O desagradável som de tic-tac se faz cada vez mais presente ao redor da Europa, enquanto o continente corre contra o tempo para escapar de um congelante inverno agravado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. Na tentativa de driblar os cortes de gás russos, a Alemanha fechou um novo negócio bilionário que, na prática, vai tornar a gigante de energia Uniper uma empresa estatal.
O governo alemão decidiu assumir o controle da companhia, que antes era a maior importadora de gás russo da Alemanha, e deverá desembolsar 8 bilhões de euros para injetar recursos e adquirir a participação na empresa.
“Este passo se tornou necessário porque a situação claramente mudou” nas últimas semanas, disse Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha,
Trata-se da segunda ação de Berlim para garantir o fornecimento de energia para residências e empresas em todo o país.
Na semana passada, a Alemanha ainda assumiu o controle da Rosneft, uma refinaria de petróleo russa que fornece 90% do combustível para Berlim.
O governo alemão e a Uniper
No fim de julho, a maior empresa de comercialização de gás da Alemanha estava à beira da falência, em consequência do fechamento das torneiras de gás por Moscou após as sanções ocidentais.
Vale destacar que a empresa é responsável pelo fornecimento de aproximadamente 40% de todo o gás usado no país, inclusive para o aquecimento das residências.
Então, o país aprovou um pacote de resgate de 15 bilhões de euros para evitar que a companhia quebrasse, e ainda abocanhou uma participação de 30% na Uniper.
Porém, a situação da gigante energética continuou se deteriorando rapidamente, somando perdas de mais de 8,5 bilhões de euros com o gás — e o governo alemão decidiu intervir mais uma vez.
Berlim concordou em nacionalizar a Uniper, a fim de garantir o fornecimento de energia para residências e empresas nos próximos meses.
O mais novo negócio
Agora, Berlim atualizou o pacote e vai desembolsar outros 8 bilhões de euros para injetar na Uniper. O acordo inclui um aumento de capital, uma linha de crédito do governo alemão e a compra de papéis da companhia.
A Alemanha irá adquirir as ações da companhia que ainda não havia comprado e ainda aumentará o capital da empresa alemã. Com o negócio, o governo totalizará uma fatia de 98,5% na empresa.
Até que a operação de aumento de capital seja concluída, o banco estatal alemão KfW garantiu fornecer à empresa um suporte de liquidez adicional caso seja necessário.
O negócio também estipula a emissão de 4,7 mil milhões de novas ações da Uniper, que Berlim pretende subscrever ao valor nominal de 1,70 euros por papel.
Alemanha compra fatia da Fortum na Uniper
Após o aumento de capital na Uniper, parte da injeção bilionária da Alemanha servirá para comprar a participação da finlandesa Fortum, de 56%, na Uniper, que custa em torno de 500 milhões de euros.
"Estamos investindo na Uniper com 8 bilhões de ações e estamos efetivamente comprando a Fortum", disse o ministro da Economia alemão, Robert Habeck.
O governo ainda deverá financiar o reembolso do empréstimo de 4 bilhões de euros que a Fortum concedeu à Uniper.
O negócio ainda estipula que a finlandesa terá o direito de primeira oferta caso a gigante de energia alemã pretenda vender a totalidade ou parte de seus ativos hidrelétricos e nucleares suecos até 2026.
Assim que o acordo for concluído, a Fortum estará “livre” de suas relações com a Uniper, e poderá assumir a geração de energia limpa nórdica como seu principal negócio.
“O papel do gás na Europa mudou desde que a Rússia atacou a Ucrânia, assim como as perspectivas para um portfólio de gás pesado. Desse modo, o negócio de um grupo integrado não é mais viável”, afirmou Markus Rauramo, CEO da Fortum.
Alemanha e a refinaria russa Rosneft
Na última sexta-feira, o governo alemão também assumiu o controle de três refinarias de petróleo de propriedade russa localizada na Alemanha, que fornece em torno de 90% do combustível da capital.
As subsidiárias da Rosneft em território alemão correspondem a 12% da capacidade de refino do país.
Desde a semana passada, as unidades da Rosneft passaram a ser administradas pela Bundesnetzagentur, a agência governamental de Berlim que supervisiona as redes elétricas alemãs.
“Esta é uma decisão de política energética de longo alcance para proteger nosso país”, disse o chanceler Olaf Scholz.
*Com informações de Reuters e The New York Times