Em uma sessão tingida de tons verdes na bolsa brasileira, as ações do Pão de Açúcar (PCAR3) são destaque de alta e lideram a ponta positiva do Ibovespa nesta terça-feira (27).
O setor de varejo avança em bloco, impulsionado pela queda dos juros futuros por aqui e pela melhora do apetite ao risco dos investidores domésticos. Mas o motivo principal dos ganhos expressivos do GPA hoje em pouco tem ligação com o cenário local.
Na realidade, os papéis reagem majoritariamente à notícia de que o Casino — controlador francês da empresa, com uma fatia de 40,9% na varejista — teve seu plano de reestruturação aprovado pelo Tribunal de Paris, segundo o analista Rafael Passos, da Ajax Asset Management.
Ainda está no radar do mercado a possível saída do Casino do controle do GPA.
Por volta das 14h30, os ativos PCAR3 subiam 9,71%, negociados a R$ 3,84. Para além do tom mais positivo do pregão, o GPA ainda se recupera das fortes quedas recentes na B3. A empresa acumula desvalorização da ordem de 6% em um mês e de 44% em um ano.
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O plano do Casino, controlador do Pão de Açúcar (PCAR3)
O varejista francês Casino anunciou na segunda-feira que o tribunal de comércio de Paris aprovou seu plano de recuperação — que inclui um aporte de capital de 1,2 bilhão de euros — equivalente a aproximadamente R$ 6,44 bilhões, nas cotações atuais.
O controlador do Pão de Açúcar, que opera mais de 11,5 mil mercados na França e na América Latina, prevê que o processo de reestruturação chegue ao fim até 27 de março, considerando que não sejam propostos recursos da decisão de ontem daqui para frente.
A companhia possui uma dívida elevada e vem perdendo cada vez mais participação de mercado na França. Em meio à crise, o Casino ainda colocou o Grupo Pão de Açúcar à venda.
No fim de 2023, a varejista entrou em negociações com credores para uma injeção de capital para manter as operações em andamento. O consórcio que irá injetar o dinheiro no Casino é liderado pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky e composto por bancos e um grupo de credores.
“Chegou a hora de dar recursos e, assim, um novo fôlego ao Grupo Casino, redimensionado, reorganizado e livre de dívidas”, disse Kretinsky, em comunicado.
Vale destacar que o aumento de capital da dona do Pão de Açúcar resultará em uma diluição maciça da atual base de acionistas, que ficariam com uma participação de apenas 0,3% no capital social do Casino após a operação.
O Rallye Group, que controla a empresa com 51,7%, ficaria com uma fatia de 0,1%. Já Kretinsky se tornará o novo controlador, responsável por 53,7% do Casino.
Além da injeção de dinheiro novo, o consórcio estipulou uma conversão de dívidas em ações.
O Casino afirmou que, sem a implementação do plano de reestruturação, o valor de firma (enterprise value) do grupo de 3,71 bilhões de euros estaria bem abaixo de sua dívida líquida de 7,88 bilhões de euros.
Nestas condições, o valor econômico por 100 ações seria zero. Após a implementação do plano de recuperação de dívidas, o valor destas 100 ações se aproximará dos 5 euros, o que o Casino disse representar uma cifra “muito próxima” do preço por papel da oferta de ações (follow-on) do aumento de capital reservado ao consórcio.
Segundo o consórcio formado pela EP Equity Investment, Fimalac e Attestor, a equipe de gestão, liderada pelo CEO Philippe Palazzi, irá implementar um “ambicioso plano de reorganização, investimento e modernização no Casino para desenvolver as suas marcas”.
As ações do Casino dispararam 43% na Bolsa de Paris após o anúncio da aprovação do plano de reestruturação pela Justiça francesa.
*Com informações de Reuters, Dow Jones Newswires e Wall Street Journal.