Você já deve ter ouvido aquela máxima de que “o mercado sempre se antecipa”. Mas no que depender do Morgan Stanley, essa pressa pode ser um erro — pelo menos quando o assunto é o Federal Reserve.
Na contramão das apostas majoritárias, o banco americano não acredita que o Fed vai cortar os juros em 2025. Pelo contrário: acha que o BC dos EUA vai esperar mais tempo do que o mercado gostaria.
O motivo? Um fator que muitos têm subestimado: o impacto inflacionário das tarifas e da política migratória.
Em entrevista ao Valor Econômico, o economista-chefe global da instituição, Seth Carpenter, reforça a leitura de que a inflação ainda vai subir antes de cair. E isso deve manter o Fed parado por mais tempo, mesmo diante de uma economia em desaceleração.
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“Enfrentaremos uma situação em que o emprego estará bem, mas a inflação seguirá mais alta do que o Fed deseja e continuará subindo. Por isso, o banco central não vai querer cortar as taxas até ter certeza de que a inflação parou de subir e começou a cair”, afirmou.
O peso das tarifas e da imigração
Carpenter chama atenção para dois elementos que vêm ganhando força na equação da inflação americana: o tarifaço promovido por Donald Trump e a restrição severa à imigração.
Na avaliação do Morgan Stanley, as tarifas impõem pressão direta sobre os preços e devem manter a inflação elevada nos próximos trimestres, mesmo com o crescimento em desaceleração.
O economista também pontuou que a queda na oferta de mão de obra causada pela política migratória tende a manter o mercado de trabalho artificialmente apertado, o que reduz a sinalização clássica (taxa de desemprego) que normalmente justificaria um corte de juros.
“A economia desacelera, mas a taxa de desemprego não sobe muito. Será mais difícil justificar cortes nas taxas com o mercado de trabalho aparentemente saudável”, afirmou Carpenter.
Corte de juros só em 2026, diz Morgan Stanley
Enquanto o mercado ainda aposta em algum alívio monetário nos EUA até o fim do ano, o Morgan Stanley mantém a projeção de que os juros só começarão a cair em março de 2026.
Mais do que isso: o banco vê um ciclo de cortes mais agressivo do que o precificado atualmente, com a taxa básica terminando em torno de 2,5%.
“A história sugere que a inflação causada por tarifas é temporária. Assim que houver clareza sobre a reversão, será possível cortar com mais força”, disse o economista do banco.
Neste cenário, Seth Carpenter acredita que o dólar deve perder valor frente a outras moedas globais, o que pode abrir espaço para ganhos em países emergentes, como o Brasil.
O economista também projeta uma desvalorização adicional de até 10% no valor da moeda americana, puxada tanto pelo diferencial de juros quanto por uma realocação gradual de portfólios globais. Ou seja, segundo ele, investidores institucionais começariam a reduzir exposição a ativos denominados em dólar, mesmo que de forma moderada.
Para Carpenter, “essa discussão sobre realocação vai durar alguns anos”.
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Bolsa em alta não muda o cenário
Apesar da força das bolsas americanas — com o S&P 500 renovando recordes —, o Morgan Stanley mantém uma visão mais cautelosa sobre o ambiente macro.
O economista lembra que o desempenho do índice tem mais relação com multinacionais e ajustes fiscais do que com a atividade doméstica. E embora não espere uma fuga de capitais dos EUA, o banco vê espaço para uma redução marginal da alocação global em ativos americanos.
Impactos no Brasil
A possível desvalorização do dólar e o fim do aperto monetário nos EUA abrem espaço para cortes mais ousados em outros países, como o Brasil.
Segundo Carpenter, a queda do dólar alivia a pressão sobre moedas emergentes e pode facilitar a redução de juros pelo Banco Central brasileiro, mesmo que os fluxos globais continuem seguindo um ritmo cauteloso.
“É esse tipo de ajuste gradual que devemos ver. Não uma mudança dramática e total, mas um reposicionamento progressivo dos portfólios”, afirmou o economista.
Com juros elevados por mais tempo nos EUA e uma possível desvalorização do dólar no horizonte, o mercado segue atento aos sinais do Fed e ao destino do dólar.