Os distratos vão voltar a ser um problema para o setor imobiliário? Veja o que esperar do bicho-papão da construção civil
Ninguém gosta de reviver um trauma. Mas, desde o início do processo de alta da taxa Selic, o mercado voltou a temer o retorno do “fantasma” dos distratos
Alguns medos são irracionais, sem uma justificativa plausível para aterrorizarem a mente. Já outros têm origem em traumas vivenciados e marcados na memória. Os distratos, que são um dos principais bichos-papões do setor imobiliário, se encaixam na segunda categoria.
Como o nome indica, o movimento ocorre quando há a extinção de um contrato, neste caso o da venda de um imóvel. O termo ficou mais famoso em 2014, quando a alta dos juros e a recessão econômica levaram muita gente a cancelar a compra de casas e apartamentos na planta, fosse por vontade própria ou pela escassez de financiamento bancário.
Sem uma norma jurídica que regulamentasse a situação, as construtoras e incorporadoras chegavam a devolver até 75% do valor para os compradores, o que amplificou a crise do setor e inviabilizou a conclusão das obras e a entrega de uma série de empreendimentos.
Ninguém gosta de reviver um trauma. Mas desde o início do processo de alta da taxa básica de juros (Selic), o mercado voltou a temer o retorno do “fantasma” dos distratos.
Só que desta vez o setor de construção civil não espera tomar maiores sustos. Nesta reportagem eu explico para você por quê.
Legislação “blindou” construtoras dos distratos
Um marco para a confiança das construtoras e incorporadoras ocorreu no final de 2018, quando o então presidente Michel Temer sancionou a Lei dos Distratos.
Leia Também
O texto prevê que quem desistir da compra receberá metade do que pagou à construtora. Além disso, a devolução ocorre apenas após a conclusão das obras e emissão do “habite-se”, documento que viabiliza o uso dos imóveis.
Aliada à melhora no cenário econômico, a legislação provou uma queda brusca no número de distratos, segundo dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
A relação entre os cancelamentos e as vendas brutas do segmento de Médio e Alto Padrão (MAP) caiu de 34% no primeiro semestre de 2018 para 11% no mesmo período deste ano. Este é o menor nível desde o início da série histórica.
Os dados da associação – que vêm de 18 construtoras filiadas à Abrainc, incluindo Cury (CURY3), Cyrela (CYRE3), Even (EVEN3), EzTec (EZTC3), Tenda (TEND3) e outras empresas listadas na B3 — não trazem um recorte de quando foram feitos os distratos que aparecem no número deste ano.
Mas o presidente da Abrainc, Luiz França, afirma que boa parte do percentual ainda reflete cancelamentos de contratos anteriores à lei.
“A queda [nos distratos] já está sacramentada e tem uma reação positiva no mercado, pois, quando os cancelamentos sobem, a tendência é crescer também a insegurança jurídica e a cautela das empresas. E, se tivermos um número pequeno de lançamentos e uma demanda grande, quem vai pagar essa conta é o comprador”, argumenta França.
Com o arcabouço jurídico garantido, o número de lançamentos de imóveis cresceu, mas a variação foi de apenas 3% em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Para Fanny Oreng, head da divisão de real estate do Santander, o avanço tímido está longe de ser algo negativo, pois demonstra a disciplina das empresas: “Ninguém está lançando para gerar estoque. Ou você lança e vende ou adia o próximo projeto.”
- LEIA TAMBÉM: Magazine Luiza (MGLU3) já era? Cara ou barata? Com uma queda de mais de 30% no ano, alguns fatores marcantes podem impactar a ação e concorrentes daqui para frente. Acesse neste link mais detalhes.
Valorização de imóveis e poupança contribui para queda dos distratos
Por falar em estoques, Oreng explica que a oferta controlada de novas unidades também contribuiu para a redução dos distratos.
“Nós vimos uma apreciação do valor do imóvel, ao contrário de lá atrás [na crise de 2014] quando o excesso de oferta foi tão grande que levou a uma queda. Então hoje, quem distrata uma unidade está perdendo dinheiro.”
A analista do Santander destaca ainda que, no início do ano, existia uma preocupação por parte do mercado sobre o efeito da correção dos contratos — que é indexada ao Índice Nacional da Construção Civil (INCC) — sobre os distratos.
Vale relembrar que o INCC, que é referência para a inflação do setor, subiu forte durante a pandemia de covid-19, acumulando alta de quase 16% em 2020, no período mais crítico do combate ao vírus no Brasil..
“Qual era o medo do mercado? Que, com um reajuste tão grande, a dívida do cliente seria muito alta e provavelmente ele não teria renda para enquadrar o financiamento bancário na hora do repasse”, relembra Oreng.
Mas a inflação foi mitigada por outro fator ligado à pandemia. Com o turismo interrompido e comércio fechado, parte dos consumidores direcionou recursos para a antecipação do saldo devedor dos imóveis.
O que percebemos, conversando com empresas, é que o cliente que está se desligando hoje — ou seja, que está indo para banco — precisa de um crédito muito menor. Historicamente, o valor do financiamento imobiliário girava em torno de 60% a 70% do valor do imóvel, atualmente está entre 30% e 40%.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEFanny Oreng, Santander
O bicho-papão à espreita?
Superar um medo é possível, mas o processo árduo e, muitas vezes, demorado pode ser atrasado por gatilhos que relembrem o bicho-papão pessoal de cada um.
No caso das construtoras, um desses gatilhos poderia ser acionado no próximo ano, quando, considerando o ciclo da construção civil, será entregue boa parte dos imóveis vendidos no início de 2020, com os juros na mínima história e a inflação ainda sob controle?
O CEO da Moura Dubeux (MDNE3), Diego Villar, acredita que não: “Eu não estou tão preocupado com distratos em 2023. Este era o ano mais desafiador, e o indicador se comportou muito bem”.
A relação entre os cancelamentos e as vendas brutas da companhia, que é líder do setor na Região Nordeste, ficou em 7,6% nos primeiros nove meses de 2022. O número representa um avanço de apenas 1,4 ponto percentual na comparação com o mesmo período do ano passado.
Além de ter mantido a estabilidade dos distratos, Villar destaca ainda que a construtora tem conseguido revender as unidades devolvidas com ganho de preço sobre a venda original.
“Se o mercado entrar em recessão e os imóveis perderem valor, poderemos voltar para aquela mesma realidade dura, mas a gente não vê isso num horizonte de médio prazo”, prevê o CEO.
Villar também se mostra confiante em relação à judicialização de consumidores em busca de devoluções maiores do que o previsto: “A lei é muito nova, e, quando a gente fala de Judiciário no Brasil, é preciso esperar um prazo maior para conferir a efetividade. Mas, no nosso caso, isso já foi testado e foi aplicado o que rege a lei.”
Americanas (AMER3) aceita nova proposta da BandUP! para a venda da Uni.Co, dona da Imaginarium e Pucket; entenda o que falta para a operação sair do papel
A nova oferta conta com os mesmos termos e condições da proposta inicial, porém foi incluído uma provisão para refletir novas condições do edital de processo competitivo
Vale tudo pelos dividendos da Petrobras (PETR4)? O que esperar do plano estratégico em ano de eleição e petróleo em queda
A estatal está programada para apresentar nesta quinta-feira (27) o novo plano de negócios para os próximos cinco anos; o Seu Dinheiro foi atrás de pistas para contar para você o que deve ser divulgado ao mercado
Lula mira expansão da Petrobras (PETR4) e sugere perfuração de gás em Moçambique
O presidente afirmou que o país africano tem muito gás natural, mas não tem expertise para a extração — algo que a Petrobras pode oferecer
Mais um adeus à B3: Controladora da Neoenergia (NEOE3) lança OPA para comprar ações e retirar empresa da bolsa
A espanhola Iberdrola Energia ofereceu um prêmio de 8% para o preço dos papéis da Neoenergia; confira o que acontece agora
Banco Master: Light (LIGT3) e Gafisa (GFSA3) dizem não ter exposição ao banco, após questionamentos da CVM
A Light — em recuperação judicial — afirmou que não mantém qualquer relação comercial, operação financeira ou aplicação ligada ao Banco Master ou a instituições associadas ao conglomerado.
Hapvida (HAPV3) revive pesadelo do passado… só que pior: além do balanço, o que realmente está por trás da queda de 42% em um dia?
Não é a primeira vez que as ações da Hapvida são dilaceradas na bolsa logo após um balanço. Mas agora o penhasco foi maior — e tem muito mais nisso do que “só” os números do terceiro trimestre
Sem esclarecer irregularidades, Banco Master diz não ser responsável por R$ 12,2 bilhões repassados ao BRB
Segundo o Master, a empresa que deu origem ao crédito foi a responsável pela operação e pelo fornecimento da documentação com irregularidades
Após privatização e forte alta, Axia Energia (AXIA3), Ex-Eletrobras, ainda tem espaço para avançar, diz Safra
O banco Safra reforçou a recomendação outperform (equivalente a compra) para a Axia Energia após atualizar seus modelos com os resultados recentes, a nova política de dividendos e premissas revisadas para preços de energia. O banco fixou preço-alvo de R$ 71,40 para AXIA3 e R$ 77,60 para AXIA6, o que indica retorno potencial de 17% […]
Neoenergia (NEOE3) levanta R$ 2,5 bilhões com venda de hidrelétrica em MT, mas compra fatia na compradora e mantém participação indireta de 25%
Segundo a Neoenergia, a operação reforça sua estratégia de rotação de ativos, com foco na otimização do portfólio, geração de valor e disciplina de capital.
Hapvida (HAPV3): Itaú BBA segue outras instituições na avaliação da empresa de saúde, rebaixa ação e derruba preço-alvo
As perspectivas de crescimento se distanciaram das expectativas à medida que concorrentes, especialmente a Amil, ganharam participação nos mercados chave da Hapvida, sobretudo em São Paulo.
BRB já recuperou R$ 10 bilhões em créditos falsos comprados do Banco Master; veja como funcionava esquema
Depois de ter prometido mundos e fundos aos investidores, o Banco Master criou carteiras de crédito falsas para levantar dinheiro e pagar o que devia, segundo a PF
Banco Master: quem são os dois empresários alvos da operação da PF, soltos pela Justiça
Empresários venderam carteiras de crédito ao Banco Master sem realizar qualquer pagamento, que revendeu ao BRB
Uma noite sobre trilhos: como é a viagem no novo trem noturno da Vale?
Do coração de Minas ao litoral do Espírito Santo, o Trem de Férias da Vale vai transformar rota centenária em uma jornada noturna inédita
Com prejuízo bilionário, Correios aprovam reestruturação que envolve demissões voluntárias e mais. Objetivo é lucro em 2027
Plano prevê crédito de R$ 20 bilhões, venda de ativos e cortes operacionais para tentar reequilibrar as finanças da estatal
Supremo Tribunal Federal já tem data para julgar acordo entre Axia (AXIA3) e a União sobre o poder de voto na ex-Eletrobras; veja
O julgamento acontece após o acordo entre Axia e União sobre poder de voto limitado a 10%
Deixe o Banco do Brasil (BBAS3) de lado: para o Itaú BBA, é hora de olhar para outros dois bancões — e um deles virou o “melhor da bolsa”
Depois da temporada de balanços do terceiro trimestre, o Itaú BBA, que reiterou sua preferência por Nubank (ROXO33) e Bradesco (BBDC4), enquanto rebaixou a indicação do Santander (SANB11) de compra para neutralidade. Já o Banco do Brasil (BBAS3) continua com recomendação neutra
O novo trunfo do Magazine Luiza (MGLU3): por que o BTG Pactual vê alavanca de vendas nesta nova ferramenta da empresa?
O WhatsApp da Lu, lançado no início do mês, pode se tornar uma alavanca de vendas para a varejista, uma vez que já tem mostrado resultados promissores
5 coisas que o novo Gemini faz e você talvez não sabia
Atualização do Gemini melhora desempenho e interpretação de diferentes formatos; veja recursos que podem mudar sua rotina
Vibra (VBBR3) anuncia R$ 850 milhões em JCP; Energisa (ENGI11) e Lavvi (LAVV3) anunciam mais R$ 500 milhões em dividendos
Vibra e Energisa anunciaram ainda aumentos de capital com bonificação em ações; veja os detalhes das distribuições de dividendos e ações
Nvidia (NVDC34) tem resultados acima do esperado no 3T25 e surpreende em guidance; ações sobem no after market
Ações sobem quase 4% no after market; bons resultados vêm em meio a uma onda de temor com uma possível sobrevalorização ou até bolha das ações ligadas à IA
