Em agosto, a Infracommerce (IFCM3) anunciou um aumento de capital privado com os próprios acionistas para alcançar maior equilíbrio financeiro e organizar as contas. O plano era levantar pelo menos R$ 170 milhões, mas a estratégia da empresa provou-se acertada e o aumento chegou ao valor máximo de R$ 400,8 milhões, com adesão total.
Para atrair os acionistas, a plataforma de e-commerce ofereceu um desconto de 35% no preço da ação em relação às cotações na B3 na época do anúncio. Os recursos devem ser usados principalmente para pagar dívidas da Infracommerce, que aumentaram consideravelmente desde o IPO para financiar o plano de aquisições.
Participaram do negócio a Engandin Investments, a Núcleo Capital, a Compass e a Megeve, que já haviam garantido o aporte mínimo de R$ 170 milhões desde o anúncio.
A opção por fazer um aumento de capital no lugar de tomar novas dívidas no mercado também deve ajudar a companhia a chegar a um patamar mais do que desejado: dar lucro.
"Tínhamos coisas para pagar num contexto de juros altos, então resolvemos fazer um aumento de capital para equilibrar nossa estrutura de capital e ter certeza de que vamos continuar crescendo", disse Fábio Bortolotti, diretor de internacionalização e de relação com os investidores da Infracommerce em entrevista recente ao Seu Dinheiro.
Segundo ele, essa foi a saída mais viável e simples para solucionar a questão, com o cuidado de não diluir substancialmente a participação dos acionistas que não aderirem à operação.
Há alguns dias, a Infracommerce também havia tirado outro problema da frente quando renegociou o prazo de pagamento de dívidas de M&As, o que representa uma economia de R$ 235 milhões neste ano.
Tais movimentos também devem favorecer a empresa na busca por investidores pessoa física interessados no papel. Em novembro termina o prazo de 18 meses de restrição da negociação das ações da companhia para essa classe de investidor. A limitação ocorre porque o IPO da empresa foi feito por meio de uma oferta restrita de ações, destinada a investidores profissionais e institucionais.
Com uma saúde financeira melhor, os papéis podem conquistar o público do varejo com mais facilidade.
O histórico de aquisições da Infracommerce (IFCM3)
Desde que chegou à B3 em maio do ano passado, a Infracommerce investiu em um plano ambicioso de crescimento via aquisições, financiado principalmente com os R$ 870 milhões que vieram com o IPO.
A prioridade era crescer rápido, mesmo que o lucro ficasse para depois.
De lá pra cá, a empresa fez quatro compras, sendo uma delas na casa do bilhão de reais. Nesse meio tempo, porém, a Infracommerce acabou enfrentando dois ventos contrários: a alta dos juros e o fechamento do mercado de capitais para novas ofertas de ações.
Isso também ajuda a entender os motivos que levaram a companhia a pedir dinheiros aos seus atuais acionistas, em busca de maior equilíbrio financeiro.
O mercado já andava atento
Tantas aquisições acenderam um alerta para alguns analistas, preocupados com a saúde financeira da Infracommerce.
Segundo o comunicado arquivado na CVM em agosto, o preço da ação da companhia na operação seria de R$ 5,01, um desconto de 35% se considerado o fechamento anterior.
"É difícil dizer que uma diluição desse tamanho a um preço ~35% abaixo do preço atual da ação é boa, mas dada a alavancagem muito alta (e seu grande impacto negativo no balanço patrimonial, especialmente com taxas de juros tão altas) esta é provavelmente a melhor maneira de resolver o problema", escreveram os analistas do BTG Pactual em relatório na época.
No mesmo documento, o BTG Pactual comentou o nível de alavancagem da empresa, que aumentou consideravelmente após aquisições tidas como "ousadas" pelos analistas do banco.
A dívida líquida da Infracommerce fechou o mês de junho num total de R$ 250,5 milhões — um claro alerta da situação financeira da empresa. Somando os R$ 286,7 milhões que a empresa precisa para pagar algumas aquisições no próximo ano, a dívida líquida sobe para R$ 647,5 milhões, de acordo com os cálculos do BTG Pactual.
Agora parece que, enfim, a Infracommerce vai poder respirar um pouco mais aliviada. Segundo Fábio Bortolotti, a ideia é frear o ritmo de fusões e aquisições, prezando pela saúde financeira da empresa. Novas compras acontecerão somente em caso de oportunidades muito boas e específicas.
A reação dos papéis IFCM3
Os investidores parecem animados com a conclusão do aumento de capital privado da Infracommerce. Há pouco, as ações IFCM3 subiam 5,16%, cotadas a R$ 5,71. No ano, a baixa é de 65,23%.
De acordo com dados compilados pela plataforma TradeMap, das oito recomendações para o ativo, seis são de compra, um é de manutenção e um é de venda.