A guerra entre Israel e o Hamas acontece há mais de 10 mil quilômetros do Brasil. A distância do conflito, no entanto, é apenas geográfica. Quando se trata do seu bolso e dos seus investimentos, o confronto militar está mais perto do que os mapas podem mostrar.
O primeiro efeito do ataque surpresa — e histórico — do Hamas ao território israelense deve ser sentido no petróleo. A guerra acontece no quintal dos principais produtores da commodity no mundo, entre eles, a Arábia Saudita.
Embora tenha terminado a sexta-feira (6) em alta, tanto o petróleo tipo Brent — usado como referência internacional, inclusive pela Petrobras (PETR4) — como o WTI, a referência para o mercado norte-americano, acumulam perdas de mais de 8% na semana e estão longe do patamar de US$ 100 o barril.
A guerra entre Israel e o Hamas, portanto, tem um potencial enorme de fazer o petróleo disparar a partir da segunda-feira (9), quando os mercados voltam a operar normalmente. Petróleo em alta é sinônimo de inflação — e é aí que mora o problema.
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Inflação, sempre ela
Os bancos centrais ao redor do mundo travam desde o início do ano passado uma batalha contra a inflação, e a principal arma para vencer a guerra contra o aumento de preços é o aperto monetário.
O Brasil foi um dos primeiros países a iniciar o aumento da taxa de juros e agora vive um momento de afrouxamento monetário. O mesmo, no entanto, não acontece com o principal banco central do mundo, o Federal Reserve (Fed).
O BC dos EUA ainda está na luta para fazer a inflação voltar para a meta de 2% no longo prazo. Em agosto, o índice de preços para gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) — a medida preferida do Fed para a inflação — alcançou 3,5% em base anual.
O fato de os preços ainda estarem longe da meta nos EUA é o principal responsável pelo atual nível da taxa básica de juros no país: 5,25% a 5,50% ao ano, o maior patamar em 20 anos.
Portanto, se o petróleo retomar a trajetória de alta por conta da guerra entre Israel e Hamas, as chances de aceleração da inflação no mundo são grandes — assim como a probabilidade de o Fed seguir elevando a taxa básica por ainda mais tempo do que já é esperado.
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Mas não é só isso…
O fato de o petróleo subir e alimentar a inflação já coloca por si uma pressão sobre os investidores.
A cereja do bolo da possível alta do petróleo em reflexo da guerra entre Israel e Hamas é a pressão sobre os juros projetados pelos Treasurys, como são conhecidos os títulos de dívida do governo norte-americano.
A alta dos yields dos Treasurys significa queda de ativos de risco como ações e a penalização de ativos emergentes, inclusive os brasileiros, além da valorização de refúgios em tempos de incerteza como o dólar e o ouro.
Nesta semana, os investidores assistiram a disparada dos juros dos Treasurys — que atingiram o maior patamar em 16 anos. Ontem, os yields dos títulos com vencimento mais longo, de 30 anos, bateram na casa dos 5%.
Esse avanço foi patrocinado por alguns fatores como a venda desses papéis por Japão e China, pela perspectiva de novo aumento dos juros pelo Fed ainda este ano e pelos dados mais fortes do que o esperado do mercado de trabalho norte-americano.
Os juros dos Treasurys são usados como referência para praticamente tudo no mundo: de financiamento imobiliário a crédito bancário. Portanto, se os yields desses títulos disparam, pesa no bolso do investidor.