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O dilema do home office: você prefere trabalhar na Sincerolândia ou na Papinholândia?

Dell expôs que os funcionários que optarem pelo home office não poderão disputar promoções, enquanto outras empresas deixam essa posição velada. O que você prefere?

7 de abril de 2024
7:10 - atualizado às 9:13
Trabalho em home office
Trabalho em home office - Imagem: Shutterstock

Eu havia prometido a mim mesmo que não discutiria mais o tema do home office e do modelo híbrido de trabalho. Parecia-me um assunto já exaustivamente abordado sob diversas perspectivas.

Eu mesmo já havia escrito aqui sobre os motivos pelos quais todos eventualmente voltariam ao escritório. Entretanto, a Dell recentemente trouxe o tema de volta à tona. O Seu Dinheiro noticiou isso recentemente.

Segundo informações obtidas pelo portal Business Insider e divulgadas na última semana de março, funcionários da Dell que optarem por permanecer em home office integral (ou seja, todos os dias da semana) não estarão aptos para mudanças de cargo ou mesmo para disputar promoções.

A outra opção para os trabalhadores da Dell é o modelo híbrido de trabalho, no qual a empresa exige pelo menos 39 dias presenciais em um trimestre (algo como três vezes por semana).

Comunicação agressiva

Em vez de criar minha análise sobre o caso sozinho, decidi ouvir a percepção de algumas pessoas sobre o comunicado. A grande maioria concordou que a forma de comunicação foi demasiadamente agressiva.

Uma pesquisa rápida no Reddit corroborou essa opinião, onde encontrei o relato de uma funcionária:

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"Agora todos os colaboradores serão automaticamente convertidos para o trabalho híbrido. Em março, teremos um momento para optar se queremos mesmo ficar no modelo remoto, porém, quem permanecer remoto não poderá mais receber promoções. É isso mesmo, você não cresce mais na carreira e não pode aplicar para outras vagas internas na empresa. Também disseram que quem não comparecer ao escritório pelo menos três vezes será 'priorizado' em futuras reestruturações da empresa. Quem mora longe, terá que se mudar, e as entradas serão controladas pelo crachá; quem não usar o crachá para se registrar no escritório estará violando a política de trabalho híbrido. O nome disso para mim? Um tipo de demissão velada."

Home office ou trabalho presencial: a regra é clara?

Talvez a funcionária esteja certa e essa seja uma estratégia da empresa para reduzir o quadro de funcionários, já prevendo uma possível reação em massa.

Mas não me interesso tanto pelo julgamento do tom da mensagem. O que realmente me fascina neste caso é pensar sobre a beleza da transparência radical ou o impacto que a falta de um posicionamento honesto pode ter na vida e na carreira das pessoas. 

Caso a Dell não esteja utilizando o comunicado como uma estratégia de "demissão velada", há algo que podemos apreciar como positivo nesse episódio: a regra clara e explícita sobre quem leva vantagem nos processos de promoção e movimentações.

No fundo, a empresa está expondo o viés de proximidade, muito comum nos processos decisórios no ambiente de trabalho.

Em vez de tentar atenuá-lo para que o modelo híbrido seja justo para todos, a gigante de tecnologia prefere deixar claro que a frequência ao escritório será uma métrica utilizada nas avaliações.

Produtividade e meritocracia

Diferentemente da Dell, tenho certeza de que há um grupo considerável de outras empresas que adotam a narrativa de que "somos híbridos", mas na prática, irão favorecer aqueles que mais estão presentes na empresa.

Este é um jogo pouco honesto, onde o discurso e a prática estão em dissonância. Há quem prefira abraçar essa ilusão.

Que a produtividade e entrega não são afetadas no modelo remoto, já estamos todos cansados de saber. Há inúmeros estudos recentes que comprovam essa tese.

Entretanto, quando o assunto é meritocracia, sabemos que as decisões de muitos conselhos executivos são menos ou quase nada científicas ou baseadas em dados, e muito mais influenciadas por crenças de (falso) controle e vieses de proximidade e afinidade, embora em suas páginas no LinkedIn digam que são altamente flexíveis.

Diante disso, proponho um questionamento. Se você tivesse que escolher entre duas empresas:

Empresa A:

"Aqui na empresa Sincerolândia, buscamos profissionais com diferentes necessidades de carreira e todos são bem-vindos, respeitados e tratados de forma transparente. Há aqueles que preferem o modelo 100% remoto, pois também valorizam um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. 

A fim de respeitar as decisões individuais, mas mantendo nosso princípio de transparência como empresa, gostaríamos de deixar claro que apenas os que comparecem ao escritório são elegíveis para promoções. Gostou? Então inscreva-se em nossas vagas!"

Desfecho: No final do ano, apenas aqueles que marcaram presença na sede da empresa conquistaram promoções.

Empresa B:

"Aqui na empresa Papinholândia, buscamos pessoas com diferentes necessidades de carreira e todos são bem-vindos, respeitados e tratados de forma transparente. 

Somos uma empresa que valoriza a flexibilidade e, por isso, adotamos os modelos remoto e híbrido. Gostou? Então inscreva-se em nossas vagas!"

Desfecho: No final do ano, apenas aqueles que marcaram presença na sede da empresa conquistaram promoções.

Home office pode ser uma decisão de carreira

Entre as duas, prefiro aquela que é transparente e coerente na prática com seu discurso.

E não esqueçamos o conceito de trade-off. Termo em inglês que se refere a uma troca entre duas ou mais opções, onde ao escolher uma, geralmente há a renúncia ou redução da outra. 

Na nossa carreira, às vezes nos deparamos com escolhas que abraçam todas as nossas âncoras e desejos de carreira, enquanto outras vezes o trade-off será imperativo.

Até a próxima,

Thiago Veras

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