O governo fechou na semana passada algumas brechas que bancos e empresas usavam para emitir títulos isentos de imposto de renda para o investidor. Especificamente no Itaú Unibanco (ITUB4), as letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA) representam hoje 15% do total da captação.
Nesse contexto, como a mudança na regra vai mexer com o banco? Em outras palavras, o custo de captação pode aumentar e, por consequência, pressionar os resultados?
Questionado sobre o assunto, Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, foi taxativo. "Julgamos que o impacto vai ser irrelevante", afirmou, durante entrevista coletiva para comentar os resultados de 2023.
Isso porque, apesar do volume alto, a medida afeta apenas 30% do saldo de LCIs e LCAs que o banco emitiu. Ou seja, o impacto recai sobre 4,5% do funding.
"Na margem vai haver uma migração para o CDB [certificados de depósito bancário], mas que não deve afetar de forma material o custo de captação do banco", disse Maluhy.
Ao contrário das letras de crédito, o CDB não conta com o benefício fiscal, por isso as taxas costumam ser maiores para compensar a diferença do imposto.
- Quer receber em primeira mão as análises dos balanços do 4T23? Clique aqui para receber relatórios de investimentos gratuitos, feitos pelos profissionais da Empiricus Research.
Como funcionam esses títulos de renda fixa
As letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA) e as letras imobiliárias garantidas (LIG) são emitidas por bancos, que captam esses recursos dos investidores com a obrigação destiná-los a financiamentos ligados aos dois setores.
Na prática, a isenção fiscal garante uma rentabilidade maior para o investidor. Assim, ele aceita receber uma taxa menor ao aplicar em uma LCI do que em um título bancário tradicional, como um CDB, o que reduz o custo de funding do banco.
LEIA TAMBÉM:
- Itaú (ITUB4) paga R$ 11 bilhões em dividendos extras — e pode vir mais por aí, diz CEO
- Itaú Unibanco (ITUB4) tem lucro de R$ 35,6 bilhões em 2023 e supera expectativa no 4T23
O problema é que, com o passar do tempo, o mercado começou a ser "criativo" no que diz respeito ao lastro desses papéis. Então a medida do Conselho Monetário Nacional (CMN) deve fechar algumas dessas brechas.
Em relação à LCA, o governo impôs limites para a aplicação dos recursos pelos bancos. A partir de julho, por exemplo, os recursos não poderão mais ir para operações que contam com subsídios da União.
Além disso, o CMN decidiu ampliar de três para 12 meses o prazo mínimo de emissão das LCA e para nove meses nas LCI. Assim, restringe o uso dos papéis como investimento de curtíssimo prazo.