destaca que o Brasil tem poucos acordos comerciais em comparação a outros países latino-americanos, como o México. “Esse é um passo importante para abrir nossa economia ao mundo”, afirmou.

A demanda da indústria, no entanto, é que os tratados prevejam uma redução gradual dos impostos de importação sobre bens de capital, chegando a zero apenas em dez anos — prazo considerado necessário para que a reforma tributária reduza custos e permita competir com estrangeiros em melhores condições.

*Com informações do Estadão Conteúdo.

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