A economia dos EUA se mostrou surpreendentemente resiliente aos juros mais altos dos últimos 23 anos — o Federal Reserve (Fed) aumentou a taxa de referência 11 vezes em 2022 e 2023 para tentar domar a pior inflação em quatro décadas. A maioria dos economistas previu que esse quadro jogaria a maior economia do mundo em recessão.
Isso não aconteceu. A economia norte-americana continuou a crescer, embora a um ritmo mais lento, e os empregadores continuaram a contratar.
Dados divulgados nesta quinta-feira (27) mostraram que, no primeiro trimestre de 2024, os EUA cresceram 1,4% em base anual, marcando uma forte desaceleração em relação aos 3,4% dos últimos três meses de 2023 — ainda assim uma expansão acima das previsões.
O mercado de trabalho também segue firme: em maio, o país criou 272 mil vagas, embora a taxa de desemprego tenha subido pelo segundo mês consecutivo, mas mantendo um nível baixo de 4%.
Ao mesmo tempo, a inflação medida pelo principal indicador de preços do governo, desacelerou de um pico de 9,1% em 2022 para 3,3% agora — um percentual ainda acima da meta de 2% do Fed.
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Economia: uma arma para o debate entre Trump e Biden
Embora a economia dos EUA permaneça saudável de acordo com a maioria das métricas e a inflação esteja bem abaixo do pico, muitos norte-americanos dizem estar frustrados porque os preços ainda estão bem acima dos níveis pré-pandemia.
Por isso, o estado da economia certamente será um tema central na noite desta quinta-feira, quando Joe Biden enfrenta Donald Trump no primeiro debate das eleições presidenciais de 5 de novembro.
Os aluguéis e os alimentos mais caros são fontes específicas de descontentamento, e Trump tem procurado atribuir a culpa a Biden, em uma ameaça à tentativa de reeleição do atual chefe da Casa Branca.
Uma medida da inflação no relatório do PIB divulgado hoje mostrou que as pressões sobre os preços aceleraram no início de 2024. Os preços no consumidor subiram a um ritmo anual de 3,4%, acima de 1,8% no quarto trimestre de 2023.
Excluindo os custos voláteis dos alimentos e da energia, o chamado núcleo de inflação acelerou a um ritmo anual de 3,7%, acima dos 2% em cada um dos dois trimestres anteriores.
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Todo mundo de olho nos juros dos EUA
À luz das pressões inflacionárias ainda elevadas, os membros do comitê de política monetária do Fed indicaram no início deste mês que reduziriam os juros apenas uma vez em 2024 — abaixo da previsão anterior de três cortes nas taxas.
A maioria dos economistas espera que o primeiro corte nos EUA ocorra em setembro, com possivelmente um segundo corte em dezembro.
Logo que os dados de hoje foram divulgados, a ferramenta FedWatch do CME Group mostrava um leve aumento na possibilidade de redução nos juros até setembro: 64,1% de 62,3% antes da publicação dos indicadores.
Até dezembro, o monitoramento apontava um modesto crescimento na chance de cortes de 50 pontos-base pelo Fed, de 42,% logo antes dos dados a 43,5%.
Já para novembro, o cenário visto como mais provável (50,7%) é de que o corte até lá seja de 25 pontos-base, seguido (24,1%) por manutenção e por uma redução de 50 pb (23,1%).
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Se o mercado está de olho nos juros, Trump e Biden também estão.
Quando comandava a Casa Branca, o republicano criticava regularmente o presidente do Fed, Jerome Powell — seu próprio nomeado para o cargo — por não reduzir os juros a zero. Trump chegou até mesmo a considerar destituir Powell do cargo — embora seja uma questão em aberto se o chefe do banco central pode ser destituído legalmente apenas porque o presidente discorda dele em termos de política.
Desde que deixou o cargo, Trump sugeriu que substituiria Powell. O Wall Street Journal informou que alguns de seus conselheiros vão mais longe, considerando formas de o republicano influenciar mais diretamente a política monetária.
Questionar Trump sobre o futuro do Fed durante o debate de hoje pode revelar se ele tem uma agenda que vai além de atacar Powell pessoalmente.
Quanto a Biden, ele tem respeitado a tradição da era moderna de manter o Fed à distância — a chamada independência política que supostamente permite ao banco central tomar decisões que sejam melhores para a economia no longo prazo mesmo que exijam escolhas difíceis no curto prazo.
Mas será que Biden quer realmente que o Fed faça mais para combater as mudanças climáticas, por exemplo, como alguns dos seus apoiadores acreditam que deveria? É isso que vamos descobrir no debate de hoje. O canal do Seu Dinheiro no YouTube fará a cobertura em tempo do confronto a partir de 22h (de Brasília).