A missão de Marta Ortega à frente da Inditex (ITX) não será fácil. A herdeira da Zara tem pela frente o desafio de conduzir um dos maiores grupos de vestuário do mundo nos mares revoltos da guerra entre Rússia e Ucrânia e dar continuidade a duas gestões vencedoras: a de seu pai, Amancio Ortega, e a de Pablo Isla, atual CEO da empresa.
Isla, que assumiu a presidência da Inditex quando Amancio se aposentou em 2011, afirma que tem esperança no trabalho que Marta fará daqui para a frente, principalmente em relação à sustentabilidade no mundo da moda.
Mas o mercado recebeu a notícia da mudança de controle da Zara com apreensão. No dia do anúncio, em 30 de novembro do ano passado, as ações da Inditex na Bolsa de Madri recuaram mais de 6%.
Desde então até o último dia 4, os papéis da companhia acumulam perda de 27% - período no qual o Índice Geral da Bolsa de Valores de Madri caiu 6,2%.
A Zara na guerra
Além de convencer o mercado de que pode manter o sucesso das gestões anteriores, Marta tem um desafio ainda maior no momento.
Embora a dona da Zara tenha conseguido, durante a pandemia do novo coronavírus, redirecionar as vendas das lojas físicas para o canal on-line, a guerra entre Rússia e Ucrânia comprometeu as vendas no leste europeu.
No sábado (05), a varejista de moda espanhola anunciou o fechamento de suas 502 lojas e a interrupção das vendas on-line, seguindo os mesmos passos de sua principal rival, a H&M.
A decisão, no entanto, não foi fácil. Ao todo, a Inditex soma 502 lojas só na Rússia - que responde por cerca de 8,5% do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) global do grupo.
Na Polônia, principal destino dos refugiados no conflito, a empresa tem 233 pontos, quase tanto quanto na França, onde soma 270 lojas.
Para se ter uma ideia da importância do leste europeu, no Brasil, são apenas 54 pontos de venda - 46 Zara e oito Zara Home.
Veja os desdobramentos da invasão da Rússia à Ucrânia:
Quem é Marta Ortega?
Marta Ortega, de 38 anos, trabalha na Inditex há 15 anos, ocupando uma posição discreta.
"Na primeira semana pensei que não iria sobreviver", contou a herdeira em entrevista à WSJ Magazine. "Mas depois desenvolve-se um vício pela loja. Algumas pessoas nunca querem sair. É o coração da empresa".
A filha caçula de Amancio Ortega ficou conhecida por se dedicar quase exclusivamente à introdução de coleções premium e à gestão de imagem da Zara, uma das grandes marcas do grupo, em conjunto com a Bershka, a Stradivarius, a Pull & Bear, entre outras.
Em 2018, Marta supervisionou o lançamento da SRPLS, a linha premium da Zara que consiste em coleções bianuais de peças de inspiração utilitária e streetwear, com preços entre os 80 e os 200 euros.
"Não deveriam ser apenas algumas pessoas a ter acesso à moda de boa qualidade. Queremos que todos os nossos clientes tenham a oportunidade de desfrutar dela", afirmou.
A herdeira da Zara, no entanto, não escapou de acusações de roubo de designs. Sobre isso, ela pouco falou.
"Penso que temos a nossa própria identidade. E temos desenvolvido novos produtos a partir do zero há muito tempo", disse.