O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, sempre teve certa simpatia do mercado financeiro. Suas propostas ultraliberais, que incluem a privatização da petroleira YPF, são como um belo tango tocando ao fundo para os economistas locais.
Na segunda-feira (20) após a eleição, o feriado por lá manteve a bolsa fechada — o que não impediu os ADRs — os recibos de ações negociados em Nova York — de registrarem alta de até 40% por lá.
Nesta terça-feira (21), o “efeito Milei” chegou ao índice Merval, o “Ibovespa argentino”, que chegou a saltar mais de 18% desde a abertura.
Entre as ações, as maiores altas são da empresa de Telecom Argentina, da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) e da Transportadora de Gas del Sur (TGS). Confira:
Empresa | Var (%) |
Telecom Argentina | 42,90% |
Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) | 37,58% |
Transportadora de Gas del Sur (TGS) | 24,72% |
Cresud | 21,85% |
Transportadora Gas del Norte | 19,49% |
Banco Supervielle | 19,19% |
Cablevision Holdings | 18,94% |
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Argentina vive disparada do dólar paralelo
Mas como todo tango, o da eleição de Milei também tem seu lado dramático. Se por um lado a bolsa dispara, o peso argentino reage em forte desvalorização à vitória do candidato ultraliberal.
O dólar blue (a cotação paralela da moeda norte-americana) escalou para perto de suas máximas históricas hoje, em um salto de mais de 12%.
Assim, cada dólar vale cerca de 1.070 pesos argentinos para venda (1.020 na compra), na cotação blue — vale lembrar que esta é a mais próxima da realidade. Nas máximas históricas, a moeda chegou a 1.100 pesos por dólar.
Recentemente, o governo voltou a afrouxar as amarras sobre o dólar após congelar as cotações em agosto. Mas dentro de um sistema de crawling peg — também chamado de “banda cambial” —, que libera as oscilações de preços dentro de um intervalo para evitar choques de câmbio.
E os motivos para isso
Além da privatização, uma das propostas de Milei é a dolarização completa da economia argentina — que hoje já é parcialmente dolarizada. O novo presidente eleito também defendeu que o BCRA, o Banco Central do país, fosse fechado, consequentemente extinguindo o peso argentino.
É verdade que a população argentina sempre teve apego pela segurança da moeda norte-americana, mas o movimento se intensificou com a chegada de Milei ao poder.
O novo presidente só assumirá em 10 de dezembro a cadeira na Casa Rosada, sede do governo, e enfrentará um Congresso bastante dividido para aprovar suas propostas.
Xadrez político na Argentina
Além dos problemas de caráter econômico, Milei precisará adquirir certo jogo de cintura para lidar com o Congresso. Isso porque seu partido — o La Liberdad Avanza (LLA) — não formou maioria em nenhuma das casas legislativas.
Para formar maioria na Câmara, são necessários 129 parlamentares. O LLA se tornou a terceira força na Câmara, com 37 deputados.
Pode-se contar com um número maior após a recente aliança com o partido Juntos por el Cambio (JxC) — segunda maior bancada, com 93 parlamentares eleitos —, que ajuda a compor um número mais confortável de 130 deputados.
Entretanto, a agora oposição Unión por la Patria (UP) ainda é a maior bancada de todas, com 108 deputados eleitos.
No Senado, a situação é parecida: o LLA tem 8 senadores, o JxC tem 24 e o UP tem 34. Para formar maioria na Casa Legislativa, são necessários 37 congressistas.