As enchentes no Rio Grande do Sul ligaram um sinal de alerta para a economia do Brasil. A agência de classificação de risco S&P Global alertou que a tragédia climática no estado elevou os desafios fiscais do Brasil — e adicionou obstáculos para a meta de déficit zero defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Para a S&P Global, no entanto, a visibilidade da extensão dos estragos causados pela tragédia — que provocou a morte de mais de 100 pessoas e deixou mais de 200 mil desabrigados — ainda é limitada.
Nas projeções da agência, a catástrofe natural deve ter implicações severas nas contas do governo do Rio Grande do Sul — que não tem notas de risco de crédito da S&P.
“A catástrofe terá impactos fiscais no Rio Grande do Sul. O governo do Brasil deve ajudar o Estado a se reerguer”, afirmam os analistas.
Para a S&P, o socorro do governo federal ao Rio Grande do Sul deve aumentar ainda mais a dificuldade de equilibrar as contas públicas primárias.
Já em relação à inflação e ao crescimento econômico do país neste ano, a avaliação é de que o impacto será marginal ou moderado.
Na última quinta-feira (9), o governo federal anunciou um conjunto de medidas que deve injetar quase R$ 50,945 bilhões na economia do Estado, com antecipação de benefícios, a estruturação de projetos de logística e infraestrutura e aporte de recursos para alavancar e subvencionar o crédito.
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Haddad vai abrir mão da meta de déficit zero?
O anúncio do pacote de quase R$ 51 bilhões ao Rio Grande do Sul levantou questionamentos sobre a capacidade de o governo federal de cumprir com as metas fiscais para 2024 e 2025.
O governo definiu a meta fiscal do próximo ano como déficit primário zero, assim como o alvo deste ano. Vale relembrar que, há um ano, a equipe econômica havia estabelecido que buscaria fazer um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025.
Na noite passada, o ministro da Fazenda afirmou que o pacote de ajuda não deve comprometer a política que busca a meta de resultado primário zero para 2025.
“Não [compromete], porque os gastos com calamidade pública, como aconteceu na pandemia, e estamos falando de uma coisa bem menor, já que a pandemia afetou o Brasil inteiro por muitos meses, mas os números preliminares para a reconstrução do Rio Grande, já divulgados pelo governador, são uma fração do que teve que se investir na pandemia”, afirmou Haddad.
Tragédia no Rio Grande do Sul e os riscos para as empresas
Segundo a S&P, por enquanto, ainda não há impacto nos ratings de empresas afetadas pelo desastre ambiental. Porém, haverá perdas de estoques, produção e vendas no curto prazo.
Já no médio prazo, a expectativa da agência é que persistam pressões inflacionárias maiores do que se antecipava e gargalos logísticos. Em paralelo, os danos às operações de algumas companhias serão permanentes.
As notas do Banrisul (BRSR6) foram colocadas pela S&P em observação negativa, dada a perspectiva de perdas com seguros e do governo gaúcho, principal acionista do banco, enfraquecerem a qualidade de crédito.
O JP Morgan também elencou o Banrisul como um dos bancos mais expostos à tragédia, uma vez que tem operações amplamente concentradas no Rio Grande do Sul.
De acordo com os analistas, 98% da carteira de crédito do Banrisul é formada por pessoas e empresas estabelecidas no Rio Grande do Sul.
Desse total, 22% dos devedores do banco estão em cidades declaradas em estado de emergência.
*Com informações de Agência Brasil e Estadão Conteúdo.