Site icon Seu Dinheiro

Menos ‘blá-blá-blá’ e mais exemplos práticos, rentáveis e copiáveis: como as empresas vão participar da COP30, em Belém (PA)

Ricardo Mussa, CEO da Cosan Investimentos.

Ricardo Mussa, CEO da Cosan Investimentos.

“São poucas as discussões em que o Brasil efetivamente é líder. Até no futebol hoje em dia a gente não é mais reconhecido como o melhor do mundo.” Não precisa ser especialista no esporte para concordar com Ricardo Mussa, ex-executivo da Raízen e da Cosan Investimentos e atual presidente da SB COP, braço da COP30 que reúne quase 40 milhões de empresas de mais de 60 países. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mas não se deprima. Segundo Mussa, temos outros louros a colher. 

“Temos um monte de problemas, mas, comparativamente com o restante do mundo, nas questões ambientais e de renováveis nós somos muito melhores.” — Ricardo Mussa, presidente da SB COP

Mussa é responsável por engajar o setor privado na COP30, conferência global do clima da ONU que acontecerá em novembro em Belém (PA). A afirmação sobre o futebol brasileiro foi feita, em entrevista ao Seu Dinheiro, ao falar sobre a polêmica da hospedagem na capital paraense — os preços abusivos foram apontados por alguns países como um impeditivo para participar do evento. Você pode saber mais sobre isto aqui.

  • Ao que tudo indica, após intervenção da ONU, a organização brasileira agiu e o problema está sendo endereçado. Segundo o último balanço oficial, divulgado na quarta-feira (17), 79 países já confirmaram reserva na capital paraense e outros 70 seguem em negociação.

Segundo Mussa, o país precisa “parar de lavar roupa suja” em público, se unir e mostrar ao mundo o que temos de melhor. Conforme o evento se aproxima, diz ele, é preciso debater com mais ênfase qual é o papel do Brasil nessa discussão climática e como o setor privado pode influenciar as políticas públicas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O executivo reconhece que, no setor corporativo, a questão da logística teve, sim, seu impacto, reduzindo a participação e o engajamento de algumas companhias, mas que a situação deu uma trégua nos últimos dias. “Eu senti que esse já não é o principal tema nas rodas de conversa”, diz ele. “Estamos vendo mais CEOs planejando vir. Alguns não vão para Belém, mas virão para São Paulo.”  

Mussa aponta, ainda, que algumas empresas podem ter usado isso como “desculpa” para não participar da COP30, especialmente em lugares como os EUA, onde o presidente Donald Trump vem se posicionando abertamente de forma contrária às discussões sobre mudanças climáticas.

New York Climate Week e o ‘Oscar’ da sustentabilidade

Por falar em Donald Trump, aliás, neste domingo (21) começa a New York Climate Week, um dos principais eventos globais sobre clima. O movimento, criado em 2009, acontece sempre na metrópole norte-americana em paralelo à Assembleia Geral da ONU.

Mussa estará presente por lá e, nesta segunda-feira (22), deve divulgar o primeiro de dois resultados principais de seu trabalho na SB COP: um relatório com 23 prioridades do setor privado para apoiar as negociações na COP30. O objetivo é influenciar as discussões de políticas públicas para alcançar as metas climáticas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O segundo resultado principal do trabalho de Mussa é uma espécie de “Oscar” de cases privados de sustentabilidade. De milhares de cases que foram apresentados pelas empresas do mundo afora, cerca de 40 a 50 serão selecionados pela SB COP e serão expostos durante a COP30 para todos os países presentes.

“Em vez de ficar lançando somente um pacote de recomendações, que é algo muito teórico, vamos tentar influenciar através do exemplo”, explica o executivo. Segundo ele, existem no mundo diversos casos de sucesso de combate às mudanças climáticas que já foram implementados, têm um bom retorno financeiro e podem ser replicados em larga escala.

“É o que a gente chama de engenharia reversa. Em vez de fazer um projeto novo, vamos olhar o que já está funcionando e escalar.” Os cases escolhidos devem ser divulgados em meados de outubro.

Momento difícil para receber uma COP, mas com luz no fim do túnel

O presidente da SB COP reconhece que o momento atual, em que o Brasil se prepara para receber a COP30, não é dos melhores para um debate sobre clima. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“A prioridade do mundo hoje é outra, com a guerra da Ucrânia e a guerra comercial [de Trump], e ela [a crise climática] passa a ser uma questão menos premente para o curto prazo do que antes”, diz Mussa. “Não quer dizer que ela saiu da pauta, mas outros temas ganharam mais importância.”

Seria um ciclo de baixa do ESG (ambiental, social e de governança), mas a tendência em si não mudou, avalia ele. “Como a ciência mostra que as mudanças climáticas não vão embora sozinhas, a gente vai apenas postergar a solução do problema, mas o problema vai continuar lá.”

Otimista, Mussa aponta uma vantagem desse ciclo de baixa: projetos menos rentáveis acabam ficando pelo caminho, e só sobrevivem os que têm mais rentabilidade. E vai além: “Apesar do vento contra das tendências globais, essa é uma COP com mais prática e com mais participação do setor privado, o que faz com que a gente tenha menos discussão de metas e mais discussão sobre as soluções.”

Exit mobile version