O mercado lá fora já estava posicionado há semanas para o retorno de Donald Trump à Casa Branca, ainda assim, a consagração do republicano nas urnas fez o dólar disparar no exterior e colocou Wall Street nas máximas desta quarta-feira (6). Por aqui, no entanto, o clima foi outro: o Ibovespa descolou das bolsas norte-americanas, chegando a cair mais de 1% ao longo do dia.
Em Nova York, o Dow Jones subiu 1.500 pontos, ou 3,6% — a última vez índice saltou mais de 1.000 pontos em um dia foi em novembro de 2022. O S&P 500 também atingiu uma alta histórica, saltando 2,6%. O Nasdaq subiu quase 3% renovando sua própria máxima.
Os ativos que devem se beneficiar com a presidência de Trump também explodiam: as ações da Tesla — cujo CEO Elon Musk é um importante apoiador do republicano — deram um salto de 14,75% hoje.
Os papéis de bancos também ganharam impulso com JPMorgan, Bank of America subindo mais de 10%, enquanto o Wells Fargo avançou 9%.
O índice de referência de small cap Russell 2000 saltou 5,8%. Segundo especialistas, as pequenas empresas — que são mais voltadas para o mercado doméstico e são cíclicas — serão grandes beneficiadas dos prometidos cortes de impostos e das políticas protecionistas que Trump pretende implementar.
No mercado de criptomoedas, o bitcoin renovou máxima com a vitória do republicano, operando acima dos US$ 75 mil. O Seu Dinheiro detalhou o desempenho dos ativos digitais e você pode conferir tudo aqui.
O que explica a reação negativa do Ibovespa?
Por aqui, o Ibovespa terminou o dia com queda de 0,24%, aos 130.340,92 pontos. Além da eleição de Trump, os investidores por aqui aguardavam a decisão de política monetária do banco central brasileiro.
Para alguém mais desatento, o comportamento do Ibovespa hoje pode causar estranheza: se a maioria das bolsas lá fora sobe em reação à vitória de Trump, por que o principal índice da bolsa brasileira vai na direção contrária?
A resposta está nas propostas que Trump pretende implementar em seu segundo mandato. Corte de impostos, elevação de tarifas e deportação de imigrantes têm o potencial de acelerar a inflação nos EUA e, consequentemente, segurar os juros do Federal Reserve (Fed) em patamares mais elevados. A taxa por lá está atualmente na faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano e o Fed se reúne amanhã (7) para uma nova decisão.
Acontece que juros mais altos tornam mais atrativos os títulos do Tesouro norte-americano — papéis que são considerados os mais seguros do mundo para investidores.
Quando isso acontece, o fluxo de investimento global acaba se deslocando de forma mais firme para os EUA — contribuindo, inclusive, para o fortalecimento do dólar.
Esse movimento é especialmente prejudicial para as economias emergentes, entre elas o Brasil.
Por conta das fragilidades e do risco que representam para os investidores, essas economias precisam ter juros reais muito altos para atrair dólares de investidores estrangeiros. Se os juros estão mais altos nos EUA, fica mais difícil disso acontecer.
TRUMP ELEITO: E agora, o que será da maior economia do mundo?
Por que o dólar ganha força mundo afora?
Assim que Trump consolidou a vitória, o dólar passou a se valorizar em todo o mundo. No Brasil, a moeda norte-americana chegou a subir quase 2%, cotada a R$ 5,8619 na máxima do dia, mas acabou encerrando na contramão, com queda de 1,26%, a R$ 5,6759.
Na China, a relação entre o yuan e o dólar nesta manhã era a maior desde agosto. O peso mexicano, o peso chileno e o rand sul-africano também carregavam grandes perdas em relação a moeda norte-americana.
O que explica o movimento do dólar é basicamente o mesmo efeito da vitória de Trump sobre a economia brasileira: a avaliação de que as medidas fiscais e de imigração prometidas do republicano possam acelerar a inflação nos EUA.
Essas políticas teriam reflexo nos juros, nos títulos do Tesouro norte-americano e, por consequência, no dólar.
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Trump: alegria de uns e preocupação para outros
Enquanto Wall Street celebra a vitória de Trump com novos recordes, o restante do mundo segue preocupado, especialmente por conta das tarifas comerciais.
Durante a campanha, o republicano disse repetidas vezes que vai aumentar as tarifas de importação, principalmente em relação à China.
Se os produtos importados ficam mais caros para os norte-americanos, a inflação tende a acelerar nos EUA.
Soma-se a isso o plano de Trump de fazer deportações em massa de imigrantes ilegais e endurecer a entrada de novos imigrantes no país sob o argumento de que essa mão de obra tem tirado o emprego dos norte-americanos.
Acontece que o impacto dessa política de imigração mais dura também pode ser inflacionário: com menos imigrantes, o custo de produção nos EUA tende a subir e se refletir em preços maiores.
E o remédio para uma inflação acelerada é o aperto monetário. É bem verdade que, depois de quatro anos, o Fed finalmente começou a cortar os juros nos EUA.
Mas, repetidas vezes o presidente do BC norte-americano, Jerome Powell, declarou que pode interromper o corte de juros e elevar as taxas se a inflação voltar a ser uma ameaça para a economia.