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Há duas semanas, em meio a mais uma das inúmeras instabilidades que o Twitter vem sofrendo nos últimos meses, o Meta (antigo Facebook) enfim lançou um produto para competir com ele: o Threads.
Num período de duas semanas, basicamente todo mundo da minha timeline deu uma chance à novidade. Mas, e aí, será que o hype é para valer? Será que ainda estaremos falando sobre o Threads daqui seis meses?
Clubhouse 2.0?
Posso atestar que cachorro picado por cobra, tem medo de salsicha. Há alguns anos, escrevi uma coluna aqui no Seu Dinheiro, absolutamente entusiasmado com o lançamento do Clubhouse; talvez você nem se lembre que ele existiu, mas, durante duas semanas, foi o ponto de encontro em tecnologia.
O aplicativo basicamente permitia a transmissão ao vivo de Podcasts, para uma audiência selecionada, apenas no formato de áudio (ou seja, sem vídeos, como no Youtube).
Na época, eu apresentava junto com meus amigos Vinícius Bazan e André Franco, o segundo podcast de tecnologia mais ouvido do Brasil, o Tela Azul. Fizemos uma transmissão no Clubhouse — e, depois, nunca mais.
Em um mês, a novidade passou por três ciclos:
- Um aplicativo desconhecido que alcançou 100 milhões de downloads;
- Depois, recebeu uma enorme capitalização, avaliando a empresa em US$ 1 bilhão do dia para a noite (tornando-a um unicórnio);
- E, por último, foi completamente esquecido.
Há duas semanas, enquanto me inscrevia no Threads, senti uma espécie de déjà vu.
Amparado nos ombros do Instagram e no impulsionamento forçado pelo Meta, o Threads decolou em velocidade similar a do Clubhouse. A ele, surgiram as profecias de que esse era o fim do Twitter.
O tweet abaixo de Matt Prince, CEO e fundador da Cloudflare, é bastante ilustrativo:
Não deixa de ser cômico que alguém vá ao Twitter professar o fim do Twitter, mas tudo bem.
Uma semana depois, o mesmo serviço de tracking da empresa de Matt mostrava que o tráfego no site de Elon Musk estava absolutamente normalizado, como se nada tivesse acontecido.
Três gráficos que representam a ascensão do Threads até aqui
O primeiro, obviamente, é o da quantidade de usuários.
Em cinco dias, o aplicativo chegou a 100 milhões de cadastros:
Perceba como o pico no Threads coincide com o período destacado em vermelho no gráfico de tráfego do Twitter.
Agora, vamos ao segundo gráfico, que mede o interesse de buscas no Google pela palavra "Threads" ao redor do mundo, nos últimos 30 dias:
Depois de um pico espetacular, o Threads segue firme rumo ao esquecimento, da mesma maneira que o finado (?) Clubhouse.
Agora, vamos ao último dos gráficos.
A seguir, eu mantenho o interesse de buscas no Google pela palavra "Threads". Para adicionar uma base de comparação, eu coloco também o interesse por "Twitter" (em vermelho).
Eu não sei você, mas a sensação que eu tenho é a de que o Threads fez muito barulho, mas não convenceu.
Ainda estaremos falando sobre o Threads em seis meses?
É provável que sim.
Se você deu uma chance ao Threads, deve ter percebido que ele ainda não é um produto acabado. Faltam funcionalidades básicas e a interface é limitada — ou seja, o Meta simplesmente ainda não tem um bom produto.
Com o Twitter fora do ar e os seus usuários irados, a sensação que eu tenho é de que o Meta simplesmente viu uma janela boa demais para ignorar e decidiu ir adiante, mesmo com o produto ainda "cru".
Um lançamento de produto como esse dificilmente será abandonado do dia para a noite e deverá ganhar muitas atualizações nos próximos meses. Toda vez que isso acontecer, haverá um breve pico de interesse renovado pelo produto.
O mais estranho dessa história toda é que, imagino, todos iremos descobrir os updates do Threads através de alguma postagem no Twitter.
Se há algo que você pode inferir sobre essa coluna em relação às ações do Meta (já que o Twitter não é mais listado), é que o Threads simplesmente não terá relevância durante um bom tempo.