🔴 É AMANHÃ: ONDE INVESTIR NO 2º SEMESTRE – VEJA COMO PARTICIPAR GRATUITAMENTE

Ana Paula Ragazzi

ELAS TÊM CHANCE?

Queda de 90% desde o IPO: o que levou ao fracasso das novatas do e-commerce na B3 — e o que esperar das ações

Ações de varejistas online que abriram capital após brilharem na pandemia, como Westwing, Mobly, Enjoei, Sequoia e Infracommerce, viraram pó desde o IPO; há salvação para elas?

Ana Paula Ragazzi
15 de maio de 2025
6:15 - atualizado às 12:06
Loja da Westwing
Ações da Westwing caíram mais de 95% desde estreia na B3 em 2021. Imagem: Divulgação / Westwing

A Westwing Brasil (WEST3), um site que vende produtos de decoração, surgiu em 2011, como subsidiária da multinacional alemã de mesmo nome que, na mesma época, iniciou operações em vários países da Europa e Ásia.

O e-commerce começou a dar muito certo logo de cara, vendendo produtos caros, com um catálogo que contava com uma curadoria muito bem feita e uma base de clientes bastante fiel e ativa.

Veio o ano de 2020 e com ele a pandemia. As pessoas, sem poder viajar ou sair de casa, concentraram suas compras em lojas online, o que fez disparar os negócios de todo e qualquer e-commerce.

Na Westwing, as vendas brutas cresceram 23% no 1º trimestre de 2020; 104% no 2º trimestre; e 129% no 3º trimestre. A empresa alugou novos espaços para armazenar mais estoque. O plano era, mesmo após a mudança brusca de patamar, crescer de 20% a 30% ao ano dali para a frente, mas de forma mais estruturada, com capital.

E, logo no comecinho de 2021, a empresa fez uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na B3. Levantou R$ 1,16 bilhão, dos quais R$ 430 milhões para financiar a expansão — o restante foi para o bolso dos acionistas, os administradores e o fundo Axxon.

A Westwing aumentou ainda mais o espaço de armazenagem e de centro de distribuição e mais do que quadruplicou as áreas de marketing e TI; mas o momento mais agudo da pandemia passou, as pessoas voltaram a sair de casa, e a receita começou a encolher.

Leia Também

“A disparada nas vendas na pandemia não veio da conquista de uma demanda nova pelos produtos, mas sim por uma antecipação gigantesca de demanda de quem estava preso em casa, não tirava férias, e saiu reformando tudo. Não era sustentável”, diz um gestor de fundos.

Um ano depois da estreia na Bolsa, a ação da Westwing já acumulava queda de 74%; da estreia até hoje, a desvalorização é de 95,96%.

O fracasso da tese do e-commerce na B3

Essa é a história da Westwing, mas o mesmo enredo vale também para várias outras empresas ligadas ao e-commerce que vieram à bolsa no boom de IPOs de 2020-21.

Entre as companhias que abriram o capital na B3 na onda do “novo normal” da pandemia estão a varejista de móveis e produtos para casa Mobly (MBLY3), o site de compra e venda de produtos usados Enjoei (ENJU3), a empresa de logística Sequoia (SEQL3) e a Infracommerce (IFCM3), de infraestrutura para negócios online.

Desde que chegaram à bolsa, todas acumulam desvalorização da ordem de 90%. “Parece claro que nenhuma delas valia o quanto se acreditou na pandemia”, resume um analista.

Na época da abertura de capital dessas empresas, a tese do mercado era a de que os hábitos de consumo da pandemia continuariam após a reabertura da economia. Em outras palavras, acreditava-se que a covid havia apenas antecipado a mudança de comportamento do consumidor.

“O fato é que muita gente colocou a expectativa de alto crescimento para esses negócios praticamente constante, mesmo depois de vencido o coronavírus,” diz o analista.

Além disso, o IPO das empresas ligadas ao e-commerce ocorreu em um cenário de juros extremamente baixos e com uma economia anabolizada pelos estímulos dos governos.

O problema é que, logo na sequência, as taxas de juros começaram a subir, o que também afetou a expectativa de retorno sobre o investimento em ações.

Ação em baixa, dinheiro em caixa

A pergunta que fica é: essas empresas têm salvação? Ou seja, a queda das ações representa uma oportunidade para o investidor?

Na visão dos analistas e gestores com os quais a reportagem do Seu Dinheiro conversou, apesar do enredo comum, cada companhia tem suas especificidades e tenta encontrar um caminho.

Em um determinado momento, as ações ficaram tão depreciadas que começaram a atrair investidores por outras razões. De olho no caixa de R$ 150 milhões da Westwing, a gestora WNT comprou ações até se transformar no principal acionista da companhia em 2023.

Com a frustração do cenário no pós-pandemia, um dos desafios para as companhias é “voltar às origens”. “Só que não é exatamente simples voltar a estrutura de custos para os patamares anteriores”, afirma um analista.

Com um caixa remanescente de quase R$ 200 milhões do total que obteve na oferta de ações, o brechó online Enjoei também conseguiu atrair um novo sócio. Em novembro do ano passado, Eugênio de Zagottis, que esteve no comando da Raia Drogasil por 20 anos, comprou ações da empresa e foi para o conselho.

Em entrevista ao site Brazil Journal, Zagottis disse que apostava nos planos da empresa de expansão no varejo físico — são três lojas, em São Paulo. Mas desde que ele entrou no conselho, a ação praticamente não mexeu o ponteiro na B3.

“A Enjoei nunca vai valer o que se achava que valia no IPO, isso é um fato. Mas operacionalmente ela está melhor equacionada, tem caixa e pode estar próxima do breakeven [ponto de equilíbrio]”, afirma um gestor.

A varejista chegou à bolsa com valor de mercado de R$ 2 bilhões e meses depois atingiu um pico de R$ 4,5 bilhões, mas vale hoje apenas R$ 250 milhões na B3.

(Con)fusão na Mobly

Uma alternativa clássica para se obter redução de custos é via fusões e aquisições. Mas o caso da Mobly é um bom exemplo de que essa é uma receita bem mais complicada na prática.

A varejista de móveis e decoração atua no mesmo ramo da Etna, que fechou as portas em 2022, e da Tok&Stok, que saiu correndo para reforçar a operação online para aproveitar o boom da pandemia, mas mesmo assim quase quebrou.

A proposta da Mobly no IPO na B3 era digitalizar o setor de venda de móveis, que ainda seguia — e segue — o modelo de varejo tradicional.

“Nesse caso, acredito que o problema está relacionado ao produto, mais até do que ao e-commerce. Vender mobília exige muito capital empregado e não tem giro rápido”, diz um gestor.

Ano passado, a Mobly comprou a Tok&Stok, criando a Toky — numa operação que une duas empresas em dificuldades, mas que se transformaram numa das poucas do país com estrutura logística voltada para móveis. Além disso, a marca Tok&Stok tem apelo com o público.

O problema é que a operação tem como pano de fundo uma intensa briga societária — os fundadores da Tok&Stok, da família Dubrule, não aceitaram a venda e as trocas de acusações, principalmente com os sócios do Carlyle, cuja operação foi assumida pela SPX no Brasil, têm sido constantes.

“Não bastassem as dificuldades do negócio, ainda tem esse litígio. Ou seja, melhor fugir desse papel. Nem olho”, disse um gestor.

ONDE INVESTIR EM MAIO | AÇÕES: As commodities caíram, mas quem brilhou foram outras brasileiras

Logística complicada

Na onda do avanço do e-commerce na pandemia, empresas que prestam serviços ao segmento também aproveitaram para captar recursos de investidores em ofertas de ações na B3.

Sequoia e Infracommerce, por exemplo, aproveitaram a janela de IPOs vendendo uma tese de que acompanhariam o crescimento acelerado das plataformas de comércio online por estarem na cadeia de prestação de serviço para essas empresas.

“Isso também não se comprovou. Nesses negócios de logística há muito capital empregado e pouco valor de retenção e margem,” disse um analista.

Com uma proposta de especialização em logística para e-commerce, a Sequoia enfrentou problemas de crescimento e falhas operacionais. Isso sem falar da concorrência feroz de gigantes como Mercado Livre e Magalu, que passaram a internalizar a própria entrega.

Os resultados frustraram, e a empresa perdeu valor de mercado rapidamente — a queda desde o IPO é de 99,5%.

“A Sequoia vai ter de procurar um nicho para as suas operações, com mais eficiência. Mas não se pode descartar uma venda ou fusão com concorrentes,” diz um gestor.

Na Infracommerce, que oferece serviços e infraestrutura para a digitalização dos canais de venda, o negócio se mostrou com margens apertadas e pouca diferenciação.

Para piorar, a companhia teve um problema que já atingiu muitas outras que chegaram à bolsa: “Eles tinham o plano de crescer via fusões e aquisições, mas fecharam várias operações a preços errados, se alavancaram e ainda tiveram dificuldades de integração,” diz um gestor.

Negócio difícil

De modo geral, o mercado pagou demais por empresas ligadas ao e-commerce. “Mas esse negócio, mesmo para quem tem volume alto de vendas, mostrou que não é trivial. Na Amazon, boa parte da lucratividade vem do serviço de data center de cloud computing,” diz um analista do setor.

Por fim, vale destacar que o problema com o e-commerce não foi exclusivo das novatas da B3. Mesmo empresas tradicionais do segmento, como Magazine Luiza e Casas Bahia, subiram brutalmente e depois despencaram no pós-pandemia. Isso sem falar no caso da fraude contábil bilionária da Americanas.

O fato é que sempre a tese do e-commerce na B3 nada mais é do que um fenômeno que se repete de tempos em tempos, quando um grupo de empresas de um determinado setor em crescimento acelerado aproveita uma janela para levantar recursos em ofertas de ações na B3.

“O problema é que nesse momento é muito difícil distinguir o que é permanente e o que é passageiro”, afirma um gestor de fundos que já vivenciou outras ondas do tipo.

A tese do e-commerce acabou tropeçando em problemas conhecidos: baixa escala, margens apertadas, competição intensa e, acima de tudo, promessas feitas muito antes de os fundamentos estarem prontos.

“Hoje, a sobrevivência e eventual recuperação dessas empresas depende menos de narrativas e mais de execução sólida, governança madura e foco em resultados reais”, afirma.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
HISTÓRIA DE UM CASAMENTO

Depois de um ‘quase divórcio’ na Azzas 2154 (AZZA3), mudanças no conselho levantam bandeira branca

30 de junho de 2025 - 10:24

Na manhã desta segunda-feira (30), a companhia anunciou mudanças no conselho de administração; entenda a situação e veja como ficou o quadro

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Guararapes (GUAR3): CFO Miguel Cafruni fala da dor e delícia de ter a cadeia completa, e da virada de chave na gestão da dona da Riachuelo

30 de junho de 2025 - 6:04

No cargo há pouco mais de um ano, executivo aponta desafio de buscar mais receita e margem e reduzir o endividamento da companhia

AGORA VAI?

Trump afirma já ter um novo dono para o TikTok, mas venda ainda não saiu do papel; entenda o que falta

29 de junho de 2025 - 18:01

Com novo prazo, a ByteDance precisa chegar a um acordo até 17 de setembro para evitar um banimento nos EUA

NOVO DONO NA ÁREA

IMC conclui parceria milionária com KFC no Brasil e ajusta estrutura operacional

28 de junho de 2025 - 15:38

A operação, que vinha rondando os mercados desde março, cria uma joint venture entre a empresa e uma afiliada da Kentucky Foods Chile

NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS

Tecnisa (TCSA3) mira venda de sete terrenos à Cyrela (CYRE3) por R$ 450 milhões; confira o que falta para a operação sair do papel

28 de junho de 2025 - 9:53

Além dos terrenos, a operação envolve a venda de CEPACs — títulos que permitem construir acima do limite urbano

PREPAREM O BOLSO

Dividendos e JCP: Lojas Renner (LREN3) vai distribuir mais de R$ 200 milhões aos acionistas; confira os detalhes

27 de junho de 2025 - 19:01

A varejista de roupas pagará o valor bruto de R$ 0,203061 por ação ordinária, e o dinheiro deve cair na conta dos acionistas em 15 de julho deste ano

ALINHAMENTO ESTRATÉGICO

Dança das cadeiras: Engie Brasil faz mudanças na diretoria e cria nova área de energias renováveis

27 de junho de 2025 - 17:24

Alterações visam alinhamento ao modelo operacional global do grupo

UNIÃO EM RISCO

Fale agora ou cale-se para sempre: Minerva (BEEF3) entra com recurso no Cade contra fusão de Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3)

27 de junho de 2025 - 17:22

A companhia alega ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica que o aval ao “casamento” desconsidera impactos relevantes à concorrência

GIGANTE DOS SHOPPINGS

Argo e Replan se juntam para criar terceira maior administradora de shoppings do Brasil; conheça

27 de junho de 2025 - 17:21

Com 30 shoppings distribuídos pelo país e cerca de R$ 10 bilhões em vendas por ano, conheça a nova gigante do setor

NADA RESOLVIDO

Compra do Banco Master pelo BRB: Galípolo diz que Banco Central precisa de mais informações para avaliar

27 de junho de 2025 - 16:03

Operação já foi aprovada pela Superintendência-Geral do Cade e agora aguarda aval da autoridade monetária

MUDANÇA DE ROTA

Cashback ou BTC: afinal, qual é o modelo de negócios do Méliuz? Falamos com o head da Estratégia Bitcoin da empresa

27 de junho de 2025 - 14:45

A empresa diz que o foco em cashback continua valendo como forma de gerar receita; desde o ano passado, porém, a maior parte de seu caixa vem sendo alocado em criptomoedas

“COPA DO E-COMMERCE”

Hermanos no contra-ataque: Mercado Livre (MELI34) reage à ofensiva de Amazon e Shopee no Brasil, aponta Itaú

27 de junho de 2025 - 14:22

O cenário do e-commerce brasileiro parece uma disputa de mundial, com “seleções” da Argentina, EUA e Cingapura lutando pela “taça” — e todas de olho na entrada da China na competição

EM REESTRUTURAÇÃO

Ações da Casas Bahia (BHIA3) voltam a cair hoje após Mapa Capital assinar acordo com bancos para assumir dívida de R$ 1,6 bilhão da varejista

27 de junho de 2025 - 13:50

Em meio ao processo de conversão de títulos de dívidas, os papéis da varejista vêm apanhando na bolsa brasileira

TOP PICK NO ÓLEO E GÁS

Prio (PRIO3) é eleita a favorita do setor pelo Itaú BBA mesmo com queda no preço do petróleo; entenda as razões para a escolha

27 de junho de 2025 - 13:14

O banco reafirmou a recomendação de compra para as ações PRIO3 e estabeleceu um novo preço-alvo para o papel na esteira da aquisição da totalidade do campo de Peregrino

ENTENDA OS DETALHES

Subsidiária da Raízen (RAIZ4) emite US$ 750 milhões em dívida no exterior como parte de estratégia para aliviar Cosan (CSAN3)

27 de junho de 2025 - 11:15

A Raízen Fuels Finance, fará a oferta de US$ 750 milhões em notes com vencimento em 2032 e cupom de 6,25%.

MODERNIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Cogna (COGN3) capta US$ 100 milhões com Banco Mundial em busca de transformação digital

27 de junho de 2025 - 10:08

Os recursos irão financiar a transformação digital das atividades de graduação e da pós-graduação de uma vertical da companhia

OBRIGATORIEDADE DISPENSADA

Serena (SRNA3): decisão da AGE abre outro capítulo no fechamento de capital da empresa

26 de junho de 2025 - 20:38

A saída da elétrica da bolsa tem sido marcada por turbulências desde a proposta da Actis e do GIC, que ofereceram R$ 11,74 por ação da companhia

SINAL FECHADO

Por que as ações da Localiza e Movida despencaram na B3 — spoiler: tem a ver com o governo

26 de junho de 2025 - 19:26

Medida do governo pode impactar negativamente as locadoras de veículos, especialmente no valor dos seminovos

RANKING DO CONSIGNADO

Crédito consignado privado ganha espaço no mercado sob liderança do Banco do Brasil (BBAS3), diz BofA

26 de junho de 2025 - 16:52

O banco americano considera que, além dos bons resultados ainda iniciais, a modalidade é uma tendência em ascensão

MISTUROU E GANHOU

Mais etanol na gasolina: 4 empresas saem na frente, mas só uma é a grande vencedora, segundo o Santander

26 de junho de 2025 - 16:44

O cenário é visto como misto para as distribuidoras, mas as produtoras de biocombustíveis podem tirar algum proveito dessa nova regra

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar