Donald Trump voltou a fazer barulho. Com um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, o presidente dos Estados Unidos parecia pronto para iniciar uma guerra comercial em larga escala contra o Brasil. Mas um olhar mais atento revela um movimento seletivo e até, digamos, contido.
Segundo estimativas do diplomata Geraldo Pastore, quase dois terços das exportações brasileiras aos EUA ficaram de fora da lista do tarifaço anunciada pelo republicano. Ou seja: Trump latiu alto, mas — ao menos por enquanto — mordeu menos do que o esperado.
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O levantamento mais recente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) confirma o alívio. De acordo com os dados, 64,1% das exportações brasileiras para os Estados Unidos seguirão com tarifas inalteradas ou já conhecidas.
Esse percentual combina dois grupos: os 44,6% de produtos contemplados pela lista de exceções, com sobretaxa limitada a até 10%, e os 19,5% que já vinham pagando tarifas específicas, aplicadas globalmente sob o argumento de segurança nacional.
Ou seja, apesar da retórica agressiva e do número redondo — a assustadora sobretaxa de 50% — o impacto prático será bem mais limitado do que o prometido.
O que ficou de fora
Entre os cerca de 700 produtos poupados estão aviões, petróleo, celulose, suco de laranja e minério de ferro, pilares da pauta de exportações do Brasil para os EUA.
Dessa forma, assim que o tarifaço entrar em vigor, esses produtos continuarão sujeitos a alíquotas menores, definidas em abril.
O MDIC também esclareceu que mercadorias já embarcadas até sete dias após a publicação do decreto, em 30 de julho, não serão afetadas pelas novas tarifas, desde que cumpram os critérios técnicos exigidos. A brecha dá fôlego temporário a exportadores que já tinham negócios em andamento.
E quem vai pagar a conta?
Como diz o ditado, quem senta na ponta, paga a conta — e, nesse caso, são os 35,9% restantes da pauta brasileira que vão arcar com as sobretaxas de Trump.
Para esses produtos, o pacote é completo: 10% adicionais somados a mais 40% — totalizando os temidos 50%.
Ainda não há uma lista pública com os itens mais afetados, mas o governo brasileiro monitora possíveis impactos em setores como metalurgia, máquinas, veículos e bens industriais, que costumam ser alvos recorrentes em disputas comerciais. Isso sem contar os produtores de café.
Enquanto isso, outros 19,5% das exportações brasileiras seguem sujeitas a tarifas específicas já em vigor, aplicadas pelos EUA com base em alegações de segurança nacional. Nesse grupo estão automóveis, aço, alumínio e cobre, que enfrentam alíquotas elevadas desde março e maio deste ano.
Antes mesmo desses setores colocarem na ponta do lápis, o governo já fez as contas. Veja como as exportações brasileiras foram (ou não) atingidas pelo tarifaço de Trump, segundo o MDIC:
Categoria | Valor (US$ bilhões) | Participação (%) |
---|---|---|
Produtos sujeitos ao tarifaço de 30/07 (10% + 40%) | 14,5 | 35,9% |
Produtos na lista de exceções (tarifa adicional de até 10%) | 18,0 | 44,6% |
Produtos com tarifas específicas já existentes (todos os países) | 7,9 | 19,5% |
Total | 40,4 | 100% |
*Com informações da Agência Brasil